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ONG promove ação de controle populacional de gatos em estação do metrô de SP

9 de fevereiro de 2017
5 min. de leitura
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Bicho Brother
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Foto: Divulgação

Foram cinco meses de preparação e negociações. Em setembro do ano passado, a protetora Ana enviou um e-mail para a ONG Bicho Brother relatando que outra protetora, Dona Sônia, uma pensionista, pediu empréstimo em um banco para construir um cômodo a mais em sua casa. A intenção: abrigar os gatos da Estação Bresser do Metrô que estavam “sendo expulsos”. Isso chamou atenção dos dirigentes da ONG especializada em controle ético da população de gatos de rua através do método de Captura, Esterilização e Devolução (CED). A ONG passou a investigar o caso.

“A situação era ruim, a empresa de estacionamentos Maxipark arrendou um grande terreno da Companhia do Metropolitano de São Paulo e proibiu as protetoras de ter acesso aos pontos de alimentação dos gatos. As protetoras entraram em desespero e procuraram a ONG. Fizemos contato com o departamento jurídico da empresa para saber os motivos da animosidade em relação às cuidadoras. Os motivos são os mesmos de sempre: cocô e carro arranhado. Algo contornável. Mantivemos diálogo. Em um dos e-mail a empresa desejava agendar uma reunião com vistas à remoção dos gatos do local. Alertamos a empresa para não tomar nenhuma atitude impensada que colocasse a vida dos animais em risco”, conta Eduardo Pedroso, agente de CED e um dos gestores da ONG.

“Não é assim que a banda toca. Gatos de colônia não devem ser removidos. Em primeiro lugar porque não se adaptam a locais fechados, a maioria tem temperamento difícil e não são dóceis, colocam em risco a integridade física de quem os manuseia, de outros animais e deles mesmos. Depois a imunidade desses animais cai vertiginosamente e doenças preexistentes podem se tornar sintomáticas. Há muitos outros inconvenientes em remover gatos de uma colônia. Os abrigos das ONGs sérias estão superlotados, e muita vezes os animais que estavam saudáveis em seu espaço original acabam sendo despejados em casas de acumuladoras. Lugares que são verdadeiros campos de concentração de bichos. Tem gente que acha que está fazendo o bem e condena o animal a uma morte triste” acrescenta o agente de saúde.

Em relação à empresa, Eduardo Pedroso conta que a ONG apenas a alertou e mencionou em um e-mail a Lei Federal 9605/98 em seu artigo 32.

Foto: Divulgação

“Cada vez mais daqui para frente a sociedade vai escolher consumir de empresas que tenham responsabilidade social e apoiem projetos como o nosso. Quem não entender isso vai colher o desprezo de um mercado preocupado com o meio ambiente e que observa o que acontece com os animais abandonados. Os animais são vida. E a vida tem valor absoluto”, completa Eduardo Pedroso.

Finalizado o contato inicial e ciente da situação, a ONG traçou uma estratégia. Primeiro solicitou das protetoras o deslocamento dos pontos de alimentação para longe do estacionamento. Depois pediu permissão para acessar às dependências do Metrô, onde está localizada a colônia. Enorme local que circunda o estacionamento.
Por uma solicitação da ONG, o gabinete do deputado Roberto Trípoli (PV-SP) enviou um ofício à Presidência da Companhia do Metropolitano de São Paulo, e no começo de janeiro as portas estavam abertas para o início do trabalho de controle da colônia de gatos.

Logo na primeira sexta-feira de fevereiro de 2017, uma equipe da Bicho Brother iniciou efetivamente o trabalho de campo. A primeira intervenção durou cerca de quatro horas e 10 animais foram resgatados com armadilhas manuais e automáticas Fermarame. Redes também foram utilizadas.

Após os resgates, os gatos foram transportados para a clínica Cãomarada, onde a equipe da Dra. Mayra Chamlian executou procedimentos de castrações minimamente invasivas (CMI). “Esse tipo de esterilização é fundamental para a recuperação de animais que passam por processo de CED. A cirurgia consiste em fazer uma pequena abertura na pele e no músculo da gata, evitando a deiscência dos pontos e hérnia. Além disso, como os animais são devolvidos ao seu ambiente em um ritmo acelerado, recebem antibioticoterapia de longa duração”, diz a médica que trabalha com grupos que praticam CED.

Como é do protocolo das ações de CED, os gatos tiveram a ponta da orelha esquerda retirada e receberam vacina antirrábica. A literatura de CED é clara e incisiva ao defender a devolução rápida dos animais ao seu local. O método prevê o menor contato possível dos animais saudáveis com ambiente hospitalar. O retorno rápido também tem implicações positivas na rotina da colônia, que não sofre alterações pois “o gato logo volta para sua casa e encontra tudo como estava. Isso é importante para a reconexão do animal ao seu mundo. A recuperação se dá mais rapidamente. É mais tranquilo para ele. O trauma que um pós-operatório de 7 a 10 dias afastado da colônia pode causar a um gato é muito maior que o da própria captura e esterilização. Quem pratica CED deve ter a mão um veterinário que pratique a castração minimamente invasiva para poder devolver rápido o animal para a colônia”, explica Eduardo Pedroso.

Foto: Divulgação

No último dia 5, os gatos foram devolvidos à colônia. Estavam inteiramente espertos e ativos e agora integram o espaço sem contribuir para o aumento da população.

Eduardo Pedroso afirma que a colônia tem cerca de 30 gato e quando dois terços estiverem controlados as mudanças serão sentidas. “Quando a colônia estiver mais controlada, ninhadas deixarão de aparecer e os gatos se tornarão mais tranquilos e silenciosos pois brigarão menos. São muitos os benefícios de uma colônia controlada. Um deles é a não transmissão de doenças preexistentes entre os membros da colônia por conta da diminuição de atritos físicos como brigas e coberturas. É a quase extinção da troca de sangue, o que mantém os gatos mais saudáveis e longevos.”

A ONG tem programada mais uma intervenção na estação de Metrô. Os gestores da ONG colocaram no ar uma arrecadação online como estratégia para levantar fundos para o trabalho de controle ético de gatos no local. A gestora da ONG, Mariana Lança, explica que a Bicho Brother se especializou em CED e presta serviços controlando colônias em condomínios, casas, empresas e parques. “O desafio é quando encontramos colônias em locais públicos ou sem recursos. Quando isso acontece a ONG pede socorro pela Internet”.

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