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Bomba anti-cio

16 de novembro de 2015
5 min. de leitura
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Fátima ChuEcco/ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais

O veterinário Daniel Martins condena as injeções anticoncepcionais. Foto: Arquivo pessoal
O veterinário Daniel Martins condena as injeções anticoncepcionais. Foto: Arquivo pessoal

“Fiz uma cesária, na verdade aborto, numa cadela que havia recebido injeção anticoncepcional quando já estava grávida. Retirei os filhotes mortos com graves anomalias como um olho só no meio da testa, sem membros ou patas coladas umas nas outras. Um verdadeiro show de horror e por isso condeno o uso dessas injeções. O melhor e mais seguro método contraceptivo é a castração”, comenta o veterinário Daniel Ribeiro Martins, da Mooca Vet, em São Paulo.

“Já trabalhei no Interior e cidades pequenas de SP onde é muito comum o uso de contraceptivos orais ou injetáveis pelo baixo custo, falta de informação e oportunismo de balconistas de agropecuárias/pet shops interessados em vender esses produtos. Mas o barato sai caro. Além do risco de tumores malignos diversos, podem ocorrer casos bizarros de anomalias em filhotes. É sabido que as anomalias são principalmente por fator genético, mas também sabemos que agentes hormonais e químicos podem interferir na formação fetal”, explica.

Vale lembrar que essas injeções à base de progesterona têm duração de cerca de seis meses. Então, para evitar gravidez dessa forma, o animal terá de ser submetido a uma carga enorme desse hormônio ao longo da vida que, além dos tumores, pode causar infecções no útero como a piometra – uma doença de alto risco de morte que exige intervenção emergencial quando descoberta.

Anomalia como a descrita pelo veterinário Daniel Martins. Foto: Internet
Anomalia como a descrita pelo veterinário Daniel Martins. Foto: Internet

E tem mais: a eficácia não é de 100%. “A castração é o método mais eficaz. Em primeiro lugar, pode reduzir em 98% o risco de desenvolvimento de tumores nas mamas se for realizada antes do primeiro cio. A castração também reduz os riscos de infecção de útero e elimina a transmissão de doenças venéreas”, diz Ricardo Tubalgini, cirurgião geral e ortopedista do Hospital Veterinário Cães e Gatos (SP) e diretor de conteúdo do portal CachorroGato.

Embora veterinários como Daniel Martins, Ricardo Tubalgini e protetores de animais lutem para convencer tutores e orgãos públicos que a castração é a melhor forma de controle populacional, ainda existe a prática de se aplicar as “bombas anti-cio” em gatas e cadelas. E o pior é que, muitas vezes, são os próprios tutores que fazem a aplicação sem qualquer técnica para isso e em períodos perigosíssimos quando as fêmeas já entraram no cio ou estão gestantes. No anticoncepcional Inibidex, por exemplo, a própria bula alerta: “Pode ocasionar aumento da incidência de tumor mamário em cadelas, hiperplasia endometrial cística e hiperplasia mamária em cadelas e gatas”.

Em agosto deste ano foi a própria Secretaria Municipal de Saúde de Tibagi, região de Campos Gerais do Paraná, que administrou anticoncepcionais em cadelas que tinham tutores. Na época, a prefeitura alegou que não tinha verba para as castrações gratuitas e, por essa razão, podia oferecer apenas as injeções anticoncepcionais.

Contraceptivos geram filhotes sem membros. Foto: Internet
Contraceptivos geram filhotes sem membros. Foto: Internet

Marcos Martins, proprietário da Taxi Pet e que atua com proteção animal em Pelotas (RS), se revoltou com a situação: “Creio ser um total desperdício de dinheiro público e ainda vendendo um falso controle populacional na cidade, onde sabe-se os prejuízos que isso acarretará em médio e longo prazo aos animais que receberem essa medicação que deveria ser até mesmo proibida pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária. Enviei denúncia ao Conselho Reginal de Medicina Veterinária do Estado do Paraná pedindo revisão dessa medida, pois, o custo futuro é de uma gravidade que certamente os proprietários desconhecem. O CRMV respondeu que não foi avisado sobre essa campanha em Tabagi e irá averiguar”.

Ele conta que em Pelotas a Prefeitura firmou convênio com uma ONG e está realizando castrações tanto de animais que hoje vivem nas ruas, quanto de proprietários de baixa renda. Mais de 4 mil animais já foram castrados: “Uma medida que realmente tem efetividade e que mostrará seus resultados positivos em poucos anos, diferente de uma atitude descabida dessas tomada em Tabagi”.

Martins é idealizador da APAAMA – Associação de Proteção e Amparo ao Melhor Amigo: “Entre 2011 e 2012 realizamos feiras de adoção em Pelotas onde foram adotados mais de 600 animais. Na época vivíamos uma situação caótica. Depois desse período focamos nosso trabalho em ajudar ONGs com campanhas para arrecadar ração e reforma de canil. E atuamos no sentido que conscientizar a respeito da castração. Está mais do que provado e comprovado que vacinas anti-cio são verdadeiras bombas de hormônios injetados nas cadelas e gatas que causam tumores mamários ou uterinos e piometra”. Conheça melhor o trabalho da Apaama no Facebook.

Marcos Martins, leitor da Anda, fez denúncia sobre bombas anti-cio. Foto: Arquivo pessoal
Marcos Martins, leitor da ANDA, fez denúncia sobre bombas anti-cio. Foto: Arquivo pessoal

Obs.: Essa matéria foi motivada pelo contato do leitor da ANDA Marcos Martins, do Rio Grande do Sul, que se revoltou com a situação de Tibagi, no Paraná. Se você também acompanha uma situação em sua cidade ou de outro lugar, seja de denúncia ou um caso inspirador, e gostaria de falar a respeito, escreva para a ANDA. Analisaremos sua sugestão e, se for o caso, entraremos em contato.

*É permitida a reprodução total ou parcial desta matéria desde que citada a fonte ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais com o link. Assim você valoriza o trabalho da equipe ANDA formada por jornalistas e profissionais de diversas áreas engajados na causa animal e contribui para um mundo melhor e mais justo.

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