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A relação entre o consumo de carne e laticínios e a seca em São Paulo

7 de novembro de 2014
3 min. de leitura
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Já não é nenhuma novidade o fato de que o estado de São Paulo está à beira do colapso no abastecimento de água. Os reservatórios do Sistema Cantareira já estão com pouco mais de 10% da capacidade, mesmo com o uso do segundo lote do chamado volume morto. E diversas cidades metropolitanas e interioranas e muitos bairros da capital paulista estão enfrentando interrupções cada vez mais longas e frequentes no fornecimento de água. Você não sabia, mas essa seca tem ligação íntima com a carne que você come e o leite que você toma.
Diversos alertas têm sido dados nos últimos meses, por ambientalistas e geógrafos, como esse aqui. Segundo eles, a estiagem histórica que tem impedido a renovação dos reservatórios paulistas se deve, pelo menos parcialmente, à interrupção de um fluxo de umidade atmosférica vindo da Floresta Amazônica. E essa anomalia climática, que fez o ano de 2014 não ter uma temporada de chuvas no estado, tem como culpado o desmatamento desse ecossistema, que já lhe consumiu 20% da extensão vegetacional original.
E um outro problema, também de ordem ambiental, tem diminuído a capacidade de armazenamento e renovação dos mananciais paulistas. É o desmatamento das matas ribeirinhas das bacias hidrográficas paulistas.
E adivinhe só: ambos os cataclismos têm como um dos grandes responsáveis a pecuária. O relatório TerraClass, do INPE, denuncia que pelo menos cerca de 66% do desmatamento amazônico até 2009, uma área em torno de 460 mil quilômetros quadrados – maior do que a extensão somada dos estados de Mato Grosso do Sul e Pernambuco – são creditados diretamente à criação de animais, especialmente gado bovino.
Há fontes, no entanto, apontando que a culpa da pecuária é ainda maior. O pesquisador Paulo Maurício Lima de Alencastro Graça, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, apontou em 2007 que nada menos que 80% de toda a destruição da Amazônia é responsabilidade da abertura de pastos – isso considerando só o gado bovino.
Esse número pode ser ainda maior, se considerarmos a contribuição daquelas plantações que, semeadas também em terrenos amazônicos desmatados, fornecem soja, milho, sorgo, trigo etc. para outras criações animais, como porcos, galinhas, ovinos e caprinos.
No âmbito estadual, o portal O Eco denunciou que a atividade pecuária também está envolvida com o desmatamento da Mata Atlântica da bacia de drenagem do Sistema Cantareira. Segundo reportagem de fevereiro deste ano, os pastos de consumo animal e as plantações de eucalipto, juntos, são culpados pelo desmatamento de 47% das Áreas de Proteção Permanente, compostas por matas ciliares, daquela região.
O que isso tudo significa é que é graças, em parte, à carne e aos laticínios que você consome – e dos quais se recusa a abrir mão – que a água na torneira de sua casa está começando a faltar. E não é só isso: a economia brasileira como um todo está ameaçada, já que a indústria, o comércio e os serviços do estado de São Paulo, que atendem também os demais estados, estão sob perigo por causa do desabastecimento completo que está chegando.
Ou seja, ao comer carne e laticínios, você está contribuindo, junto com outros milhões de consumidores desses alimentos, para que esteja faltando água em seu estado, sua cidade, seu bairro, sua vizinhança, sua casa. Abra a torneira e reflita se vale a pena continuar ignorando ou retrucando com argumentos fracos os alertas dos veganos e vegetarianos e também de muitos ambientalistas.
Pense se é aceitável colocar o consumo desses produtos – que não são essenciais à saúde humana e assim podem ser substituídos por uma alimentação vegana – acima não só da dignidade e vida dos animais não humanos, mas também do bem-estar comum dos seres humanos, incluindo o seu próprio.

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