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Conheça a história da ativista que protesta contra o SeaWorld há trinta anos

19 de dezembro de 2014
6 min. de leitura
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(da Redação)

Foto: Jane Cartmill
Foto: Jane Cartmill

Há cerca de 30 anos antes do lançamento do filme “Blackfish”, no dia 27 de maio de 1984, Jane Cartmill entrou no SeaWorld de San Diego (Califórnia, EUA) para o seu primeiro protesto no parque. Ainda amanhecia quando as pessoas se reuniam para o evento. A questão que provocou o protesto foi uma proposta do SeaWorld de capturar 10 orcas na costa do Alasca e treiná-las para servir de entretenimento no parque, um plano que foi rejeitado pelo governador do Alasca na época, Bill Sheffield. Outras 90 orcas também deveriam ser capturadas, e usadas para pesquisas. As informações são do The Dodo.

“O grupo protestou com lápides de pedra, cada uma ostentando o nome de uma orca que morreu em cativeiro”, recorda Cartmill. A manifestação foi um sucesso, e o projeto do parque foi cancelado.

Posteriormente, Cartmill juntou-se à ativista Sally Mackler para inaugurar a primeira unidade da PETA em San Diego. Em 1988, a PETA desativou a unidade e o grupo de Mackler passou a se chamar San Diego Animal Advocates (SDAA). A organização começou a crescer, lidando com questões locais, de vivissecção à crueldade em rodeios.

O seu foco mudou no dia 21 de Agosto de 1989, quando duas orcas fêmeas, Kandu e Corky, colidiram em frente a espectadores horrorizados durante uma apresentação no SeaWorld. Kandu quebrou a sua mandíbula superior, fazendo o sangue jorrar de sua boca enquanto o seu filhote Shamu a assistia morrer.

“Mas hoje, menos de 24 horas após ter visto a morte de sua mãe, o bebê Shamu estava de volta à principal performance com Corky”, divulgou o San Diego Evening Tribune no dia seguinte.

Foto: Jane Cartmill
Foto: Jane Cartmill

“Uma colisão entre duas orcas acontece em cativeiro, nunca na natureza”, lembrou Cartmill. “Foi aí que as coisas se aceleraram para nós”.

A SDAA passou a organizar grandes protestos no SeaWorld, duas a três vezes a cada ano.

Em 1991, o grupo se reuniu ao Dr. Paul Spong que concebeu um plano chamado “Free Corky” (“Liberte Corky”) para retornar uma orca chamada JJ para o seu habitat, aclimatando-a ao oceano em etapas, similar ao evento que inspirou o filme “Free Willy”, de 1993.

“Apesar de nossas manifestações não terem resultado em sua libertação, foi provavelmente a primeira vez que o público entendeu que Shamu era, na verdade, Corky, e que cada orca que se apresentava no SeaWorld foi nomeada de Shamu, para criar a ilusão de que ela nunca morreu”, disse ela. A orca Shamu “original”, na verdade, morreu em 1971.

Em 1993, Mackler mudou-se para o Oregon e Cartmill tornou-se presidente da SDAA. Ela era uma guerreira improvável e de aparência conservadora, refletindo sua origem de New England.

“Eu sou tímida e realmente não é minha natureza partir para o confronto”, explicou Cartmill. “Mas eu preciso, porque essas coisas têm que ser ditas. É um tremendo erro a maneira como tratamos os animais”.

Jane Cartmill, à direita, protestando em San Diego, em 1997. Foto: Jane Cartmill
Jane Cartmill, à direita, protestando em San Diego, em 1997. Foto: Jane Cartmill

Cartmill continuou a liderar protestos no SeaWorld até 2007, quando seu caminho de entrada foi reconfigurado e mudou-se para ainda mais perto da vista do público.

“Nós nos mudamos para mais perto da entrada, mas fomos informados que precisávamos voltar para a rua”, disse Cartmill, acrescentando que, em 2010, ela processou o SeaWorld por violação dos direitos de liberdade de expressão sob ameaça de prisão, embora o terreno do parque fosse de propriedade da cidade. A decisão do processo é esperada para o início da primavera de 2015.

Por mais de 20 anos, a SDAA foi o grupo predominante dos direitos animais nos protestos contra o SeaWorld. Nos últimos anos, Cartmill afastou-se como organizadora e juntou-se a protestos liderados por jovens ativistas, onde ela disse que o apoio continua a crescer e afetar a linha de fundo do SeaWorld.

“Quando eu participei de um protesto no SeaWorld em 26 de outubro, eu comentei com um amigo quantos gestos de aprovação recebemos agora – gritos de apoio e buzinadas, e polegares para cima – em comparação com anos atrás, quando constantemente ouvíamos ‘Vão procurar o que fazer!’, ou ‘Nós amamos Shamu’ “, lembrou. “Realmente, eram só insultos arremessados para nós no início e, é claro, a ‘saudação’ com o dedo médio. Agora você não vê mais isso; pra dizer a verdade, quase nunca acontece”.

Cartmill disse que a maior mudança foi notada desde o lançamento do filme “The Cove”, que revelou as atrocidades da matança de golfinhos em Taiji e as ligações com a indústria do cativeiro.

Depois de ‘Blackfish’, então, os aplausos para os manifestantes aumentaram ainda mais”, disse ela. “Em 1984, as pessoas simplesmente não sabiam ou entendiam o que se passava nos bastidores. Agora, muitas pessoas sabem”.

Ela credita o aumento da taxa de participação nos protestos a dois fatores: a decisão da CNN de transmitir Blackfish repetidamente, e as mídias sociais, principalmente o Twitter e o Facebook.

“Nos velhos tempos, eu iria pegar o telefone e enviar cartas com semanas de antecedência”, disse ela. “Agora eles marcam um protesto para o mesmo dia. Eu estava em uma manifestação no último domingo no SeaWorld e havia uma garota em seus vinte e poucos anos, e nós comentamos há quanto tempo vínhamos participando. Ela ficou surpresa ao ouvir que fazemos isso há 30 anos”.

Cartmill explicou que SeaWorld tem a oportunidade de se reinventar, afastando-se do modelo de cativeiro, e concentrando-se em reabilitação como o fez com sucesso em abril de 1998 com JJ, a filhote de orca mencionada anteriormente, que foi encontrada encalhada e foi transportada para SeaWorld por um cidadão.

Conforme JJ ganhou peso, ela superou o tamanho do seu tanque, o que deixou o  SeaWorld sem nenhuma escolha a não ser libertá-la. Cartmill se lembra da emoção no momento em que equipes de reportagem e centenas de pessoas seguiram JJ sendo transportada para a beira da água e levada duas milhas adentro, até que gentilmente baixou para o oceano – o seu lar.

“Houve muito alarde na ocasião, e aprovação popular como nunca antes”, conta Cartmill, acrescentando que se o SeaWorld se tornasse um centro de reabilitação e educação, ele também poderia oferecer “passeios aquáticos deslumbrantes e temáticos, e exposições interativas com animação, holografias e outros recursos de alta tecnologia”.

Enquanto Cartmill tem sido crítica quanto ao SeaWorld, ela afirma que ainda piores são os locais menores, como Miami Seaquarium, Gulfarium, Dolphin Research Center e Dolphins Plus, na Flórida.

A única esperança para melhorar as condições, ela explica, é as pessoas se envolverem. Se elas não se sentem confortáveis para protestar, Cartmill diz que elas podem usar camisetas com uma mensagem de direitos animais, escrever cartas ao Congresso ou se juntar a um grupo de direitos animais onde podem ajudar de diversas formas.

“Há uma série de coisas que você pode fazer, mas não fique em silêncio”, disse ela. “É difícil para as pessoas, e é difícil para mim. Eu, por exemplo, odeio falar em público, mas venho fazendo isso há mais de 30 anos”.

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