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Alex: um chimpanzé apaixonado

25 de fevereiro de 2015
4 min. de leitura
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Alex e Jamaica (Projeto GAP)
Alex e Jamaica (Projeto GAP)

Alex é um chimpanzé diferente. Quase toda sua vida viveu no Circo, onde trabalhou em todo tipo de coisas, incluindo o Globo da Morte, onde chimpanzés pilotando motos davam voltas dentro, o que poderia ser mortal para homens e primatas. Alex é atlético, foi obrigado a fazer exercícios para se manter esbelto, não tem barriga, como muitos outros chimpanzés de vida livre e cativeiro. Anda muito em dois pés. Tem fobias, como gritar desesperado quando vê um cobertor, ninguém sabe o motivo. Alex também não tem dentes, todos foram arrancados cirurgicamente para poder ser usado quando adulto no Circo.
Alex andava pelo Brasil todo, se hospedava até em hotéis, com seu controlador, e fazia suas necessidades no banheiro. Alex viajava com frequência para Argentina, onde seu Circo se apresentava, aí aprendeu a tomar leite. É só falar a palavra “leche” para ele, que faz o gesto de tomar o leite e o pede.
Alex morou no Santuário vários anos com Carolina. Ambos eram apaixonados, mas não tinham intimidade sexual. Carolina tinha dentes e um gênio forte. Disputava com ele os alimentos que mais gostava e várias vezes o mordeu. Alex se defendia como podia, já que estava inferiorizado por não ter dentes.
Os dentes nos chimpanzés são a sua arma de defesa, a última que usam quando a briga é para valer. Ameaçam com a mordida para dissuadir inimigos. César, o bebê chimpanzé que agora já está morando com a mãe Samantha e suas irmãs, sabe usar os dentes para dissuadir as irmãs de jogos mais violentos. Quando ele mostra os dentes, todas se mandam a correr.
Eu sempre tive muita lástima de Alex, como de todos aqueles que não têm dentes. Só por essa razão, os Circos com Animais deveriam ser banidos de todos os países da face da Terra. É um crime terrível.
Carolina morreu de um câncer no peito fulminante, dois anos atrás. Alex ficou sozinho e têm poucas fêmeas no Santuário. O seu vizinho de recinto e do passado no Globo da Morte, o chimpanzé Bob, que também não tem dentes, não se deu bem com ele e pela janela às vezes brigam.
Três meses atrás, chegaram do Sergipe um chimpanzé macho, Martín, e sua companheira Maria das Dores, ambos com dentes, acompanhados de Jamaica (um nome absurdo para alguém), uma chimpanzé jovem, que no Circo onde ficou também perdeu a maioria dos dentes. Neste caso, a extirpação não foi cirúrgica, foi improvisada por gente que nada sabia e pequenos pedaços de dentes e osso ainda permanecem em sua boca.
Jamaica apanhava de Martín, como acontece, quando ela não podia se defender; era submissa a ele, para evitar seus acessos de fúria. Alex, seu vizinho ficava furioso ao vê-la sofrer. Dias atrás decidimos acabar com os sofrimentos dela e a solidão de Alex. Maria perdia uma amiga, mas o benefício para Jamaica e para Alex seria bem superior.
Quando se encontraram no túnel, onde Alex entrou para ir buscá-la, já que ela tinha medo de se encontrar com ele no recinto, o abraço foi imediato, pois ambos perceberam que estavam em igualdade física ao faltar os dentes e ninguém seria superior na relação.
Os escândalos de cada entardecer quando Jamaica apanhava de Martin cessaram. Alex e ela dormiram juntos na casa externa nas primeiras noites e depois separados, já que Jamaica faz seu ninho com cobertores e Alex tem trauma de infância dos mesmos – ele dorme nas camas do dormitório, cobrindo-se com TNT (Tecido Não Tecido).
Bob, o vizinho e ex-companheiro do Globo da Morte, observa o novo casal da janela. Quando Jamaica vai lá para cumprimentá-lo, Alex já fica ciumento e se arrepia andando em dois pés, mostrando sua força.
Alex soube amar Carolina intensamente, apesar das diferenças físicas, os beijos de minutos de ambos foram antológicos no Santuário. Temos certeza que Jamaica saberá viver e sentir um profundo afeto por este chimpanzé que não mereceu o que a vida lhe deparou.
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

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