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"Mudar a produção da pecuária": a ONG que decidiu ficar para trás no ambientalismo

23 de dezembro de 2015
5 min. de leitura
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A cada divulgação dos impactos ambientais da pecuária na Amazônia e em outros ecossistemas brasileiros, o Greenpeace mostra que optou por ficar para trás na evolução do ambientalismo no século 21 e desistiu de ser reconhecido como uma ONG séria. Isso fica muito claro em sua insistente recusa de apoiar e defender o veganismo como a única maneira realmente eficaz de frear o desmatamento e outras consequências perniciosas da exploração animal no meio ambiente.
A teimosia carnista do Greenpeace ficou estampada numa postagem feita no início de dezembro passado em sua página no Facebook. No post em questão, afirmou:

No último ano, a maior causa do desmatamento na Amazônia foi a pecuária. Atualmente, essa atividade ocupa 60% das áreas desmatadas. É por isso, que precisamos mudar a cadeia da pecuária, exigindo #DesmatamentoZero dos supermercados e dos seus fornecedores. Sem mais crimes ambientais! Precisamos da sua ajuda. Torne-se um colaborador dessa luta: http://bit.ly/1lC7GHt [link de formulário de adesão à campanha “Desmatamento Zero” da ONG]

A entidade parou no tempo, na época em que se acreditava piamente que seria perfeitamente possível reformar a pecuária de modo a zerar o desmatamento por ela causado sem deixar de atender integralmente a uma demanda mundial gigantesca e crescente. Parece crer também que o desflorestamento na Amazônia é o seu único impacto ambiental realmente relevante.
O Greenpeace desconsidera que, segundo a ONU já denunciou por meio de pelo menos dois de seus órgãos – a FAO e a UNEP, respectivamente em 2006 e 2010 – e o Worldwatch Institute reforçou, o problema ambiental da pecuária vai muito além de simplesmente desmatar a Amazônia.
Passa também pela emissão direta e indireta de gases do efeito estufa (gás carbônico, metano, óxido nitroso etc.), pelo gasto extremamente perdulário de água, pelo uso exaustivo e erosivo do solo em pastagens e monoculturas de grãos de forragem animal, pelo gasto enorme de energia e combustíveis-fósseis etc. Isso sem falar nos impactos sociais e políticos, como a opressão rural assassina imposta por pecuaristas contra camponeses, povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e ativistas ecologistas; a corrupção da grilagem; as ações antidemocráticas e anticonstitucionais da bancada ruralista nos âmbitos estadual e federal; entre outros.
Mas pelo que parece, isso tudo, para o Greenpeace, vai ser resolver magicamente com negociações com o grande capital pecuarista, agroindustrial e lacto-frigorífico. De uma hora para outra, com uma ingênua “pressão do mercado consumidor” que desconhece a relação destrutiva e inexorável entre o capitalismo, a exploração animal e a degradação ambiental, tudo irá se resolver, o impacto ambiental da pecuária brasileira cairá a quase zero e teremos “carne verde certificada” nos freezers do setor de carnes e frios dos supermercados.
Tudo isso sem que os interesses, valores e crenças especistas e antiecológicos dos ruralistas, dos pecuaristas e dos grandes empresários que lucram com produtos animais sejam peitados e derrubados.
E é claro, o fato de a pecuária depender fundamentalmente de explorar e matar animais – que são seres da Natureza, a parcela de Gaia que tem senciência e deseja preservar suas próprias vida e integridade física e mental – para existir, sua essência de tratar seres sencientes como objetos a serem usados e convertidos em matéria-prima, é completamente irrelevante e desprezível para a mentalidade oficialmente carnista da entidade.
A ONG em questão ainda está intelectualmente presa numa época em que defender a perpetuação da exploração animal e subestimar ou ignorar seus impactos ambientais era aceitável e quase não sofria críticas da opinião pública. E rejeita ativamente girar para frente a roda da história do ambientalismo e admitir que só o veganismo de libertação pode parar o monstro devorador de biomas e vidas animais chamado pecuária.
Quando pressionada a tomar alguma posição sobre o veganismo, sua assessoria de comunicação tergiversa, enrola, adota uma postura evasiva, como no caso de uma ativista sua que atuava em defesa do Ártico e, depois de libertada da prisão na Rússia, comemorou sua liberdade comendo carne em churrascaria.
E prova por A mais B que não aprendeu absolutamente nada com o vexame histórico pelo qual passou no documentário Cowspiracy: o segredo da sustentabilidade. Durante a produção do filme, a filial estadunidense da entidade sonegou ao seu produtor Keegan Kuhn informações sobre o impacto ambiental da pecuária e da pesca e as razões de não apoiar o veganismo. Tratou-o, às vezes até literalmente, fechando-lhe as portas na cara.
Não percebeu que o potencial impacto futuro do Cowspiracy, à medida que ele seja cada vez mais divulgado e assistido, será devastador para a imagem institucional de todas as ONGs ambientalistas que insistem em adotar uma postura não vegana e meramente reformista para a exploração animal com fins de consumo. E não está correndo contra o tempo para evitar esse prejuízo à sua reputação e a eventual perda de sua confiabilidade como organização que, segundo o senso comum ainda acredita, “realmente” defende o meio ambiente das atividades econômicas de alto impacto ambiental.
Se o Greenpeace não mudar essa postura teimosa e também cúmplice, por omissão, da destruição ambiental que ela diz combater, ela perderá para sempre o respeito da opinião pública, à medida que as pessoas se conscientizem para a necessidade de aderir ao veganismo como meio de prestar respeito aos animais e ao meio ambiente.
Enquanto persistir em pregar meras reformas na pecuária e negociações fajutas com os exploradores de animais e as grandes corporações, continuará meramente enxugando gelo e passando vergonha. No final das contas, zero não será a taxa de desmatamento no Brasil alcançada por conta das campanhas dessa ONG, mas sim o sucesso de sua tentativa de parar a degradação ambiental sem lhes combater a raiz – a exploração animal irmanada com o capitalismo.

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