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Ex-pescador reconhece brutalidade da prática e revoluciona sua relação com animais

23 de janeiro de 2017
3 min. de leitura
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Por Dan Maio
Tradução de Filype Ruiz/ Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais

Reprodução/The West

Eu usava anzóis bem afiados para fisgar animais. Às vezes usava dois ou três para ter certeza de que eles não iriam escapar.

Os anzóis cortavam a boca deles e, mais frequente do que você imagina, furava-os em alguma parte do rosto e até dos olhos. Eu não pescava para comer. Como milhões de outras pessoas, pescava por “diversão”.

Se eu fizesse o mesmo com cães e gatos, iriam querer me prender. Mas, estou aqui falando sobre peixes. “Peixes não sentem dor. Não se preocupe, eles não tem inteligência para entender”, dizem.

Eu acreditava em tudo isso, principalmente porque era dito por amigos e familiares.

Os peixes do outro lado da vara tentavam inutilmente lutar por suas vidas enquanto eu os puxava. Agonizando e sem ar, se debatiam enquanto, sem pressa, eu tirava os anzóis, arrumando a vara e pegando a câmera para a foto tão importante.

Eu sabia que o animal que eu tinha em mãos só conseguia respirar debaixo d’água, mas queria mostrar aos meus amigos o que estava fazendo. Anzóis nem sempre saem como a gente costuma dizer – às vezes passam pela boca e vão parar na traqueia. Mas sem problemas: assim que terminava, eu jogava o peixe de volta na água – vivo ou morto. Isso é “pescar e soltar”… não?

O “soltar” é o que te faz se achar uma boa pessoa. Você diz, “vai lá, amigão”, como se estivesse fazendo um favor aos peixes. Às vezes, eu os via baterem em alguma pedra depois que os soltava. Mas então só colocava outra isca no anzol ensanguentado, lançava na água e dizia, “quero um maior da próxima vez”.

Fiz isso por 10 anos até que um dia, em Perth, tinha em mãos um dos peixes mais bonitos que já vi. Ele estava assustado, sem oxigênio e eu tinha rasgado quase a parte de baixo inteira de sua boca. Peixes não possuem braços e pernas para ajudá-los. Tudo que eles têm são suas bocas para apanhar comida, construir ninhos e proteger seus filhotes. Causar danos a essa parte de seus corpos pode ser fatal, independente de serem rapidamente colocados de volta à água.

Percebi que acabei com a vida desse peixe. Eu era um babaca. E, me desculpe por dizer isso, mas ao mesmo tempo me sinto eternamente grato por esse peixe ter me ajudado a acordar.

Devia ser óbvio pra mim depois de tudo que vi várias vezes, que peixes sentem dor, assim como todos os animais. Aprendi que na verdade eles são bem inteligentes. Reconhecem uns aos outros, se comunicam e sentem a perda de outros. Alguns conseguem até mesmo usar objetos como ferramentas e outros fazem arte na areia no intuito de acasalar.

E todos nós sabemos como a vida marinha tem sido prejudicada. Eu vi de perto. Cientistas dizem que se continuarmos matando animais marinhos nessa proporção, vamos ter um mar árido e desabitado em 2050, sem qualquer tipo de vida. Fico feliz em não participar dessa destruição.

Sempre fui apaixonado pelo mar e meu amor e fascínio pelos seres que vivem nele cresceu mais ainda desde que parei de tratá-los como brinquedos descartáveis.

Agora me vejo nessa situação confusa de ter todo esse conhecimento sobre a pesca, mas não querer compartilhar e ter todo esse equipamento mas sem intenção de vender. Ao meu ver, seria como vender uma faca para uma criança.

Então antes de você lançar a linha nesse verão, pense sobre as vidas e os lares que podem acabar por sua culpa.

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