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Morre Gertrude: torturada em vida

6 de agosto de 2015
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Foto: Save the Chimps
Foto: Save the Chimps

Ela nasceu em Serra Leoa, Oeste da África, no início da década de 70. Em 1975, foi capturada e seus pais possivelmente foram mortos num programa de captura alucinada de bebês chimpanzés na África, para enviá-los à América do Norte, para projetos de experiências médicas. O destino era a Base da Força Aérea Holloman, em Alamogordo, Estado do Novo México. Nesta base morreram dezenas de chimpanzés torturados selvagemente durante anos a fio.
Gertrude tinha menos de 5 anos quando chegou. No primeiro ano foi anestesiada pelo menos 30 vezes, com o único propósito de tirar sangue. Seu fígado também foi perfurado repetidamente para fazer biópsias.
Após esta fase, foi designada para um estudo onde hormônios eram injetados em seu corpo para ver como reagia seu sistema reprodutivo. Pouco depois foi submetida a um projeto de uso de diuréticos experimentais.
Quando já tinha 6 anos, foi designada para um programa de reprodução e teve seu primeiro bebê com 12 anos. Em 14 anos teve 12 bebês, todos tirados de seus braços poucas horas depois de nascer, para que estivesse apta, já que não os amamentava, para reproduzir de novo em poucos meses. As poucas vezes que ficou alguns dias com os bebês foi uma boa mãe, cuidava, limpava e os mantinha aquecidos junto ao seu peito.
Os relatórios são falhos do que aconteceu com ela nos anos seguintes. O que se sabe é que a cada 4 meses era anestesiada para exames físicos, ainda estando grávida. Em 1997 ela conseguiu sair da Base Aérea, que era um tenebroso centro de torturas, para um outro centro, talvez até pior, no mesmo Estado: a Fundação Coulston, que tinha mais de 200 chimpanzés submetidos a experiências e reproduzindo para vendê-los ao Instituto Nacional de Saúde e às empresas farmacêuticas que tinham projetos de experiências médicas com primatas.
Em 2002 sua vida mudou. O Santuário Save the Chimps assumiu as instalações quebradas da Fundação Coulston e meses depois ela desfrutava do sol floridano, no chamado Grupo de Kiley, onde conseguiu fazer amizades que lhes permitiram ao menos alguma felicidade em sua trágica vida.
Vários de seus filhos, que ela nunca conheceu, estão no Santuário. Em seu próprio grupo estava sua filha Ariel, que ela nunca reconheceu. Gertrude, com seu espírito maternal ainda vivo, adotou a bebê Kay como sua filha, aquela que nunca conseguiu ter. Gertrude adorava fazer ninhos com cobertores e desfrutar de todas as comidas, especialmente as laranjas, que adorava.
Seu corpo debilitado por torturas anos a fio não resistiria muito mais. Seu coração deixou de bater numa noite semanas atrás e Gertrude foi para outros lares, onde talvez não existam humanos infames, como os que atribularam sua vida desde criança. Seus filhos no Santuário Save the Chimps e outros espalhados ainda em centros de tortura na América do Norte talvez se lembrem dos poucos minutos que aquela mãe sacrificada os reteve forte junto ao seu peito, antes de serem arrancados para nunca mais vê-la.
Gertrude, Mãe Chimpanzé que nunca foi à plenitude, descanse agora em paz!
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional

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