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A gaiola apertada dos ratos explorados em laboratórios é péssima tanto para eles quanto para a ciência

3 de agosto de 2016
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Laboratory rat. Albino brown rat (Rattus norvegicus). This breed of rat is widely used in medical and other scientific experiments.
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Pesquisas com ratos e outros animais têm sido reconhecidas por seus grandes avanços no tratamento de todos os tipos de doenças fatais, como problemas cardíacos, câncer e Alzheimer.

Na verdade, tem sido dito que “praticamente todo remédio, tratamento, dispositivo médico, ferramenta de diagnóstico ou cura que temos hoje foram desenvolvidos com a ajuda de animais de laboratório”.

Mas vamos ser sinceros: ser um rato de laboratório provavelmente não deve ser muito divertido — e o alojamento pode ser parte do problema. O “típico” rato de laboratório passa seus dias em uma gaiola tão pequena que não há espaço para subir, escavar ou mesmo ficar de pé.

De acordo com a coordenadora de um estudo sobre o comportamento de ratos de laboratório, publicado em 29 de junho na revista Royal Society Open Science, ficar enfurnado dessa forma compromete não apenas o bem-estar dos animais, mas também a confiabilidade da pesquisa com o roedor.

“Esses animais não são ‘normais’ e, portanto, podem produzir resultados ‘anormais’”, disse a coordenadora do estudo, Joanna Makowska, da Universidade da Colúmbia Britânica, em entrevista por e-mail ao Huffington Post.

“Isso leva a uma falta de reprodutibilidade entre os estudos, bem como à falta de eficácia dos resultados, porque esses resultados podem ser idiossincráticos para os animais específicos que foram usados em um estudo em particular, em vez de ‘ratos’ em geral.”

Para o estudo, Makowska e Dan Weary, especialista em bem-estar animal na universidade, observaram o comportamento de ratos alojados em caixas plásticas convencionais (45 × 24 × 20 cm) e em caixas maiores (91 × 64 × 125 cm), que incluíam terra para escavação (veja abaixo).

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Os ratos nas gaiolas maiores, “seminaturalistas”, subiam bastante, escavavam ou apenas ficam de pé. Os ratos em caixas padrão não faziam essas coisas. Mas os pesquisadores notaram que esses ratos alongavam seus corpos (um processo que os cientistas chamam de pandiculação) nove vezes mais do que aqueles nas gaiolas maiores.

Makowska e Weary concluíram que o alongamento extra é, provavelmente, “uma resposta corretiva à rigidez e estresse posicional associados com os movimentos restritos em gaiolas convencionais”.

Parece desagradável, com certeza. Mas, realmente há sólida evidência de que os ratos alojados em gaiolas convencionais são, de alguma forma, doentes?

A questão continua em aberto, diz Larry Carbone, veterinário de animais de laboratório da Universidade da Califórnia de San Francisco, autor do livro What Animals Want: Expertise & Advocacy in Laboratory Animal Welfare (“o que os animais querem: expertise e defesa de direitos em bem-estar de animais de laboratório”, em tradução livre), publicado em 2004.

“Qualquer confinamento limita suas oportunidades, mas também, espero, limita as coisas que eles não querem, como falta de comida, mudanças de clima extremas, predadores à espreita”, disse Carbone ao HuffPost por e-mail. “Portanto, o desafio é entender quais dessas limitações realmente afetam o bem-estar dos animais.”

Em qualquer caso, caixas apertadas podem não ser a única desvantagem para a vida de um rato de laboratório.

Pesquisas recentes sugerem que os animais podem ficar estressados pelas baixas temperaturas mantidas em alguns laboratórios. E também existem todas as coisas pelas quais os ratos de laboratórios passam ao longo dos experimentos, que podem incluir injeções, procedimentos cirúrgicos e eutanásia.

Caso você esteja se perguntando sobre a existência de proteção legal para ratos de laboratório, é complicado. Algumas regulamentações federais nos Estados Unidos abordam o tratamento de animais de laboratório.

Mas, embora a importante Lei de Bem-Estar Animal proteja o bem-estar de animais de sangue quente, em geral, faz uma exceção aos ratos, juntamente com pássaros e camundongos.

Essas exceções podem ser questão de praticidade, por causa dos incontáveis milhões de roedores e outros animais desprotegidos em laboratórios dos EUA.

Mas Makowska vê outra possível razão: as pessoas simplesmente não gostam de ratos.

“Os ratos são menos valorizados do que outros (maiores, mais bonitos) mamíferos”, disse. “Eles têm sido culpados pela praga (que, aliás, foi recentemente mostrado ser falso). Eles são vistos como pestes.

E estão constantemente sendo difamados pelo mundo dos filmes, livros e desenhos, onde frequentemente são criados para ser o símbolo da maldade.”

Carbone disse que o estudo sugere maneiras pelas quais a regulamentação para o alojamento de animais em laboratórios deveria ser atualizada. “Os cientistas precisam se certificar de que o uso de animais realmente leva à qualidade, dados úteis”, acrescentou, “e eles têm de fazer o melhor para atender aos padrões atuais de bem-estar animal”.

Já Makowska disse que os roedores devem receber as mesmas considerações éticas dos animais mais carismáticos. Ela defende mais pesquisas — e gaiolas maiores.

Fonte: Brasil Post

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