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Águias são assassinadas para serem comercializadas por traficantes

26 de agosto de 2017
6 min. de leitura
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Durante um ano e meio, o agente do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos, que se apresentava como colecionador de artesanato e antiguidades, comprou partes de águias de Fairbanks, para construir um caso contra o autodeclarado “melhor homem de penas no Meio-Oeste” pela venda de águias e outras aves protegidas, segundo documentos legais.

Águia morta
Foto: Amber Bracken

Nesta ocasião, em 3 de Fevereiro de 2016, Fairbanks convidou o agente para ir até a sua casa e conversar sobre as últimas ofertas. Estavam à venda asas de águias mantidas em uma mala e em gavetas de uma cômoda; palitos de madeira com cabeças de águias; pés das aves guardados no porão e plumas penduradas nas paredes (o tipo usado pelos nativos americanos para danças). O agente pagou mais de US$ 800 pelas várias partes das aves.

Mais recentemente, o Departamento de Justiça dos EUA anunciou que processou Fairbanks, um membro das tribos Standing Rock e Lower Brule Sioux, que possui uma companhia de dança nativa norte-americana chamada Buffalo Dreamers, pelo tráfico de animais selvagens, entre outras violações das leis federais.

Fairbanks enfrenta uma pena máxima de 25 anos de prisão e uma multa de mais de US$ 2 milhões. De acordo com a acusação, Fairbanks vendeu milhares de dólares em mercadorias ao agente, incluindo uma cabeça (US$ 250), um conjunto de asas (US$ 600) e um objeto tribal feito de penas das aves (US$ 1000 e algumas garras de ursos pretos).

A operação Dubbed Project Dakota Flyer é a mais recente em uma série de investigações no mercado negro sobre penas e partes de águias vendidas na América do Norte e em outros locais. Fairbanks é um dos 15 réus acusados ​​por infringir estatutos de proteção das águias carecas,  águias douradas e outras aves migratórias da caça e da exploração.

“Este caso era sobre a ganância – aqueles que comercializavam águias para ganhar dinheiro”, ressalta Steven Oberholtzer, agente especial encarregado da aplicação da lei em oito estados em Rocky Mountains e em High Plains.

O comércio dos animais pode afetar a recuperação das águias carecas, o símbolo nacional dos Estados Unidos, e impulsionar o declínio das águias douradas, uma das aves de rapina mais impressionantes do país.

Corpo de águia
Foto: Amber Bracken

As águias carecas têm prosperado na natureza e foram retiradas da lista de espécies ameaçadas de extinção em 2007, após o controle da população e a proibição do pesticida DDT, que contaminou as presas das aves e causou quedas bruscas no número de animais na década de 1960. Uma estimativa do Serviço de Pesca e Vida Selvagem calculou a população em 140 mil indivíduos em 2016, um aumento de 14% em relação a 2007, quando a última avaliação foi feita.

A situação é muito mais delicada para as águias douradas. Restam apenas 40 mil delas na natureza. Os biólogos esperam que elas continuem diminuindo no Ocidente. Entre as principais ameaças que enfrentam estão milhares de turbinas eólicas, linhas de energia, perda de habitat e envenenamento por chumbo causado pela munição dos caçadores ingerida pelas aves. A caça para abastecer o comércio de penas eleva as pressões sobre as águias douradas. conforme mostra a reportagem da National Geographic.

A escala do comércio é desconhecida, mas os dados do Serviço de Pesca e Vida Selvagem fornecem uma pista: os agentes documentaram quase 90 violações nas vendas de águias ou de suas partes entre 2006 e 2016 infringindo a Lei de Proteção da Águia Careca e Dourada, que também proíbe o assassinato, a compra e a posse de suas partes.

Porém, os agentes não registram todas as violações. Além disso, o número não diz respeito às violações registradas segundo a Lei do Tratado sobre Aves Migratórias ou a Lei Lacey – que também proíbem o comércio das águias.

Pena de águia
Foto: Amber Bracken

Embora a agência não saiba quantas águias são caçadas para o comércio, as autoridades informam que as partes oferecidas pelos réus do Project Dakota Flyer vieram de cerca de 100 aves.

Com o crescimento das mídias sociais e outros avanços digitais, o comércio ficou mais sofisticado, de acordo com Oberholtzer. Ele diz que muitas penas e partes de águia e peças são transformadas em objetos nativos americanos feitos para colecionadores de arte na América do Norte ou na Europa. Outras partes são usadas pelos próprios membros das tribos: os nativos americanos “veneram” as águias há muito tempo e e as incorporaram ao vestuário.

De acordo com a legislação norte-americana, os membros das 567 tribos reconhecidas pelo governo federal podem solicitar uma licença do Serviço de Pesca e Vida Selvagem para matar águias na natureza, mas as licenças raramente são emitidas. A isenção está em vigor desde 1962 e uma licença concedida em 2012 à tribo Arapaho do Norte de Wyoming foi a primeira a autorizar a caça de águias carecas.

Os nativos americanos também podem se inscrever para receber partes dos animais do National Eagle Repository, um centro de águias mortas no Colorado que foi criado em 1974 para comunidades tribais. A demanda por partes de águias sempre ultrapassa a oferta. Os candidatos podem aguardar anos para receber partes dos animais e ingressar no mercado negro, diz Harold Salway, chefe da Oglala Lakota na reserva indígena Pine Ridge em Dakota do Sul.

São oferecidos prêmios em dinheiro durante os pow wos – reuniões realizadas pelos povos nativos da América do Norte – e as comunidades usam penas de águias.

Pow wows incentivam o comércio de penas e partes de águia
Pow wows incentivam o comércio de penas e partes de águia/ Foto: Amber Bracken

Os juízes avaliam os concorrentes não só pela forma com que dançam, mas também pela maneira com que se vestem e as penas de águias são adornos usados pelos participantes que atribuem também um significado espiritual à prática.Jim Red Willow, membro do comitê executivo da Oglala Lakota, diz que a tribo usa partes de águias em cerimônias espirituais e celebrações de conquistas.

Algumas tribos já começaram a lidar com a questão por conta própria. Sete, incluindo a Pueblo de Zuni e a Tribo de Iowa de Oklahoma, receberam licenças do governo para criar aviários para águias feridas – consideradas uma boa fonte de penas.

Quanto aos acusados do Project Dakota Flyer, nada sugere qualquer traço de espiritualidade. As partes das águias foram colocadas em troncos, sacos de lixo e congeladores, de acordo com Randy Seiler, advogado distrital de Dakota do Sul. Os preços foram informados e uma oferta foi feita para caçar os animais.

Fairbanks comparecerá ao tribunal em Novembro e os julgamentos da maioria dos outros 14 réus estão agendados durante o outono. Cerca de 50 outras pessoas também podem ser acusadas.

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