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Superbactérias causadas pela agropecuária matam 10 milhões de pessoas todos os anos

4 de setembro de 2017
3 min. de leitura
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Superbactérias
Foto: Rex

Um relatório pedido pelo governo do Reino Unido em 2016 estimou que 10 milhões de pessoas podem morrer todos os anos em todo o mundo até 2050 devido ao surgimento das superbactérias, o que fez o primeiro-ministro David Cameron anunciar uma repressão à prescrição excessiva feita por médicos e conduzir os esforços para enfrentar o problema na ONU.

As bactérias resistentes ao antibiótico usado como “último recurso”, a colistina, foram descobertas no Reino Unido em Dezembro de 2015, após constatações semelhantes em partes da Europa, África e China. A ameaça à saúde humana tem sido comparada às mudanças climáticas e à guerra nuclear.

Há preocupações sobre o fornecimento de antibióticos aos animais explorados pela indústria agropecuária, sendo que a União Europeia proibindo fazendeiros de usá-los para aumentar o crescimento dos animais.

O novo estudo, realizado por cientistas da Dalian University of Technology in China, revelou outra fonte do problema relacionado à produção de alimentos: genes resistentes a antibióticos contidos em farinha de peixe, farinha de carne e osso e farinha de frango.

Os cientistas disseram que a farinha de peixe – “uma das commodities mais vendidas globalmente” – servia como “um veículo para promover a propagação de genes resistentes aos antibióticos internacionalmente”.

Isso pode ajudar a explicar por que bactérias resistentes têm surgido em lugares inesperados em todo o mundo, como em cavernas isoladas e em gelo permanente do subsolo.

“Nosso estudo implica que a alimentação prolongada e repetida com farinha de peixe pode acelerar o surgimento de bactérias resistentes aos antibióticos e até mesmo de agentes patogênicos”, escreveram os pesquisadores na revista Environmental Science & Technology.

Eles apontaram que aparentemente a farinha de peixe possui “um impacto previamente subestimado” na resistência aos antibióticos em sedimentos abaixo das fazendas de peixes, o que tinha sido amplamente atribuído à utilização de drogas nos animais.

“Além da produção de maricultura, a farinha de peixe também é largamente dada a bois e vacas, aquicultura ou fertilizante orgânico e, portanto, a farinha de peixe residual em ecossistemas relacionados merece mais atenção no que se refere ao seu impacto sobre a resistência das bactérias, mesmo na ausência de profilaxia ou o uso terapêutico de antibióticos”, alertaram os cientistas.

Eles comentaram sobre a necessidade de mais pesquisas para avaliar os riscos para os seres humanos.  Os genes resistentes aos antibióticos foram encontrados em produtos de proteína de farinha de peixe disponíveis para a venda na China, no Peru, na Rússia, no Chile, na Austrália e nos EUA.

A descoberta do primeiro antibiótico, a penicilina, na década de 1920 foi um dos maiores avanços médicos e transformou Sir Alexander Fleming em um herói internacional, embora Howard Florey, Ernst Chain e colegas da Oxford University realmente tenham transformado a penicila em uma droga para salvar vidas.

Anteriormente, um pequeno corte podia ser fatal caso houvesse infecção, mas os antibióticos forneceram um tratamento simples e altamente eficaz. A penicilina também foi a primeira cura para a sífilis. Sem os antibióticos, cirurgias maiores, como cesarianas, transplantes de órgãos e quimioterapia contra o câncer podem ter um risco muito maior,  segundo a Organização Mundial da Saúde.

Kevin Hollinrake, um deputado conservador que falou sobre os perigos da resistência aos antibióticos, pediu ao Governo que continue a enfatizar a questão. “Não podemos nos dar ao luxo de deixar isso ficar no banco traseiro. Está lá em cima com o aquecimento global e com o apocalipse nuclear, é desse nível”, disse ele à reportagem do Independent.

Ele disse que o problema deve ser visto como “a nova Morte Negra”, uma praga que matou milhões de pessoas no século 14, considerando as descobertas do relatório de 2016 do economista Lord Jim O’Neill.

Hollinrake disse que a pesquisa mostrou a necessidade de uma ação internacional, já que a resistência aos antibióticos é disseminada por “muitos mecanismos diferentes”.

“Precisamos resolver a quantidade de antibióticos utilizados na agropecuária”, disse.

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