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Ex-funcionária do SeaWorld revela novos detalhes sobre maus-tratos de orcas

11 de dezembro de 2015
6 min. de leitura
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Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais

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Nos últimos anos, diversos ex-funcionários do SeaWorld têm ido a público para falar sobre o seu tempo na empresa. Agora, mais uma está dando um passo à frente – e revelando ainda mais detalhes sobre como os animais explorados pelos parques são mal tratados. As informações são do The Dodo.

Sarah Fischbeck entrou no SeaWorld San Diego logo após o colegial, em 2007, para trabalhar como mergulhadora. Durante os seis anos em que esteve na empresa, ela atuou diretamente com os animais, executando a manutenção e limpeza dos tanques, e regularmente mergulhando com os animais. Mas ela também foi testemunha de alguns dos fatos mais sombrios do SeaWorld, que a levaram a deixar voluntariamente a empresa em 2013. “Se as pessoas soubessem o que eu sei, ou vissem o que eu vi, o parque não venderia mais nenhum bilhete”, disse Sarah.

Muitos dos animais do SeaWorld entram em luta física entre si como resultado do estresse do cativeiro, e Fischbeck relata que as orcas eram as que mais se feriam nesses incidentes. Elas eram avistadas com marcas causadas por dentes de companheiros de tanque, e uma série de lesões graves causadas por brigas constantes. “Quando você mergulhava no fundo dos tanques, você achava longas tiras que pareciam borracha preta”, explicou ela. “E eram pedaços de pele que as orcas tinham arrancado umas das outras”.

“Alguns mergulhadores levavam pele de orca para suas famílias o tempo todo, como lembrança”, acrescentou Fischbeck. Os funcionários constantemente viam orcas nadando até o outro lado do tanque porque estavam sendo perseguidas, disse ela. “Elas estavam sempre batendo umas nas outras”, explicou a ex-mergulhadora. “Não é nada novo. Os treinadores sabem disso, nós sabemos disso”.

Uma manhã, Fischbeck disse que chegou cedo para um mergulho de manutenção em uma das piscinas de orcas que deveria estar vazia – e ficou surpresa ao ver uma das orcas esperando por ela. Sua barriga estava arranhada, e ela estava nadando na piscina que era para estar bloqueada para limpeza.

Ela chamou os treinadores, que disseram que todas as orcas haviam sido presas na noite anterior. Em seguida, a equipe percebeu o que tinha acontecido: a orca que entrou na piscina de alguma forma foi içada ou empurrada para a piscina bloqueada, tendo passado sobre uma grade de metal coberta com protuberâncias afiadas, o que fez com que ela rasgasse a sua barriga.

“Ela estava tão atormentada que sua única saída era tentar passar sobre essa barreira”, disse Fischbeck. “E ela foi empurrada para uma piscina fechada”.

As orcas também descontavam sua frustração em aves. Embora elas não sejam predadoras naturais, as mortes das aves pareciam ser um ato mais de frustração que de fome. “Elas constantemente despedaçavam aves”, disse a ex-funcionária. “Elas não as comiam. Apenas matavam e deixavam as aves partidas em pedaços”.

Os mergulhadores também diziam não se sentirem seguros mesmo quando as orcas estavam presas. “Elas eram agressivas conosco”, disse Fischbeck. “Elas nos observavam do outro lado do portão. Houve mais de uma ocasião em que elas ficaram muito irritadas e começaram a bater contra o portão… Você não podia chegar perto do portão porque elas iriam tentar te sugar para dentro”. Ela afirmou que se surpreendeu com o fato dos mergulhadores nunca terem recebido qualquer protocolo ou manual de procedimentos de segurança para nadar perto das orcas. “Não havia nenhuma instrução… nunca recebi treinamento sobre o que fazer se uma orca entrasse em uma piscina com a gente”, acrescentou.

Os instrutores relataram anteriormente que o SeaWorld dopava as orcas com Valium para tentar mantê-las calmas. Fischbeck confirmou isso, e disse que  golfinhos e belugas também estavam sendo drogados, e que as doses eram postas abertamente nos quartos dos treinadores. “Era informado por escrito quais as vitaminas que estavam sendo dadas aos animais, e quais sedativos”, disse ela.

Mas, mesmo com o estresse que os pequenos tanques causavam às orcas, o SeaWorld não hesitou em reduzir ainda mais o espaço delas. Após a morte da treinadora Dawn Brancheau em 2010, a OSHA (Administração de Segurança e Saúde Ocupacional) proibiu treinadores do SeaWorld de nadarem com as orcas. Em um esforço para combater a decisão, o SeaWorld instalou um piso elevador de US $70 milhões no fundo da piscina “B” que, com um simples toque no botão, era levantado até a superfície. No entanto, o recurso de segurança tomou mais de um quarto da área da piscina, deixando as orcas com ainda menos espaço do que antes, disse Fischbeck. “Isso não teve nenhum benefício para os animais”, disse ela. “Eles instalaram aquele elevador para que pudessem colocar seus treinadores na água”.

Uma beluga chamada Ruby foi forçada a procriar continuamente, apesar de cada gravidez terminar em tragédia. Ela teve seu primeiro filhote em 2008 por meio de inseminação artificial, mas o bebê morreu logo após, embora a história que contam publicamente é que o filhote estava doente e ela o rejeitou. Mas, na verdade, Ruby voltou-se contra o seu filhote, de acordo com Fischbeck, que argumenta que ela realmente o matou.

Ruby ficou grávida em 2010, e novamente agrediu o filhote – dessa vez uma fêmea chamada Pérola. O SeaWorld expressou surpresa diante do fato da beluga rejeitar o seu bebê, mas Fischbeck alegou que eles já  antecipavam isso. “Eles ordenaram que os mergulhadores ficassem na água, porque sabiam que Ruby tinha essa tendência”, disse ela.

Eles também drogavam Ruby com Valium para tentar acalmá-la, de acordo com a ex-mergulhadora. “A dose de Ruby foi aumentada quando ela estava grávida e logo antes dela dar à luz”, disse Fischbeck. “Eles elevaram a dose porque ela matou o seu primeiro filhote”.

Apesar das precauções do SeaWorld, Ruby atacou a sua filha recém-nascida e o parque removeu o filhote de sua companhia. Uma fêmea infértil adotou o bebê, de acordo com Fischbeck, e Ruby foi isolada em outro tanque por meses.

“Eles tiveram que manter Ruby separada da filha Pérola até que a mesma estivesse grande o suficiente para que Ruby não representasse mais uma ameaça”, disse Fischbeck. Ficou claro que Ruby não tinha disposição para a maternidade, mas os bebês eram rentáveis para o parque, e Ruby era fértil. Em 2012, ela engravidou novamente e teve um aborto espontâneo. Em 2014, Ruby faleceu e, segundo Fischbeck, os dados de sua necrópsia não foram encontrados, e ninguém fala sobre o caso.

*É permitida a reprodução total ou parcial desta matéria desde que citada a fonte ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais com o link. Assim você valoriza o trabalho da equipe ANDA formada por jornalistas e profissionais de diversas áreas engajados na causa animal e contribui para um mundo melhor e mais justo.

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