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Cresce o número de orangotangos assassinados pela indústria de óleo de palma

21 de julho de 2015
6 min. de leitura
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Por Augusta Scheer (da Redação)

Foto: Sumatran Orangutan Conservation Program
Foto: Sumatran Orangutan Conservation Program

Em algum momento do ano de 2012, um filhote de orangotango foi sequestrado nas florestas da Indonésia. Durante o incidente, é provável que sua mãe tenha sido morta. O vínculo entre um filhote de orangotango e sua mãe é muito forte, e as mães costumam lutar para defender seus filhotes do perigo.
Os caçadores, que eram pescadores locais, logo venderam o frágil animalzinho para um funcionário de uma grande plantação de óleo de palma situada na região. Essas transações são bastante comuns, e o valor de venda de um orangotango fica em torno de 8 dólares, segundo Jessica McKelson, do Programa de Conservação de Orangotangos da Sumatra. Essa instituição acabou resgatando o animal e batizou-o de Gonkong. As informações são do site The Dodo.
Foto: Sumatran Orangutan Conservation Programme
Foto: Sumatran Orangutan Conservation Programme

O filhote estava fraco, desidratado e mal nutrido. Sua situação era tão ruim que, apesar de ter um ano de idade, “tinha a aparência e o peso de um bebê de cinco meses, pesando só 800 gramas,” de acordo com um veterinário da instituição.
Gokong foi levado ao Centro de Tratamento Batu Mbelin em fevereiro de 2013, se juntando a um grupo de quase 300 orangotangos que foram resgatados, reabilitados e, às vezes, reintegrados à natureza. O Centro existe desde 2002.
“Nos referimos a esses orangotangos como os ‘sobreviventes sortudos’,” conta McKelson.
Outra entidade da região que milita pela proteção dos orangotangos da Sumatra é o Centro de Informações sobre Orangotangos (OIC), fundado em 2001 pelo ativista Panut Hadisiswoyo. Ele conta que o comércio ilegal desses animais está devastando a espécie. Os caçadores têm como alvo os filhotes e, para obtê-los, precisam matar as mães. Como esses animais se reproduzem muito lentamente, a caça está dizimando a população
Hadisiswoyo conta que cerca de 30 orangotangos nessa situação são confiscados a cada ano. O ativista também os considera “sortudos”, já que muitos dos animais não conseguem ser salvos pela equipe. Atualmente, existem 47 orangotangos na estação de quarentena da instituição. As idades variam entre um e 30 anos, mas a maioria têm entre dois e quatro anos de idade.
Infelizmente, a organização recebe cada vez mais filhotes, como Gokong. A principal ameaça a essa espécie é a atividade humana. Mais especificamente, a destruição do seu habitat, potencializada pela pela indústria madeireira, e também pelo cultivo de palmas para extração de óleo.
O óleo de palma é um grande problema: trata-se do óleo vegetal mais consumido no planeta. É usado para fazer desde biscoitos, a xampu. Na Indonésia, essa indústria é a principal causadora do desmatamento.
Um estudo da Universidade de Maryland mostra que 23 mil milhas quadradas de florestas foram desmatadas na Indonésia, entre 2000 e 2012. O ritmo de desmatamento está acelerando, apesar de medidas tomadas pelo governo indonésio em 2011. Grande parcela dessas florestas foi derrubada por conta das plantações de palma, segundo o estudo.
Uma área especialmente vulnerável é o Ecossistema Leuser, segundo Ian Singleton, diretor do Programa de Conservação. É o principal habitat dos orangotangos da Sumatra, e “está mais ameaçado que nunca,” conta Singleton.
Ele descreve o Ecossistema como sendo vital para a sobrevivência da espécie, além de ser um bioma verdadeiramente único. “É o único lugar do planeta onde orangotangos da Sumatra vivem ao lado de tigres, elefantes e rinocerontes.”
Foto: USAID/IFACS
Foto: USAID/IFACS

Singleton conta que esse ecossistema está sendo dizimado com ajuda do governo local, o que torna ainda mais difíceis os esforços de conservação.
Gokong foi sequestrado em uma área pantanosa das florestas de Tripa, que contém uma das maiores populações de orangotangos do mundo. Essa mesma área vem sendo devastada para plantação de palmas, o que atraiu caçadores e outros oportunistas envolvidos no comércio de animais como Gokong.
“A população de animais selvagens está exposta à extinção. Nada sobrevive a esse processo de conversão do habitat em plantações de palma, porque o habitat é desmatado, queimado e drenado,” segundo Jessica McKelson.
Foto: Mongabay
Foto: Mongabay

McKelson também conta que as penas para quem trafica orangotangos são muito brandas. O Programa de Conservação, por exemplo, só conhece três casos julgados na história e, no caso de Gokong, nenhum dos envolvidos foi processado.
Ela estima que existem cerca de 6600 orangotangos selvagens na região, e a missão do Programa é confiscar, colocar em quarentena e devolver à natureza todos os orangotangos ilegalmente capturados. Isso nem sempre é possível, e a instituição está construindo um santuário para os animais que não puderem ser reintegrados.
A espécie está sob perigo crítico de extinção. Sua população diminuiu cerca de 80% nos últimos 75 anos. O comércio de orangotangos é proibido por lei, mas, como frequentemente acontece, a legislação não é cumprida e animais como Gokong terminam no mercado ilegal.
“Frequentemente, são alojados em condições inadequadas, como caixas de bambu, jaulas ou galinheiros,” diz McKelson. Às vezes, têm o pescoço acorrentado e são amarrados a uma árvore. “Eles são obrigados a ficar em isolamento total e frequentemente desenvolvem um isolamento condicionado.”
Quando chegam ao Centro de Tratamento Batu Mbelin, os animais normalmente estão com sérios problemas físicos, além de mal nutridos e com peso insuficiente. “Frequentemente vemos as feridas causadas pelas correntes que os tutores ilegais colocam,” relata McKelson. “Vemos animais que sofreram violência extrema nas mãos de caçadores.”
Por exemplo, o Programa já recebeu um filhote cujo nariz fora arrancado com um machete. Também já cuidou de uma fêmea que sofria de hepatite B, “provavelmente causada por morder os caçadores.” Houve o caso de um orangotango chamado Leuser, que levou 62 tiros de riffle e ficou cego.
Quanto a Gokong, depois de sair da quarentena, ainda precisou de tratamento intensivo. Desenvolveu muito carinho por seu tratador humano, que estava muito preocupado. McKelson conta que, atualmente, Gokong passa mais tempo brincando com companheiros de sua idade, os orangotangos Nadya, Siboy, Jagai, Cece e Bulan.
Foto: Sumatran Orangutan Conservation Programme
Foto: Sumatran Orangutan Conservation Programme

A convivência está ajudando Gokong a se desenvolver como um animal selvagem, ao aprender habilidades importantes como construir ninhos, resolver problemas, enfim, adquirir independência. Ele também está aprendendo a usar o próprio corpo.
Dessa forma, se algum dia tiver a sorte de ser reintegrado à natureza, Gokong saberá subir em uma árvore.
Foto: Sumatran Orangutan Conservation Programme
Foto: Sumatran Orangutan Conservation Programme

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