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Fazendeiros salvam animais selvagens que seriam vítimas da caça na África

26 de setembro de 2017
4 min. de leitura
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Um casal de fazendeiros, Willie e Anna de Graaff, decidiu defender a vida dos animais carnívoros e, para isso, criou o projeto Proteção aos Predadores, dentro da Reserva de Vida Selvagem Kalahari Central, em Botsuana, na África, da qual os dois são proprietários. O objetivo deles é impedir a matança de animais como leões, que entram em propriedades à procura de alimento e são ameaçados pelas armas dos funcionários dos donos das terras. Com uma extensão de 52.800 quilômetros quadrados, o tamanho da reserva equivale ao estado brasileiro do Rio Grande do Norte.

Os leões vivem em segurança na reserva (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)

Convencer os fazendeiros vizinhos a avisar o projeto sobre a presença de um animal, ao invés de atirar nele, foi o primeiro passo do casal para iniciar os resgates.

Para realização das ações, Willie e Anna contam com dois carros Land Rovers abertos e uma equipe treinada, composta por habitantes do local da etnia naro, que vivem na região há milênios e conhecem com intimidade todos os hábitos dos animais. Munidos de redes grossas, eles resgataram dezenas de leões, cachorros-selvagens e alguns leopardos.

“Não é um trabalho fácil capturar um leão em pleno movimento. Ainda bem que o terreno plano nos ajuda e que não falta coragem aos naros”, afirma Willie. “Um leão de mau humor, achando que queríamos caçá-lo, chegou a dar várias mordidas na carroceria do Land Rover, perfurando-a como se seus dentes fossem um abridor de latas”, conta.

Os leões do deserto de Kalahari são considerados os maiores e mais fortes da espécie, tendo seu porte atlético creditado às longas distâncias percorridas por eles. As informações são da Revista Época.

O casal Anna e Willie de Graaff criou o projeto Proteção aos Predadores (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)

Após serem resgatados, eles são levados para recintos cercados, onde ficam até que o Departamento de Vida Selvagem e Parques Nacionais de Botsuana autorize a transferência para outras reservas onde a espécie é escassa. Entretanto, devido à lenta burocracia, os trâmites para o transporte dos animais podem demorar. “Já tivemos 32 leões aqui. Hoje temos apenas 12. O importante é que salvamos a vida de todos os leões que resgatamos na região”, comemora.

A reserva abriga também matilhas de cachorros-selvagens-africanos. “Aqui temos 41 animais e estamos esperando a autorização para que 35 possam ser transferidos para a Reserva de Vida Selvagem Moremi, no Delta do Okavango”, diz.

Quarenta e um cachorros-selvagens-africanos vivem na reserva (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)

Os animais que vivem na reserva no deserto do Kalahari poderiam ter sido assassinados se não fossem resgatados, entretanto, não vivem em liberdade total, o que tem gerado controvérsias no país.

Prática cruel: caça de troféus

Há países da África em que o tráfico de animais entre reservas é recorrente. A prática tem o objetivo de explorar os animais para a chamada caça de troféus, por meio da qual o caçador pode satisfazer seu desejo sádico de matar um dos cinco maiores mamíferos da África, conhecidos como os “Big Five”.

Um exemplo desta prática cruel aconteceu em julho de 2015, quando o dentista americano Walter Palmer assassinou o famoso leão Cecil. Para isso, ele teria pago U$ 54 mil. Para caçar um leopardo e um rinoceronte-negro, licenças nos valores de U$ 200 mil e U$ 350 mil, respectivamente, devem ser pagas.

Cecil foi assassinado em 2015 pelo dentista americano Walter Palmer (Foto: Slate)

A proposta desumana e inaceitável de colocar preço em uma vida, com licenças de altos valores, pode, inclusive, falar mais alto do que a consciência de empregados de reservas – que passam a fazer vista grossa aos caçadores – e de proprietários de reservas particulares, que lucram com o tráfico de animais selvagens.

O projeto Proteção aos Predadores está dentro das regras do Departamento de Vida Selvagem e Parques Nacionais de Botsuana. No entanto, em 2013, o irmão de Willie, o ex-ministro da Agricultura Christian de Graaff, foi acusado de tráfico de animais silvestres. Ele teria levado leões para reservas particulares sul-africanas que organizam caçadas de troféus. Os irmãos vivem há 100 quilômetros de distância um do outro e, segundo Willie, não possuem negócios em comum.

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