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A indiferença de Brigitte Bardot e a obsessão brasileira pela beleza

5 de agosto de 2015
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Ninguém aqui aceitou a ideia de envelhecer. Você vai ao médico, vai ao banco, liga a TV e só vê gente bonita e mais jovem que você. A minha gerente de banco tinha uma bunda tão perfeita que até eu tive que olhar! Mas olhei com admiração, pois não sou de invejar. Por todo o lado o recado é esse, ‘seja jovem’, ‘seja uma mulher bem sucedida e disponível para todo o sempre’. A empresa demitiu o pessoal bom, a velha guarda, e admitiu só gente novinha, que tem que estar disposta a vestir a camiseta, ou seja, ser idiota e trabalhar sem parar. Nada de contratar alguém com mais de 35 anos.  E isso se estende para as relações pessoais.
O homem já aprendeu como devem ser as mulheres que ele precisa, para se sentir mais jovem, mais másculo. A mulher já sacou que se não usar muito ‘Reniu’ e outros cremes vai ficar solteirona. E reparem que o termo ‘solteirão’ é interessante para o cara, o mesmo não vale para seu sinônimo feminino.
Até as próprias mulheres se rebaixam usando esse termo para desqualificar as outras.
Não tem uma mulher adulta que use esse termo para se dizer, ‘sou sim solteirona’. Eu já usei esse adjetivo de propósito certa vez, justamente para afastar esse estigma e para brincar um pouco com a ideia idiota que as pessoas têm sobre a mulher que ‘não conseguiu casar’. E pode crer que isso é muito forte na cabeça de homens e mulheres. Assim, seguem usando produtos testados em animais, cirurgias que antes foram feitas em coelhos, gatos, cães, macacos, cobaias, etc. Tudo para ser aceito.
O que está acontecendo é que as pessoas não querem ver seus iguais. O gordo não quer ver gordo, o velho não quer ver velho, a mulher madura não aceita a outra, sua igual. Todos procuram os modelos padronizados que o mercado oferece. Ninguém quer ser atendido por uma gorda, por uma mulher mais velha. Certos biotipos não combinam mais. Todos esperam o rapaz tatuado na lojinha esperta. E assim é que se faz a idiotice dos estereótipos. Se você não usa  preto não é metaleiro, mesmo que saiba mais de música que o idiota fantasiado.
É preciso aprender que, embora seja útil e desejável buscar a beleza, não é preciso ser estúpido.
Os homens estão aprendendo a namorar mulheres mais velhas, mas isso ainda ocorre apenas em determinadas classes sociais, e em determinados contextos, que não vou me ater aqui. As mulheres estão aprendendo a dar um basta à necessidade de aprovação dos outros. Anúncios despertam para a insegurança, mas devemos nos fortalecer!
É preciso reconhecer que a beleza da juventude é algo inesquecível, e digo isso daqui mesmo, sem modéstia alguma, pois ainda não ‘envelheci’.
É óbvio que todos buscamos ter eternamente a mesma bela aparência que um dia vimos neste espelho, e é claro que buscamos isso no outro, naquele que nos apaixonamos justamente por desejarmos tanto o belo. Não é preciso negar a beleza jovem, mas é preciso um dia conviver com uma verdade: se envelhece.
E há muita beleza em todo lugar, em muitas idades. Há homens e mulheres belos, do tipo que for.
Brigitte Bardot está pouco se lixando para plásticas, dedicou tempo e dinheiro aos animais e evitou cirurgias e procedimentos testados nos mesmos. Como ativista, sei que ela deixou de fazer algo que muitas pessoas não abrem mão, em nome de um resultado muitas vezes duvidoso.
Ela se mostrou indiferente à pressão social da mídia e mesmo de outras mulheres, que insistem com uma campanha silenciosa, que nos diz que temos que manter determinada aparência, mesmo que isso signifique dor extrema, cirurgias invasivas, métodos dolorosos arriscados e tudo isso testado em seres que não podem se defender, coisa que fere o princípio ético da igualdade. Não temos esse direito.
Sophia Loren, uma das mulheres mais lindas que conheço fez algumas correções, continua praticamente igual ao que sempre foi. BB não fez nada, mas ao olhar para ela, como fã de sua trajetória, vejo a mesma mulher, acho-a linda e não discuto sua aparência. Deixo isso para a TV, que só sabe falar da mulher nestes aspectos.
Deixo as fofocas sobre sua vida pessoal, sobre suas questões políticas, aos principiantes na causa animal e aos pseudolibertários que nada sabem sobre ela e menos fazem pelos animais ou pelas pessoas.
Aliás, considero que ela tem todo o direito de se dedicar unicamente à causa animal. Isso só não é obvio para idiotas. O ativismo não passa por todas as causas. Temos opção de escolha e vocação. Concordar ou não com suas posições políticas é coisa para quem tem tempo de discutir em redes sociais. Não sei se farei correções plásticas, se serei como BB, ou se antes de tudo isso morrerei. Pois envelhecer também não é para qualquer um, é para quem vive mais tempo.
O que sei é que Brigitte Bardot é para mim uma influência muito grande, uma mulher que teve uma vida de glamour, linda em todos os aspectos, que não retringiu sua vida ao mundo fútil das celebridades. Dedica-a aos animais e prova ser um ser de admirável beleza.
Se estes manipuladores do corpo corrompem a imagem dessas duas mulheres, que pelo menos o meu texto possa homenagear e fazer algum tipo de justiça a seus nomes.

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