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A claustrofobia

4 de junho de 2015
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Pinho e Nega (Projeto GAP)
Pinho e Nega (Projeto GAP)

Temos 55 chimpanzés no Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba. De origem circense temos mais de 15 indivíduos. Se os observamos, vamos perceber a diferença que existe entre eles, produto da vida a que foram submetidos.
Temos cinco chimpanzés que viveram quase toda a vida, inclusive até nasceram, num dos circos mais conhecidos do Brasil, o extinto Circo Garcia. Esses cinco têm uma característica em comum: são claustrofóbicos ao extremo. Bem diferente da outra dezena que veio de circos diversos.
O Circo Garcia chegou a ter 26 chimpanzés em sua coleção de animais. Em duas carretas, cheias de jaulas, aqueles chimpanzés percorriam o Brasil e viviam anos a fio com a única oportunidade de sair de sua prisão enquanto eram muito jovens, para atuar no picadeiro. Aqueles chimpanzés são profundamente claustrofóbicos.
O Felipinho (Pinho) e a Nega são os mais idosos. Martín e Carioca (irmãos) nasceram de uma relação de seus pais através das grades que os separavam. Bruna, também jovem, viveu enclausurada desde pequena e quando fomos tirá-la da carreta, ela não saía pela porta, e a grade teve que ser serrada.
Quando Felipinho chegou ao Santuário queria arrebentar todas as portas; pouco a pouco percebeu que as portas no Santuário permaneciam sempre abertas, menos nos poucos minutos da limpeza da área que eles usavam. Hoje Felipinho é outro chimpanzé, gentil e carinhoso com todos os tratadores e funcionários do Santuário. A Nega é um caso máximo de claustrofobia, ela nunca dormiu num lugar fechado, ela sobe no brinquedo, no topo da casa externa e dorme lá. Não importa que faça frio ou chova ela se cobre com um cobertor e lá passa a noite e parte do dia.
Martín é outro que não resiste as portas fechadas e até hoje não vale tentar fechá-lo num quarto, porque ele tentará arrebentar a porta, não importa que machuque os braços e pernas. Carioca, seu irmão, é outro caso de claustrofobia extrema. Dorme sempre fora, entra para comer em seu refeitório se não tem ninguém, ou se tem alguém em quem ele confia muito. Entra e sai rápido, olhando para trás e os lados.
Bruna, que mora com Carioca, é outro caso extremo. Só entra no refeitório quando não tem ninguém, com pressa retira sua comida e vai ao exterior. Nunca come num lugar fechado.
Os recintos deles são os que menos trabalho dão para os tratadores, já que a parte interna que é muito usada pelos outros chimpanzés, e precisa de limpeza diária, no caso deles é muito pouco usada e praticamente fica aberta direto.
Todos eles levam para o exterior a comida, revistas, cobertores, etc., para não ter que correr o risco de serem aprisionados entre quatro paredes, que foi a realidade de suas vidas miseráveis quando eram explorados comercialmente.
A claustrofobia (transtorno do pânico) é uma das consequências mais funestas detectada num chimpanzé que foi submetido desde cedo a vida num circo. Felizmente, hoje no Brasil e na maior parte do mundo, a existência de animais em circos é uma prática em extinção, porém aqueles que lá viveram ainda suportam o fantasma que os assombra diariamente, mudando sua forma normal de desfrutar da vida.

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