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19 tartarugas são encontradas mortas nas praias da Boa Vista, Cabo Verde

13 de agosto de 2014
8 min. de leitura
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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A campanha de proteção das tartarugas marinhas (Caretta caretta) na ilha da Boa Vista já vai este ano manchada com a captura confirmada de 19 fêmeas. Entretanto há quem diga que o número é bem maior. A saída dos militares que nos últimos seis anos deram “uma grande cobertura na defesa destes animais”, terá facilitado a atividade desses “predadores”, garantem as ONGs de proteção à espécie. Mas, segundo o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, Alberto Fernandes, a decisão de retirar os militares das praias da Boa Vista é meramente política. No entanto, o diretor geral do Ambiente, Moisés Borges, afiança que o governo está em negociação para resolver o caso ainda durante esta época de desova, que já vai a meio. Enquanto esperam e desesperam pelos militares, a Natura 2000 já contabilizou 18 fêmeas mortas durante o último mês e a Fundação Tartaruga encontrou uma tartaruga morta nas praias que patrulha.
A ONG Natura 2000 e a Fundação Tartaruga estão desesperadas com o ritmo de matança das tartarugas na Boa Vista. E a ausência dos militares pode vir a representar até ao final da época a multiplicação das churrascadas, “friginote” e outras bafas feitas com os ovos de tartaruga. Aliás, a grande questão é que os boavistenses nunca abandonaram essa prática – mesmo com a presença constante dos militares os caçadores mataram perto de 40 tartarugas nas praias vigiadas (cerca de 30 nas Praias da Natura e 10 nas da Fundação Tartaruga). Números comprovados. No entanto, quantas mais terão sido mortas e não contabilizadas? Quantas serão mortas até ao final da época se os militares não forem destacados? Conta impossível de ser feita. Com certeza muitas!
O modus operandi
De realçar, por outro lado, que as próprias entidades de proteção reconhecem que os caçadores têm desenvolvido técnicas para camuflar as suas capturas: Até há pouco tempo atrás, segundo explicam, a captura era feita antes de os animais depositarem os ovos, ou pouco depois – Atualmente deixam as tartarugas regressarem à linha de água e só depois as carregam sem deixar rastos na areia, fazendo com que pareça aos vestígios de uma tartaruga que fez o seu processo reprodutivo de forma normal. Daí a dificuldade em identificar efetivamente o número das apanhas (aliciantes até porque um quilo desta carne é vendida por cerca de 800 escudos/quilo). Exatamente por causa disso, são necessárias medidas dissuasoras.
A presença dos militares nas praias é tida por estas organizações de “vital importância” tendo em conta que a população não está sensibilizada para o não consumo das tartarugas. É que, mesmo com a tropa nas praias, as estratégias dos caçadores e a própria vegetação abundante nestas praias, aliado ao fato de ser noite, dificulta o sucesso da patrulha. De quando em vez lá conseguem roubar uma tartaruga das praias vigiadas. Às praias não vigiadas, só Deus protege.
As causas da ausência dos militares
Em declarações, o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, Aberto Fernandes, disse que a decisão foi movida por ordem política. Na base estarão várias questões como: os conflitos desencadeados na zona Norte no ano passado, quando os militares se envolveram em confrontos com a comunidade, o que desembocou em várias quezílias (foram acusados de falta de preparação para atuar no meio civil). Ainda como causa estará a falta de alojamento visto que parte dos militares estavam instalados no Centro de Protecção Civil da ilha que foi solicitado pela Câmara Municipal. Outra questão apontada por Aberto Fernandes é que, embora a comunidade e as ONGs reconheçam que os militares prestaram um bom trabalho, ficou a sensação (principalmente da parte dos políticos) que os militares não eram bem vindos à Boa Vista – daí não terem regressado.
Um outro argumento apontado é que dado o recente aumento do contingente policial da ilha (mais 10 agentes), a polícia poderia dar cobertura ao trabalho de proteção das tartarugas. No entanto, da esquadra de polícia até à praia com maior densidade (Ervatão) durante o dia e para quem conhece o trajecto, leva quase uma hora. Uma deslocação nocturna levaria muito mais até porque a estrada (principalmente depois dos Tarafes) é de péssima qualidade. Os militares ficavam acampados nas praias e patrulhavam todas as noites – o argumento de que os policiais podem cobrir de forma eficaz a ausência dos militares é, por isto, falacioso.
Há ainda uma quarta causa aventada, que é uma suposta divida da Direção Geral do Ambiente aos militares mas essa informação não foi confirmada.
O contingente destacado para Boa Vista era de 26 militares: 10 estavam de forma semi-permanente no programa Turismo Seguro e 16 deviam prestar serviço durante a época de desova das tartarugas (julho a outubro).
A visão do Governo
Na ilha da Boa Vista estiveram na última semana de julho, o ministro do Ambiente, Antero Veiga, e o director Geral do Ambiente, Moisés Borges, para se inteirarem das questões ambientais da ilha, sendo que a situação das tartarugas também foi abordada.
Em declarações à reportagem do Asemanaonline, Moisés Borges afiançou que a Direção Geral do Ambiente, juntamente com o seu Ministério, está em negociações com as Forças Armadas para ver se conseguem deslocar, ainda nesta época, alguns militares à Boa Vista.
Moisés Borges congratula-se com o trabalho das ONG’s em prol da protecção das tartarugas, mas advoga que é igualmente importante que os cabo-verdianos parem de consumir a sua carne. Defende que é crucial que os cabo-verdianos ganhem noção da importância que esta espécie já representa para o país (principalmente no setor turístico). Até lá, há ainda um longo caminho a percorrer na maratona de sensibilização de todo um povo. Daí a importância dos militares nesta primeira fase.
Mas há uma pergunta que não se cala: como é que a nossa classe politica mesmo sabendo da importância do fator persuasivo dos militares nas praias de desova e do valor das tartarugas, tomam uma decisão destas que coloca claramente em causa a segurança de uma espécie protegida? Onde está a real vontade política para com o ambiente?
As dificuldades
O preocupante é que as praias guardadas pela Natura 2000 são, segundo a diretora do acampamento, Maria Soares, muito aliciantes: primeiro porque ficam muito perto do Norte e depois porque são as que têm maior densidade (mais atrativas por conseguinte).
A Turtle Foundation patrulha uma área total de 29 quilómetros, dividida em diversas praias, e conta com um grupo a volta de 50 pessoas (dividida em turnos) para a fiscalização. A Natura 2000 tem 30 voluntários para patrulhar uma área de 15 quilómetros (de Ervatão a Porto Ferreira). Bios CV é encarregue da Praia de João Barrosa (5 quilómetros) que é muito frequentada pelas excursões de “Turtle Watch” daí ser evitada pelos caçadores. Mas a Bios Cv conta com 15 pessoas para guardar as praias.
Os desafios
O desafio maior é certamente a ainda enorme apetência para se comer carne de tartaruga; Mais: Conseguir controlar as praias que são extensas e com muita vegetação, o que dificulta quem vigia; Sensibilizar as pessoas; A falta de legislação que puna efetivamente os infratores; A falta de legislação em matéria do Eco-turismo (que ainda não se sabe quando será aprovado) de forma a trazer benefícios reais às comunidades, principalmente às integradas nas Áreas Protegidas.
A reivindicação dos boa-vistenses
Os Boa-vistenses (principalmente do Norte) têm criticado fortemente as atividades derivadas da protecção das tartarugas e as queixas são inúmeras: Criticam as ONG’s que empregam poucas pessoas locais; Contestam o fato de nada ou muito pouco receberem em troca dos distúrbios feitos pelos carros que passam à noite para as excursões (Norte).
Este ponto é tido e reconhecido, principalmente pelas entidades responsáveis como de mais complexa resolução visto que as pessoas, vendo que outras entidades (operadores turísticos) lucram com as tartarugas e as suas comunidades pouco beneficiam –defendem que comer tartaruga é a forma que encontraram para também ganharem alguma coisa com esta espécie que afinal das contas pertence aos boa-vistenses. Mais: exigem que a gente (principalmente do Norte) tire algum benefício desta espécie. Aí a Direcção Geral do Ambiente (DGA), o Instituto Nacional do Desenvolvimento das Pescas (INDP), a Câmara Municipal da Boa Vista, as próprias ONGs de protecção à espécie (Natura 2000, Fundação Tartaruga e Bios CV) as poucas Associações e a própria sociedade civil têm redondamente falhado nas tentativas de criar benefícios para estas comunidades que se abstêm de caçar tartaruga, mas não recebem nada em troca. O turista paga 50 euros para ver as tartarugas, mas nem um euro foi até agora para as comunidades. Nem emprego essa exploração da tartaruga conseguiu criar. Até porque muitos jovens desses povoados estão desempregados. É por isso necessário um “Djunta mom urgentemente”.
*Esta notícia foi escrita, originalmente, em português europeu e foi mantida em seus padrões linguísticos e ortográficos, em respeito a nossos leitores.
Fonte: A Semana

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