EnglishEspañolPortuguês

Governo das Ilhas Maurício sentencia milhares de macacos a uma vida miserável em laboratórios

13 de julho de 2017
5 min. de leitura
A-
A+

Porém, esse lugar idílico também possui uma realidade infame: a exploração de sua população de macacos em testes.

Macacos submetidos a experimentos
Foto; Reprodução, The Cambodia Daily

A região é um dos maiores contribuintes mundiais do terrível comércio que fornece primatas não humanos para experimentos. Em 2016, 8245 macacos de cauda longa foram exportados de Maurício para os EUA, Canadá e para a Europa. Destes, 3522 foram enviados para os EUA, o maior importador de macacos do local.

Em Maurício, o macaco de cauda longa (Macaca fascicularis) vive em liberdade. Entretanto, a espécie não é considerada indígena, apesar de estar bem estabelecida na ilha há cerca de 400 anos.

Ainda que as espécies estejam listadas no Apêndice II da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens (CITES), não há leis para proteger os primatas da ilha. Pelo contrário: eles são amplamente perseguidos e explorados.

Historicamente, os macacos foram presos na natureza para serem enviados ao  exterior. Após o ultraje internacional referente ao comércio de primatas capturados nas florestas, dezenas de milhares de primatas são mantidos em fazendas em toda a ilha. Muitos desses animais foram capturados na natureza e agora vivem confinados nas fazendas e são explorados para reprodução.

Privados de sua liberdade, eles passam suas vidas atrás das grades, no concreto. Seus descendentes são transportados como “mercadorias” em pequenas caixas de madeira em aviões para laboratórios em todo o mundo.

O turismo é fundamental para a economia de Maurício e contribui significativamente para o crescimento econômico da região. Maurício também promove sua imagem como um destino turístico verde e ecológico.

No entanto, sua reputação como um país onde o meio ambiente é valorizado está sendo colocada em risco pela exportação de macacos para experimentos cruéis. Além disso, ocorreu a introdução de regulamentos recentes que, pela primeira vez, permitirão que esses testes sejam realizados na própria ilha. A principal espécie abusada nas pesquisas será a população de macacos de cauda longa do país.

É evidente que, se um país impõe um tratamento cruel aos animais, isso possui um efeito negativo muito forte no turismo.

Outro fator que deve ser considerado e que é igualmente intrigante é que o hinduísmo é a maior religião da ilha. O país possui a terceira maior porcentagem de hindus no mundo após o Nepal e a Índia.

Lord Hanuman, o Deus dos macacos, é um dos ídolos mais populares da religião hindu e é adorado como um símbolo de força física, perseverança e devoção. O comércio de primatas em Maurício é nitidamente contrário ao próprio conceito de cultura e sociedade hindus que destaca a igualdade espiritual entre todos os seres vivos.

Existe o temor de que a introdução de experimentos em animais em Maurício irá oferecer um novo mercado para as empresas de criação de primatas e uma reação aos problemas com as companhias aéreas que se recusam a transportar primatas para fins de pesquisa, às imposições  mais severas quanto à importação de primatas dentro da União Europeia e uma crescente preocupação do público com o uso de primatas em pesquisas.

Pesquisadores e empresas que abusam de animais podem viajar para Maurício para realizar pesquisas que não seriam permitidas nos seus países.

Ao observarmos os novos regulamentos sobre experimentos, é possível notar que seções substanciais foram simplesmente retiradas da legislação da União Europeia e do Reino Unido, mas isso não foi feito de forma consistente, por isso há lacunas e contradições. Por exemplo, não existe provisão para inspeções governamentais em laboratórios.

Também não existem regras sobre a habitação, o meio ambiente e o enriquecimento que devem ser dados aos animais. Além disso, a transparência e a responsabilização parecem ausentes porque, ainda que existam exigências para que os pesquisadores enviem relatórios ao governo, não há instruções para que o governo disponibilize esses dados ao público posteriormente.

O macaco de cauda longa é a espécie de primata mais comercializada para pesquisas em todo o mundo e o mamífero mais comercializado na base de dados da CITES.

Nos laboratórios, esses animais enfrentam um enorme sofrimento, incluindo os efeitos de envenenamentos (como vômitos, hemorragias internas, perda de peso, insuficiência de órgãos e até mesmo a morte) depois de serem obrigados a consumir grandes quantidades de produtos químicos ou drogas em testes de toxicidade ou serem submetidos a cirurgias cerebrais, terem os crânios cortados e dispositivos implantados em seus cérebros.

Exemplos de pesquisas recentes realizadas em macacos de cauda longa nos EUA mostram um cenário perturbador: experimentos que tentaram simular ferimentos militares traumáticos, vício em drogas recreativas, como álcool e cocaína, injeções com fenciclidina e inalação forçada de fumaça de cigarro durante diversas horas diárias (para alguns macacos isso era equivalente a uma pessoa fumar quatro pacotes de cigarros por dia).

O desenvolvimento de métodos alternativos ao uso de animais é um setor crescente e pioneiro. Atualmente, existem várias abordagens mais humanas e eficazes e os testes em animais têm sido substituídos em setores de testes de toxicidade, neurociência e desenvolvimento de drogas.

Essas alternativas incluem culturas de células, tecidos e órgãos; métodos que utilizam química, computadores ou máquinas de imagem e estudos éticos e altamente eficazes com voluntários humanos.

“A Cruelty Free International luta para acabar com essa exploração cruel dos macacos de Maurício. Acreditamos que o foco de Maurício deve ser nas novas tecnologias de experimentos sem animais e instamos que o país se torne  pioneiro e adote alternativas humanas e inovadoras”, declarou Sarah Kite, diretora da organização, no Alternet.

“A imagem de Maurício no exterior já está manchada devido ao seu papel no cruel comércio internacional de macacos para pesquisas. Permitir que experiências em animais aconteçam terá um impacto negativo adicional e provavelmente gerará protestos maiores”, concluiu.

Segundo ela, a campanha da Cruelty Free International recebeu um amplo apoio de todo o mundo, inclusive em Maurício, por cientistas, especialistas na vida selvagem, políticos, grupos socioculturais e membros do público. O político indiano Maneka Gandhi e a  primatóloga de renome internacional Jane Goodall também manifestaram suas preocupações.

Você viu?

Ir para o topo