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Plano de manejo para controle não letal de população de coelhos em área pública de Limeira (SP)

16 de março de 2015
15 min. de leitura
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O presente plano de manejo foi elaborado com vistas à solução de problema relacionado à proliferação de coelhos domésticos ferais em área pertencente à Prefeitura de Limeira. O mesmo plano de manejo pode ser adaptado a outras áreas e, por isso, divulgo-o aqui para conhecimento público.

Foto: Divulgação
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Introdução
Grande número de coelhos está vivendo em área de posse da Prefeitura de Limeira, possivelmente oriundos do abandono de alguns poucos animais que se reproduziram na área.
Por se tratar de população crescendo sem fatores limitantes (grande disponibilidade de água, alimentos e abrigo, bem como ausência de predadores) a população cresce de forma descontrolada, dando possibilidade a que surjam problemas futuros, como pela proliferação do carrapato estrela (Amblyomma cajennense), transmissor da febre maculosa.
Faz-se necessário a implantação de um plano de manejo racional com vistas à solução definitiva da questão, pois medidas paliativas propostas não possuem tal potencial.
Sugeriu-se, por exemplo, proibir a população frequentadora de fornecer-lhes verduras, legumes e frutas, o que limitaria o acesso dos animais a alimentos e aumentaria a competição intraespecífica, causando fome e, consequentemente, menos crescimento populacional.
Foto: Divulgação
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Também, a possibilidade de controle da população com uso de métodos letais como o envenenamento, além de antiético, pode resultar em envenenamento de animais não alvo, como animais silvestres e domésticos que porventura frequentem a área.
O presente plano tem como finalidade buscar uma solução operacional ética e efetiva, para o controle da população de coelhos nessa área de Limeira que, ao mesmo tempo, represente a alternativa menos custosa, de modo a não onerar o poder público.
Caracterização da área
Trata-se de praça municipal cercada, nomeada “Praça Dr. Milton Silveira”, com área aproximada de 21.750 m², situada no bairro Jardim Nova Itália, em Limeira, limitada a norte pela Rua José Antunes de Azevedo Filho, a leste pela Avenida Dona Antônia Valverde Cruãnes, a oeste e sudoeste pela Rua Dr. Milton Silveira, e a sul pela Rua Paschoal Marmo (Marginal da Rodovia Limeira-Piracicaba, SP 147). Coordenadas geográficas 22°33’38″S 47°25’12″W.
Foto: Divulgação
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No centro da praça há uma área de brejo vegetada, bem como uma pequena lagoa, por onde circulam populações de animais silvestres como capivaras e ratões do banhado. Esses animais não estão restritos à área, podendo circular por meio de tubulações de água para áreas contiguas.
Há, em frente ao local, a presença do “Hospital Humanitária”, cujos médicos alegam que os animais podem ser depositários de zoonoses que podem ser transmitidas aos pacientes, como febre maculosa. O restante do bairro tem predominância residencial.
Por ser Área de Proteção Permanente deverá ser solicitada junto à Agência Ambiental de Limeira da CETESB uma Autorização para Intervenção em Área de Proteção Permanente, informando trata-se de serviço de utilidade pública, relacionado à proteção sanitária, e de interesse social, relacionado às atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa. Enfatizar que as atividades de forma alguma incorrerão em supressão de vegetação ou implementação de qualquer obra ou empreendimento fixo, sendo a intervenção limitada a instalações de cercas, telas e currais temporários e que serão removidos ao fim da captura dos animais. Funcionários da Agência já foram previamente consultados e informados sobre o projeto e responderam que fornecerão todo o apoio necessário para sua execução.
Igualmente, funcionários do Departamento de Fauna da Secretaria do Meio Ambiente já foram consultados e informam que o DeFau/SMA não tem nada a opor ao manejo de coelhos europeus (Oryctolagus cuniculus), por se tratar de espécie doméstica, “de produção” e invasora, que pode ser nociva à agricultura, pecuária, saúde pública e ao meio ambiente. De toda forma caberá uma triagem dos animais capturados para atestar que nenhum dos indivíduos pertença à espécie Sylvilagus brasiliensis, espécie de coelho silvestre conhecida como “tapiti”.
Foto: Divulgação
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Caracterização da população de coelhos
Coelhos domésticos (Oryctolagus cuniculus), de origem europeia, sem raça definida, vivendo em condição feral (animais domésticos alçados, vivendo como se fossem animais selvagens). Cada animal adulto pesando em média cerca de 2-3 kg (peso estimado).
Estrutura etária desconhecida, porém é possível visualizar animais adultos e filhotes. Razão sexual não determinada, mas diversos autores (Brambell 1944; Stephens 1952; Phillips 1955; Watson 1957; Myers & Poole 1962; Boyd 1985; Cowan 1991) informam que por ocasião do nascimento de coelhos europeus a razão é 1:1, o que possivelmente não muda com a idade (Smith et alii, 1995).
Informações iniciais citam entre 500 e 600 animais, com população crescente, mas estimativas mais precisas necessitam ser realizadas.
Possível contato dos animais com capivaras e ratões do banhado que também estão presentes na área e ocorrência de ectoparasitos (carrapatos, ácaros de sarna, pulgas, etc).
Foto: Divulgação
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Medidas a serem conduzidas
A decisão pelas medidas a serem conduzidas baseou-se em alguns critérios:
• aspectos éticos – coelhos são seres sencientes e, por esse motivo, sujeitos de direito. Portanto, não foi aventada qualquer hipótese de prejudicar ou eliminar esses animais. O manejo deve ser não-letal;
• aspectos técnicos – escolha pelo método mais efetivo de controle populacional, que seja, a segregação física entre gêneros;
• aspectos econômicos – escolha pelo método menos oneroso e mais efetivo para atingir o objetivo.
O plano compreende várias etapas a serem conduzidas, quais sejam: seleção de dois locais para alocação dos coelhos, captura dos animais, sexagem (segregação de gêneros), atenção veterinária para verificação de ectoparasitas e outras doenças, destinação a novo local e manutenção. Todas as etapas do trabalho deverão ser acompanhadas por membros do Conselho de Direitos Animais ou representantes por eles designados.
Entende-se que a castração dos animais seria onerosa e que sua doação não alcançaria grande sucesso, de modo que esta não será considerada uma opção para a maioria dos animais, mas a proposta tem seu mérito em uma pequena escala.
– Local para alocação dos animais
A prefeitura deverá ceder dois locais para a alocação dos animais capturados. Os referidos locais deverão ser previamente aprovados pelo Conselho de Direitos Animais e possuir área mínima compatível com o número de animais que receberão (se as estimativas iniciais estiverem corretas, cerca de 250-300 coelhos em cada uma das área), deverão ser cercadas, contar com área aberta, abrigos para os animais, comedouros e bebedouros. Importante que a referida área não permita a fuga dos coelhos escavando por baixo da cerca.
Entende-se que muitos dos coelhos recolhidos efetivamente serão doados, já castrados, para particulares que tenham interesse e que demonstrem terem condições de mantê-los, mas a maioria dos animais não poderá ser doada, de modo que terá de permanecer sob a tutela da prefeitura pelo tempo de suas vidas.
No entanto, coelhos não são animais longevos, vivendo no máximo por cinco ou seis anos (sendo que a maioria dos animais já serão capturados adultos), assim sendo, a área deverá permanecer disponível para o projeto por no máximo seis anos, podendo-se supor período bastante inferior.
– Captura
Por se tratarem de animais ferais pode-se supor que os coelhos vivendo nessa área sejam ariscos e espantadiços, repelindo o contato humano. Mas há formas de se efetuar sua captura sem lesar os indivíduos.
Embora a Área seja de Proteção Permanente, é possível solicitar à Agência Ambiental da CETESB autorização para intervenções de baixo impacto, sem supressão de vegetação e sem realização de obras fixas. As intervenções realizadas serão retiradas assim que a totalidade dos animais for removida.
Objetivamente a população de coelhos pode ser toda capturada por meio de cercas ou telas removíveis posicionadas em forma de funil e direcionando para currais móveis e por meio de apanhas individuais por puças. As telas podem ser do tipo tela de galinheiro com aproximadamente 1 m de altura, fixadas em vergalhões enterrados no solo cerca de 30 cm (que posteriormente serão removidos), com espaçamento de 1,80 m. Cuidados especiais deverão ser tomados para que os coelhos não escapem por baixo das cercas, seja sobrepondo outras cercas em ângulo de 90º por uma área de 30 cm em todo o comprimento das cercas, seja colocando outros objetos que impeçam a fuga.
Os minicurrais móveis serão colocados em locais do terreno que naturalmente possibilitem o afunilamento, como o cone formado pela Rua Dr. Milton Silveira e a Av Dona Antônia Valverde Cruãnes (Área A), a esquina da Av Dona Antônia Valverde Cruãnes e da Rua Josè Antunes de Azevedo Filho (Área B) ou em frente ao número 220 da Rua Dr. Milton Silveira (Área C), no limite do terreno com praça contigua não cercada. Após captura dos coelhos todos os currais, cercas e telas serão removidos da área.
Foto: Divulgação
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Os currais móveis poderão funcionar de duas maneiras:
1 – os animais serão por algumas semanas acostumados a buscarem seu alimento diariamente à mesma hora (cevação) em determinado local (Os coelhos tem hábitos noturnos, mas será melhor para sua captura que a ceva ocorra no período diurno, sendo que antes de anoitecer o alimento terá de ser retirado do local). Após esse período, um curral será instalado no local, mantendo aberta a “porteira”, os animais continuarão a ser cevados ali por mais alguns dias, até que o cercado seja fechado com o maior número de animais possível. Após o fechamento, os animais serão capturados manualmente ou dentro de “tocas” previamente colocadas no curral (caixas de transporte de gatos, tubos de PVC de 5’’ fechados em uma das extremidades, etc), tomando o máximo cuidado para não machuca-los ou estressá-los demasiadamente;
2- uma forma de capturar os animais de forma mais rápida é direcionar seu fluxo ativamente em direção ao curral, com uso de cercas formando funis em direção à entrada do mesmo e pessoas transportando barreiras, batendo panelas e outros procedimentos. Após os animais serem acuados e encurralados, proceder a captura manual conforme descrito acima, fazendo uso de puças e luvas de proteção. Nesse caso o tempo para captura dos animais é menor, mas o número de pessoas envolvidas deve ser maior, assim como a taxa de sucesso.
Foto: Divulgação
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Caso a instalação de cercas e currais provisórios não seja, por algum motivo, autorizada pelo órgão ambiental a captura dos animais deverá ser ativa, com grupos de pessoas posicionando tapumes e placas e outro grupo direcionando os animais para esses locais, fechando círculos cada vez mais restritos de modo a facilitar sua captura um a um fazendo uso de puças ou mesmo manualmente.
Para potencialização dessa captura é importante que:
• os animais deixem de ser alimentados pela população de modo que eles tenham como única opção alimentar, além da utilização da vegetação nativa, os locais de ceva;
• as pessoas envolvidas utilizem luvas e botas de cano alto de modo a evitar acidentes. Igualmente, que as pessoas envolvidas tenham habilidade no manejo de animais, de modo a efetuar uma manipulação cuidadosa;
• os coelhos, uma vez acuados, sejam imediatamente capturados de modo que estes não venham a escapar por baixo das cercas ou por outros meios.
– Sexagem e segregação de gêneros
Logo após a captura dos animais deverá se seguir, de imediato, procedimento de segregação entre machos e fêmeas, seguindo características de dimorfismo sexual. O trabalho deverá ser realizado com acompanhamento de veterinários e biólogos.
coelho 8
As fêmeas necessitarão ser observadas individualmente por 30 dias (período da gestação na espécie) após a captura, para verificar se parirão filhotes (láparos). Caso sejam observados nascimentos, os filhotes deverão ser mantidos com a mãe até o desmame, que ocorre por volta do 30º dia de vida e, após, os machos terão de ser separados (pois a a maturidade sexual na espécie ocorre aos 4 meses de idade).
Os machos, após passarem por exames veterinários com vistas a verificar a presença de ectoparasitas e outras doenças já poderão ser destinados, de imediato, para a área reservada para sua alocação mesmos. Os filhotes machos nascidos das fêmeas capturadas se juntarão a esses machos após 60 dias.
Por ocasião da sexagem e da manipulação por biólogos e veterinários poderá se perceber se algum dos indivíduos cpturados pertence à espécie Sylvilagus brasiliensis. Caso seja este o caso o(s) indivíduo(s) deverá ser imediatamente devolvido ao local de onde foi retirado.
– Atenção veterinária
Por ocasião da captura os coelhos passarão por exame veterinário para verificar a presença de ectoparasitas (piolhos, ácaros, carrapatos, pulgas, etc) nos pelos e nos pavilhões auriculares dos animais.
Os animais serão também observados em relação à ocorrência de possíveis enfermidades, problemas de pele, etc. Em todos os casos os animais receberão atenção veterinária.
A referida atenção veterinária poderá ser cedida por Universidade, ONG ou clínica particular, conforme articulação da Prefeitura ou do Conselho de Direitos Animais.
– Manutenção
Os animais serão destinados para áreas cedidas pela Prefeitura ou por particulares que se prontifiquem a cuidar dos animais sem utilizá-los em processo de exploração (portanto, estão descartados cunicultores, peleiros, particulares que criem animais para o abate, bioteristas, o uso dos coelhos para alimentar animais carnívoros, etc). Os animais doados para particulares deverão estar castrados.
As áreas da Prefeitura onde os animais serão alocados deve possuir:
– Cercas que impeçam a saída dos coelhos, bem como o acesso de cães, gatos e pessoas não autorizadas;
– Tamanho da área deve ser compatível com o tamanho da população;
– Área deve permitir que os animais expressem grande parte de seu comportamento natural, devendo haver áreas para que os animais possam ter contato com a terra, com a luz solar e esconderijos suficiente para abrigar a todos das intempéries;
– Na área deverão ser instalados comedouros e deve haver ligação de água que possibilite a dessedentação dos animais, bem como a limpeza regular do local.
A alimentação será providenciada pela prefeitura, podendo esta se constituir em sobras de verduras, legumes e frutas obtidas na limpeza da feira livre (segregadas antes de serem juntadas aos resíduos coletados no município), de aparas de capim e grama oriundos do serviço de jardinagem municipal ou de doações de particulares. Para cálculos de quantidades considerar que cada coelho consumirá em média 200 gr por dia (1 Kg de alimentos para cada 5 coelhos por dia, ou 20 Kg para cada 100 coelhos).
A prefeitura deverá disponibilizar pessoal para alimentar os animais diariamente e efetuar periodicamente a limpeza dos recintos.
– Castração e doação
A cirurgia de castração em coelhos consiste na remoção dos testículos e da bolsa escrotal nos machos e dos ovários, ovidutos, útero e colo do útero das fêmeas. A cirurgia é bastante positiva para a saúde do individuo, e em termos de adequação ao convivo com seres humanos (evitando que o coelho macho urine para marcar território).
Porém, trata-se de processo oneroso (cada castração de coelho macho pode ser feita por R$ 75,00, no melhor dos casos; de fêmeas custa ainda mais), que demanda cuidados especiais durante a anestesia e no pós cirúrgico (que pode durar de 5 a 7 dias).
Assim sendo, a castração de todos os indivíduos não será aqui recomendada, mas tão somente dos indivíduos a serem doados.
Supondo tratarem-se de 500 ou 600 indivíduos, pode-se supor que um número mínimo virá a ser doado, ainda que com a ajuda e empenho de indivíduos e sites da internet (http://adoteumorelhudo.com/, por exemplo).
Adoção, portanto, não será uma opção para a maioria dos animais, mas a proposta tem seu mérito em uma pequena escala.
As doações deverão ser mediadas pelo Conselho de Direitos Animais. Os coelhos doados para particulares deverão estar castrados e somente serão repassados aos seus tutores mediante assinatura de um termo de responsabilidade.
Tempo para a solução do problema
O tempo de vida de coelhos pode chegar a 8 anos, porém, essa expectativa se aplica a coelhos anões, criados em condições ideais dentro de casa e com uma grande variabilidade genética. Os coelhos em questão, provavelmente oriundos de endocruzamentos, tem expectativa de vida de no máximo 5 ou 6 anos, sendo a maioria deles já adultos.
Considerando que após a segregação de gêneros não haverá mais nascimentos, 5 a 6 anos é o tempo máximo estimado para o fim do projeto, podendo-se supor tempo inferior.
Recursos necessários
Etapa de captura
100 m de tela de galinheiro com aproximadamente 1 m de altura.
60 vergalhões de aço de 1,5 m.
1 rolo de arame maleável (para fixar a tela aos vergalhões).
20 tapumes de madeira.
20 varas de bambu de 2 metros para desentocar os animais e acua-los
60 metros de paliçadas de madeira com no mínimo 75 cm de altura (paliçadas podem ser construídas com madeira de caixa de frutas e serão usadas para construir o curral móvel).
200 caixas de transporte de animais ou caixas de papelão com capacidade para até 3 coelhos.
10 puças
1 veterinários
1 biólogo
20 pessoas para acuar os animais
20 luvas de raspa
20 botas de PVC cano alto
Estudantes de veterinária
Recursos para tratamento de ectoparasitoses, vermifugação e primeiros socorros.
Manutenção
– 2 áreas cercadas com pelo menos parte do terreno ao ar livre, com ligação de água. Disponibilidade para o projeto por pelo menos 5 anos.
– 100 Kg/dia de sobras de feira e aparas de capim e grama, supondo 500 coelhos.
– 1 tratador

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