EnglishEspañolPortuguês

Compaixão pelos animais

21 de agosto de 2014
5 min. de leitura
A-
A+
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

“Mas no entanto (consegues acreditar?) eu tenho visto o próprio homem que se gaba da sua ternura, a devorar de uma só vez a carne de seis animais diferentes num fricassé. Estranha contradição de conduta! Têm piedade, e comem os objetos da sua compaixão!”.

Oliver Goldsmith (1730 – 1774), escritor inglês

Segundo o Dicionário Online de Português, o significado de compaixão é: s.f. Sentimento de pesar que nos causam os males alheios, bem como uma vontade de ajudar o próximo.
A palavra “compaixão” vem do latim compassione, e não é pena nem empatia. Compaixão é envolvimento. É o desejo de aliviar o sofrimento alheio por intermédio de ações, intervenções que irão ajudar efetivamente quem sofre. É uma relação ativa, no sentido de minorar o sofrimento do próximo.
Compadecer-se é “sofrer com”, mas não passivamente – é não ser indiferente. A compaixão é um amor que se realiza no outro, outro ser senciente. Não é sacrifício. É um amor de ordem prática.
Como ensina o Dalai Lama (1935), filósofo: “É importante saber o que é compaixão, algumas vezes pensamos que é pena, mas isso não é compaixão.Compaixão é o senso de preocupação, mas mais do que isso, é a noção clara de que todos os seres têm exatamente o mesmo direito à felicidade. Essa compreensão é que nos traz a compaixão.”
E, animais possuem emoções como os seres humanos. Um estudo, realizado na Universidade de Bristol, coordenado por John Webster, professor de Reprodução Animal em Bristol, e autor do livro “Animal Welfare: Limping Towards Éden”, mostra que as vacas têm vida sentimental que inclui emoções como a amizade, rancor e frustração. Os pesquisadores constataram que as vacas formam, dentro de uma manada, pequenos grupos de amizade e trocam cuidados entre si.
Ainda, segundo este estudo da Universidade de Bristol, os animais estão mais próximos dos seres humanos, sob o ponto de vista emocional, do que até aqui acreditava-se. Keith Kendrick, professor de Neurobiologia do Instituto Babraham, em Cambridge, descobriu que ovelhas conseguem estabelecer relações de amizade com humanos, entrando em depressão por separações longas e, festejando a volta do tutor, mesmo depois de três anos de afastamento.
O psicólogo de animais, Patfield, afirma que bois possuem memória emocional. Em sua experiência, um boi e um bezerro presenciaram a matança de cento e cinquenta bois. O boi foi mantido isolado e o bezerro colocado num rebanho. Passaram-se dois anos. Após esse tempo o boi reconheceu os abatedores que haviam matado seus companheiros. Ele gemia e urrava de medo, com a aproximação daquelas pessoas. No rebanho, o bezerro foi o único animal que fugiu quando os homens (abatedores) aproximaram-se e, desembestou em pânico.
O escritor contemporâneo e veterinário Richard Pitcairn reitera o que afirmava Charles Darwin (1809 – 1882), naturalista britânico: “É uma verdade inegável o fato de que os animais têm estados emocionais e sentimentos. Quem convive com eles, pode ver isso facilmente, embora não seja algo de que as pessoas precisam estar intelectualmente convencidas. Não existe dúvida, na minha mente, de que os animais apresentam o mesmo leque de emoções que as pessoas: amor, medo, raiva, tristeza, alegria, e assim por diante”.
E, em relação aos animais, como se aplica a compaixão? Não é somente amor, ternura, pelos animais com os quais convivemos. Compaixão é também respeito com todos os animais. Como ensina Miguel Moutinho, presidente da Sociedade Ética de Defesa dos Animais de Portugal “Animal”: “O primeiro passo para respeitar os animais é deixar de comê-los”. Compaixão é acolhimento ativo, e o primeiro movimento é não comer carne – qualquer tipo de carne. É entender que não existe “abate humanitário”, que os animais sofrem para serem abatidos, e que eles possuem sua próprias razões para existirem: criam laços de família, de amizade, de amor.
Para quê comer a carne de seres que possuem as mesmas emoções e inteligência que seres humanos? Um estudo recente sugere que a inteligência percebida em um animal é o principal fator para desestimular o consumo de sua carne. Esse estudo publicado na “Science Direct”, revista científica, chama-se “Too Close to Home. Factors Predicting Meat Avoidance”, foi escrito por psicólogos da Universidade de Columbia Britânica, Canadá, e trata sobre os fatores que levam as pessoas a evitar o consumo de carne. Segundo o estudo, as pessoas tendem a atribuir níveis mais baixos de funcionamento mental aos animais que estão prestes a comer. Outro estudo recente realizado por pesquisadores de Universidades da Austrália e Grã Bretanha concluiu que muitas pessoas que comem carne experimentam um conflito moral ao se lembrarem da inteligência dos animais que estão consumindo. “Embora a maioria das pessoas não se importe em comer carne, elas não gostam de pensar que os animais que estão comendo têm mentes inteligentes”, escreveram os pesquisadores no “Personality and Social Psychology Bulletin”, revista científica internacional. Os variados estudos levam à mesma conclusão: quanto mais inteligente é um animal, mais eticamente desagradável é comer sua carne.
E mesmo que não tivessem inteligência e emoções, todos os animais, inclusive insetos, sentem dor. Igual a você e a mim. *
Todos nós podemos agir com compaixão, comiseração, gentileza para com aqueles que sofrem tão brutalmente.
Deixar de comer carne é compadecer-se, é não ser indiferente.
David Hume (1711 – 1776), filósofo, historiador e ensaísta escocês, no seu Tratado da Natureza Humana (“A Treatise of Human Nature” 1738) afirma:
“Ninguém é completamente indiferente à felicidade ou a miséria dos outros”.
Tenha compaixão pelos animais, pois eles são como nós. Não os coma.
* Os insetos sentem dor?
Sim, segundo o fisiologista Gilberto Xavier, pesquisador da USP, “Universidade São Paulo”:
“Os insetos possuem terminações nervosas similares às que nós, humanos, temos. Por isso, é razoável supor que eles possuem algum tipo de percepção sensorial equivalente ao que nós chamamos de dor. Além disso, o animal é capaz de fazer uma aprendizagem de esquiva, afastando-se de algo que lhe causa desconforto”. Os insetos possuem receptores nervosos convergentes – suas terminações nervosas são na pele e possuem ainda mecanismos de bloqueio de dor diferentes e mais eficientes que os dos humanos. Graças a esses mecanismos, uma barata continua a andar mesmo depois de ter uma perna arrancada. Se possuem mecanismos de bloqueio da dor, é porque sentem dor.

Você viu?

Ir para o topo