O cão Raul, que foi morto no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Catanduva, não estava com raiva. A informação consta no próprio exame do qual o animal foi submetido. Segundo consta no documento da Secretaria de Estado da Saúde, Instituto Pasteur de São Paulo, o cão que foi levado pelo CCZ em 15 de maio e morto no mesmo dia, não estava com o vírus da raiva. O resultado ficou pronto no dia 18 de junho, mas a informação só foi divulgada recentemente. A assessoria de comunicação da prefeitura foi novamente procurada pela equipe de O Regional, mas novamente não respondeu aos nossos questionamentos.
Segundo uma das três protetoras de Raul, Naiara Fonseca, o animal realmente não possuía nenhuma doença. “Quando ele de fato precisou de ajuda para tratamento veterinário nós o socorremos. Ele estava em perfeita saúde, comia, bebia água, passeava na rua, na guia. Ela diz que as protetoras só souberam da ‘suspeita’ de raiva no dia 12 de junho, quando já fazia um mês que ele tinha sido morto. Foi quando a Vigilância entrou em contato conosco. Antes disso, em momento nenhum o argumento de suspeita de raiva havia sido usado como justificativa. A justificativa sempre foi o fato de ele ser bravo”, disse Naiara.
Além de Naiara, Jaqueline Ribeiro e Luana Scopin também eram protetoras de Raul. “Uma moça que até então nunca tinha o visto antes tirou uma foto próxima a ele, pedindo ajuda. Esse é um animal impossível de ressocialização? Talvez após os 90 dias ele poderia não conseguir um lar, como muitos não conseguem, porém a Lei garantia a ele pelo menos uma chance nesses 90 dias”, disse Naiara que inclusive ressalta que ela, Jaqueline e a dona do salão em que Raul ficou tiveram que tomar a vacina e o soro antirrábico sem necessidade, mesmo sabendo que o cão era sadio. Elas realizaram o protocolo que deve ser seguido a pessoas que tiveram contato com animais contaminados, o que não era o caso do Raul.
A morte do cão Raul teve grande repercussão, inclusive, nas redes sociais, já que com a Lei Feliciano Filho, animais com histórico agressivo só podem ser mortos depois de 90 dias, caso não sejam adotados, o que não aconteceu com Raul, que teria sido morto no mesmo dia em que chegou ao CCZ. A denúncia é de Organizações Não Governamentais (ONGs) de proteção animal. As protetoras denunciaram o ato e reúnem provas para encaminhar o caso ao Ministério Público, para que as devidas providências possam ser tomadas. Raul era um cão de rua, com histórico de ataque às pessoas. No entanto, segundo elas, estava saudável.
Elas contam que conheceram o cão em maio deste ano, quando na página ajuda animal pediram socorro, já que ele estava machucado e sangrando. As protetoras dizem que sabiam que ele teve tutor pelo fato de usar coleira, mas nunca tiveram informações de quem pudesse ter sido.
“Quando apareceu machucado passou o fim de semana em um escritório que cedeu o espaço, porém, tínhamos que tirar ele na segunda-feira que reabriria pra expediente, então na segunda (16/03), ele veio para minha casa, onde continuamos o tratamento com antiinflamatórios para a inflamação da fístula”, disse Naiara.
No dia 18 de março, Raul pode fazer a cirurgia. Ele foi colocado em um hotel até que uma amiga das protetoras cedesse uma casa vazia para que elas pudessem continuar cuidando do cão, devido a dificuldade delas de manter Raul no hotel. “Na primeira noite que ficou nessa casa algum vizinho abriu o portão e ele escapou, tínhamos que tomar muito cuidado com portão porque ele escapava mesmo. Raul ficou quatro dias perdido, enquanto isso, fazíamos campanha no Facebook para tentar localizá-lo. Uma moça o reconheceu na rua e o colocou para dentro, como já era tarde, ela esperou até o dia seguinte e nos ligou”, afirmou a protetora.
Como elas não queriam mais correr o risco de soltarem o cão novamente, elas pediram para que uma mulher permitisse que colocassem ele no fundo do salão. “Durante o dia ele passeava na guia de três a quatro vezes. Não me lembro o dia exato, mas no fim de abril ele veio a morder a dona do salão, que ficou com medo de que em outra ocasião, ele pudesse morder alguma cliente e pediu para que tirássemos o Raul de lá”, disse Naiara. As protetoras ressaltam que o cão reagia dessa forma por medo.
As protetoras não possuem abrigos e apontam que nas casas em que moram não há mais vagas para animais. “Cumprimos o protocolo que tem de ser feito após qualquer animal sem vacina morder alguém, ele ficou por mais 14 dias conosco no salão sendo observado. No dia 12 de maio já havíamos combinado com os responsáveis do Centro e Controle de Zoonoses, então eles buscaram Raul”, afirmou Naiara.
As protetoras sabiam que se o animal mordesse alguém, colocasse em risco a saúde e integridade física de algum funcionário, ele poderia ser enquadrado como temperamento agressivo ou bravo e que se depois de 90 dias se não fosse adotado, seria morto. “Então tínhamos 90 dias para conseguir um lar. Depois de um tempo que eles buscaram o Raul, eu e a Jaqueline fomos ao CCZ para ver como ele tinha se acomodado por lá, mas ele já havia sido morto”, disse Naiara. Questionados sobre o motivo de terem matado o cão, os funcionários responderam apenas “15 mil, difícil na queda viu”, com relação a resistência do animal. A informação que as protetoras tiveram é de que Raul foi morto no mesmo dia em que chegou ao CCZ.
Proibido
De acordo com a Lei nº 12.916, de 16 de abril de 2008, do Deputado Feliciano Filho, ficou determinado que o animal com histórico de mordedura, injustificada e comprovada por laudo médico será inserido em um programa especial de adoção, de critérios diferenciados, prevendo assinatura de termo de compromisso, pelo qual o adotante se obrigará a cumprir o estabelecido em legislação específica para cães bravos, a manter o animal em local seguro e em condições favoráveis ao seu processo de ressocialização. Caso o animal não seja adotado em 90 dias, ele poderá ser morto.
Fonte: O Regional