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    Eles sobreviveram ao pior pesadelo: a vivissecção

    24 de janeiro de 2017
    4 min. de leitura
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    Por Fátima ChuEcco | Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais

    Foto: Perninha, Divulgação

    Eles passaram pelos piores horrores, mas sobreviveram e estão cheios de vontade de continuar vivendo. Perninha, Felipe e Átila, depois de dois meses de terríveis testes na UFV – Universidade Federal de Viçosa (MG), foram salvos pelo gongo no final de 2015, pouco antes de serem sacrificados. Uma ação judicial inédita no Brasil determinou a soltura dos 16 cães saudáveis que estavam aguardando adoção no CCZ, mas foram levados para dolorosos experimentos dentro da UFV.

    Pythagóras, embora noutra situação, também escapou por um triz. Teria sido transformado em cobaia se a professora Odete Miranda, da Faculdade de Medicina do ABC (SP), não o tivesse resgatado pouco tempo antes de ser capturado no campus. Isso foi em 2006 e até hoje Pythágoras vive com a professora. “A faculdade estava fazendo o comparativo do uso de animais vivos e mortos. Assim, durante aquele ano eles utilizavam dois cadáveres de cães versus dois cães vivos, por turma, nas aulas práticas de técnica cirúrgica”, conta.

    Foto: Pythágoras, Divulgação

    “Em dezembro, ao acabar o ano, sobrou no canil um cão já adulto e, como entraríamos em férias, a veterinária do biotério liberou esse cão para que ele ficasse solto no campus da faculdade e, no retorno das aulas, ser reconduzido ao canil para aula prática de técnica cirúrgica. Essa informação foi me passada pelo funcionário do estacionamento e assim eu o levei para casa na mesma hora. Ele foi o primeiro a se livrar da aula de técnica cirúrgica abrindo um caminho de abolição para os demais”, continua a professora que foi uma das maiores responsáveis pelo término do uso dos animais vivos na Faculdade de Medicina do ABC em 2007.

    Foto: Átila e Felipe na UFV, Divulgação

    Felipe e Átila caíram nos braços da ativista Beatriz Silva, da ONG Bendita Adoção de SP. Ela foi até Viçosa buscá-los: “Só de ligar a mangueira ou ver uma vassoura eles urinam. Se alguém fala alto perto deles também se assustam. Não quero imaginar o horror que passaram para ter tanto medo assim. Mas o dia do resgate foi o primeiro do resto de nossas vidas juntos. Adeus sofrimento! Que a tortura do Instituto Royal e em Viçosa sirva de exemplo para isso terminar”, comentou ela em entrevista dada à Anda na ocasião. Devido as sequelas, Felipe e Átila são tratados até hoje com fisioterapia e acupuntura.

    À espera de um milagre

    De todos os 16 sofridos cães de Viçosa, apenas um não conseguiu lar até hoje, o Perninha, que se encontra no abrigo da ONG Cão Sem Dono, de SP. Ele teve seus momentos de fama durante a audiência pública “Uso de animais vivos no ensino: ainda é necessário?”, realizada no final de 2016 e promovida pelo deputado estadual Feliciano Filho na Assembleia Legislativa de SP. O público se encantou com Perninha, inclusive, o aplaudiu muito quando foi apresentado aos palestrantes. Ele ainda apareceu em diversas reportagens sobre a audiência, mas mesmo assim entrou em 2017 sem qualquer chance de ser adotado.

    Foto: Átila e Felipe hoje, Divulgação

    Do mesmo modo que seus colegas de tortura, Perninha teve importantes ligamentos das pernas rompidos e manca um pouco, mas seu tratamento segue os moldes dos demais cães e ele pode ter uma longa vida como a de qualquer outro animal. Tem um semblante meigo e é muito manso e simpático, mas depois de um ano participando de dezenas de feiras de adoção, agora Perninha parece estar à espera de um milagre: o de finalmente ser adotado. Perninha não é um simples cão. Ele é símbolo da luta contra a vivissecção, assim, como seus ex-companheiros de viagem… uma viagem que, por dois meses, os levou ao inferno.

    Por que ainda existem cobaias no ensino?

    Foto; Beatriz, Átila e Felipe, Divulgação

    Na pesquisa científica ainda existe uma grande resistência em libertar os animais e deixá-los definitivamente em paz. Mas por que até mesmo no ensino a vivissecção persiste? Tratamentos de certas doenças podem, por exemplo, ser testados em animais que realmente possuem essas enfermidades tornando-se pacientes e não cobaias. No lugar de Perninha, Felipe e Átila, que eram absolutamente saudáveis, animais com a doença alvo do experimento podiam ter sido beneficiados com uma possível cura ou amenização do problema.

    É hora de se modernizar o ensino – o que serve também para Orgãos reguladores e financiadores dessas pesquisas. E é hora também da mídia em geral tirar esse assunto do porão e dar a devida importância às inovações para evitar esse sofrimento da vivissecção que é um dos mais terríveis. Há muitos métodos substitutivos para todos os procedimentos e as universidades têm obrigação de oferecer isso aos seus alunos, pois, grande parte deles ainda pensa que não há outra maneira eficaz de aprendizado.

    *Fátima ChuEcco é jornalista ambientalista e da causa animal

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