EnglishEspañolPortuguês

Centenas de animais presos em zoo estão à beira da morte em meio à guerra no Iêmen

26 de dezembro de 2016
5 min. de leitura
A-
A+

Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais

Foto: Mercury Press
Foto: Mercury Press

A devastação causada pela guerra força inúmeros civis a fugirem de suas casas, se afastarem de suas famílias para ficarem a salvo das bombas rumo ao desconhecido.

Mas o que acontece quando você não pode escapar? Essa é a história dos zoológicos abandonados em meio a esse cenário brutal, principalmente sobre os animais nos Zoológicos de Taiz do Iêmen, negligenciados no fogo cruzado da guerra civil do país.

Nele, 28 leopardos árabes, criticamente ameaçados de extinção, não comem há seis dias. Eles e quase 240 outros animais enfrentam a morte iminente e precisam ser alimentados com urgência.

Tudo começou no início deste ano, quando o governo iemenita, que administra o zoo, parou de pagar os funcionários e abandonou as instalações diante da crescente violência. Em fevereiro, após a mídia despertar a atenção internacional para a deterioração das condições do estabelecimento, a SOS Zoo and Bear Rescue – uma organização de resgate com página no Facebook administrada por Chantal Jonkergouw – começou a arrecadar dinheiro para cobrir os custos da alimentação, água e cuidados para os animais.

De acordo com Jonkergouw, que mora na Suécia, a SOS arrecadou mais de US$ 125 mil de doadores individuais durante os últimos dez meses.

Em 30 de novembro, ela tomou a decisão agonizante de parar de alimentar os animais até que o governo concordasse em libertá-los para serem ajudados por ativistas. Ela diz que ainda estão recebendo água fresca todos os dias.

Um bom samaritano local deu comida para os leopardos e outras espécies do zoo, mas ele não aparece desde 16 de dezembro, a última em vez que os carnívoros foram alimentados.

Os herbívoros têm subsistido com um suprimento cada vez menor de vegetais estragados. De acordo com Bassam Al-Hakimi, gerente de projeto da SOS em Taiz, muitos animais estão mostrando sinais de extrema fraqueza.

Taiz, considerada a capital cultural do Iêmen, tem sido um ponto crítico na guerra civil em curso no país, um choque entre muçulmanos xiitas Houthis e forças apoiadas por saudita leais ao governo da nação antes da guerra.

Foto: Mercury Press
Foto: Mercury Press

O Zoológico de Taiz tornou-se uma vítima esquecida da guerra depois que o governo perdeu o controle da cidade e muitos trabalhadores do local fugiram dos bombardeios e da escassez de alimentos que assolam a região.

De acordo com Jonkergouw, antes de a SOS intervir em fevereiro, 11 leões e seis leopardos árabes morreram de inanição. “Um leopardo tinha comido sua companheira”, disse ela. Os animais sobreviventes foram encontrados vivendo na miséria, ensanguentados, com abscessos e em meio a fezes.

Um leão drasticamente desnutrido foi encontrado com o osso do quadril extremamente saliente, quase ‘’saindo’’ de sua pele e uma cirurgia de emergência salvou sua vida.

Hienas, macacos, pássaros, porcos-espinhos, babuínos são outras espécies exploradas pelo local. Muitos têm mostrado sinais de zoochosis grave – uma condição que muitas vezes aflige os animais mantidos em cativeiro em ambientes artificiais e é caracterizada por comportamentos obsessivos e repetitivos.

O ruído e os detritos da guerra podem agravar o sofrimento: em meados de dezembro, um edifício próximo foi bombardeado, espalhando estilhaços no zoo.

A proximidade dos combates dificulta os esforços de resgate: além da Tamdeen Youth Foundation financiada pela SOS, um grupo local que fornece todo o alimento, cuidados e água para os animais, nenhuma outra organização esteve envolvida já que é muito perigoso.

Foto: Mercury Press
Foto: Mercury Press

O governo, que agora tem influência limitada em Taiz, negou as permissões de transferência que poderiam pelo menos dar aos animais a chance de serem extraídos do território Houthi e levados para outro país onde eles teriam esperança de sobreviver em longo prazo.

Funcionários do governo iemenita disseram a Jonkergouw que não irão aceitar qualquer oferta em benefício dos animais. “Eles responderam que nunca deixarão os animais saírem do Iêmen e que eles são bem cuidados”, disse Jonkergouw.

A questão dos leopardos

Existem provavelmente apenas 80 leopardos selvagens árabes deixados no planeta. O Zoológico de Taiz tem 28, incluindo dois filhotes nascidos em setembro. Jonkergouw acredita que o Iêmen está relutante em enviar os felinos para outro país, mesmo temporariamente, porque os leopardos árabes são uma fonte de orgulho profundo.

Qualquer perda de leopardos árabes é devastadora, dada a raridade da espécie. Quatro filhotes desapareceram do zoológico pouco depois que a SOS entrou em cena. Na época, funcionários do local disseram que provavelmente eles foram comidos.

Jonkergouw levanta a possibilidade de que eles foram roubados e vendidos no mercado negro. A península árabe tem um mercado negro considerável para felinos considerados exóticos e vendidos como animais domésticos. Depois desse incidente, ela arranjou um guarda em tempo integral para os leopardos.

Agora a única coisa que mantém os leopardos presos em Taiz – seu status no Iêmen – poderia ser a chave para sua salvação. Se os leopardos começam a morrer de inanição, Jonkergouw espera que o governo possa ceder e permitir a transferência deles e todos os outros animais. “Provavelmente mais leopardos têm de morrer antes de perceberem que precisam evacuá-los”, disse.

Ela pretende começar a alimentar os animais novamente assim que o Iêmen assinar uma carta de intenção permitindo a transferência dos animais para instalações na Jordânia, para os Emirados Árabes Unidos ou apresentar um plano alternativo, informou a National Geographic.

Você viu?

Ir para o topo