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O sofrimento dos bebês chimpanzés e orangotangos explorados em circos asiáticos

26 de abril de 2017
7 min. de leitura
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Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais

Foto: ONG chinesa que preferiu permanecer anônima

Depois de 146 anos de operação, o Ringling Bros. and Barnum & Bailey está fechando seus circos devido à queda do público. Esse declínio nos negócios reflete um sentimento crescente entre os norte-americanos sobre a crueldade dos circos com animais, diz Julia Gallucci, uma primatóloga que trabalha para a PETA.

Porém, essa percepção não ocorre em muitas partes da Ásia, onde certos países observam um aumento dos circos e outras formas de entretenimento que exploram animais.

Um número crescente de zoológicos asiáticos e parques de safári têm montado produções em grande escala com grandes primatas – jovens chimpanzés e orangotangos comumente são forçados a posar com os visitantes em fantasias ridículas ou a imitar comportamentos humanos, como dançar e patinar para entreter o público . Em contraste, o Ringling parou de usar macacos na década de 90.

Sequestrados da natureza

Muitos dos animais obrigados a se apresentar na Ásia foram, e continuam sendo, sequestrados da natureza ainda bebês.

A TRAFFIC, uma rede internacional de monitoramento do comércio de animais selvagens, publicou recentemente um relatório detalhando a demanda de macacos em atrações na Malásia Peninsular e na Tailândia. Ele mostra que uma proporção significativa de grandes macacos nestas atrações é selvagem ou de origem desconhecida, de acordo com a reportagem do Mongabay.

Os autores descobriram, por exemplo, que enquanto 57 instalações tailandesas exibiram 51 orangotangos, os seus registros só indicavam 21 animais.

Foto: Fonte Anônima

Da mesma forma, um grupo de proteção animal baseado na China – que prefere o anonimato devido ao andamento de investigações secretas – acredita que a maioria dos grandes macacos em shows de animais chineses era selvagem. Na verdade, alguns shows até mesmo divulgam que os chimpanzés explorados começaram suas vidas na África.

Embora dois ministérios chineses proíbam o uso de animais em circos, a organização registrou 11 parques safári chineses ou zoológicos abusando de chimpanzés em performances. Destes, pelo menos seis apresentaram chimpanzés selvagens.

Daniel Stiles administra o grupo Project to End Great Ape Slavery (PEGAS) e investiga o comércio de grandes primatas há quatro anos. Desde 2013, ele fez várias viagens ao Oriente Médio, China e ao Sudeste Asiático, onde observou um aumento de shows de circo com chimpanzés e orangotangos.

Os shows de circo chineses são os mais sofisticados e de grande escala e atraem multidões, diz Stiles. Durante o recente Ano Novo Chinês, o Grupo Chimelong teria recebido 30 milhões de visitantes em seus parques em um único dia.

Animais traumatizados

Os grandes primatas ficam traumatizados quando são capturados ainda bebês na África para serem traficados (muitas vezes sem alimentos ou cuidados adequados) para a Ásia. Eles são posteriormente enviados para zoológicos, circos e parques de animais em condições terríveis: privados de atenção adequada, afeto e da companhia de outros macacos, algo que é necessário para o desenvolvimento saudável dessas espécies sociais. Para piorar, precisam enfrentar métodos severos de treinamento.

Os bebês são excepcionalmente vulneráveis e o primeiro ano de vida é fundamental para um desenvolvimento saudável, explica Stephen Ross, diretor do Centro Lester E. Fisher para o Estudo e Conservação de Macacos no Lincoln Park Zoo, em Chicago.

Foto: ONG chinesa que preferiu permanecer anônima

Os treinadores asiáticos tipicamente usam jovens chimpanzés e orangotangos com apenas alguns meses de idade para tirar fotos com o público. Conforme crescem, eles são treinados para atuar em shows que apresentam truques não naturais que variam desde lutas de boxe até danças em círculos.

Os chimpanzés são aprendizes sociais e, por isso, os jovens em cativeiro muitas vezes imitam os comportamentos dos seus detentores. No entanto, Gallucci e Ross apontam que o treinamento exigido para shows coreografados quase sempre abusam dos animais.

Stiles concorda: “Para treinar esses animais para realizar truques, os detentores quase certamente [precisariam] bater neles para deixá-los submissos, recompensando o bom comportamento com a comida, o que significa que eles não estão apenas traumatizados: também estão subalimentados”.

Ross estudou extensivamente o comportamento de chimpanzés em cativeiro em comparação com chimpanzés criados em ambientes domésticos ou forçados a atuar em performances em relação aos comportamentos exibidos por animais que tiveram maior exposição a outros chimpanzés enquanto jovens.

Foto: PEGAS

Ele descobriu que os chimpanzés adultos criados por pessoas, e com exposição limitada a outros macacos, são menos extrovertidos quando se tornam adultos – mesmo depois de desfrutarem de melhores condições por anos, como as oferecidas por santuários. Essa tendência à introversão perturba a habilidade do animal de socializar corretamente com outros chimpanzés. A perda de habilidades selvagens significa que não existe uma chance de estes primatas serem devolvidos em segurança à natureza.

À medida que os macacos envelhecem, tornam-se menos desejáveis aos seus explorados. Os primatas adultos são mais difíceis de controlar e também mais fortes.

A TRAFFIC questiona o que acontece com os primatas explorados como entretenimento na Ásia, uma vez que entram na fase de “aposentadoria”. O fotojornalista e investigador Karl Ammann diz que os animais são mantidos em pequenas e solitárias gaiolas e outros simplesmente desaparecem. Os afortunados passam o resto da vida em santuários.

A escala do tráfico

Foto: The Chimelong Safari Park

Acredita-se que o tráfico de grandes macacos seja amplamente subestimado e sua natureza geralmente ilegal torna difícil quantificá-lo. Em um relatório de 2013, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) identificou 1.808 grandes primatas sequestrados da natureza entre 2005 e 2011, mas esses foram apenas os casos documentados.

Certamente, um número muito maior de animais entrou no mercado negro sem deixar rastros. Da mesma forma, vários estudos mostram que mais animais morrem durante a caça ou em trânsito do que aqueles que são localizados.

Em seu relatório, a TRAFFIC observa que “o número de primatas traficados pode ser muito menor do que a quantidade que morre no processo de captura e trânsito com o consumidor final.” A organização afirma que as mortes ocorrem em todas as fases da cadeia, desde a captura, passando pelo trânsito, até a chegada ao comprador final.

O documento do PNUMA concorda com esses pontos: “É provável que esses números sejam de fato uma diminuição grosseira do impacto real do comércio”. Para melhorar o monitoramento, o PNUMA insta os governos e ONGs a trabalhar em conjunto para manter e compartilhar registros.

Quando se trata de chimpanzés selvagens, um grande número de adultos são mortos para cada bebê capturado. Uma investigação da BBC descobriu que 10 chimpanzés adultos são tipicamente mortos quando um bebê é arrancado da natureza. O UNEP concluiu que até 15 grandes primatas morrem para cada indivíduo que entra no comércio.

Os adultos são geralmente baleados e processados como carne de caça para consumo local ou a carne é enviada para cidades urbanas e, possivelmente, para lugares distantes como a Europa. Os crânios e outras partes do corpo dos adultos também são vendidos e transportados por meio dessa cadeia de fornecimento ilícito.

O tráfico de primatas é um problema que se agrava em países como o Camarões, conforme a atividade humana se expande para grandes habitats dos animais. A exploração madeireira e a transformação de florestas em plantações de óleo de palma ameaçam os animais na África e no Sudeste Asiático. Caçadores fortemente armados perseguem os primatas para vendê-los a redes criminosas de tráfico.

O UNEP estima que o comércio tenha removido até 22.218 primatas da natureza entre 2005 e 2011. Estima-se que 64% deles eram chimpanzés, enquanto 56% eram orangotangos.

Os chimpanzés, com quem compartilhamos 98% de nosso DNA, estão em perigo, com uma população global de apenas 150 mil animais, segundo o World Wildlife Fund (WWF).

Já os orangotangos estão criticamente ameaçados e a WWF estima que restam pouco menos de 120 mil deles na natureza. No entanto, a Orangutan Foundation International aponta que os números reais podem ser consideravelmente mais baixos.

De maneira preocupante, o PNUA acredita que o grande tráfico de macacos continua crescendo em detrimento das populações selvagens. Parte desse crescimento é alimentada pela alta demanda de primatas jovens como animais domésticos (muitas vezes no Oriente Médio) ou como animais usados como entretenimento na Ásia.

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