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Pai alternativo adota trio de cachorros 'celebridades' em Poços de Caldas (MG)

11 de agosto de 2014
6 min. de leitura
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Foto: Jéssica Balbino/ G1
Foto: Jéssica Balbino/ G1

Neste Dia dos Pais, o designer Paulo Gustavo Sarges, o Guga, fez uma programação diferente: uma sessão especial de filmes com os três ‘filhos’: Elis Regina, Chico Buarque e Vinícius de Moraes, todos com 2 anos e sem raça definida, ou seja, SRD. Pode parecer estranho, mas ele se considera pai do trio de cachorros adotados e não aceita outro rótulo. “Minha vida mudou depois deles e não faço distinção entre cachorro e ser humano. Para mim é tudo ser vivo. ”.

Aos 28 anos, ele vive em Poços de Caldas (MG) e conta que prioriza as atividades da rotina de acordo com o bem estar dos ‘filhos’ e que cuida dos cães como cuidaria de um bebê. “Eu preciso estar atento a eles, ao que fazem, ao que brincam e ao que comem, para evitar algum acidente. Eu me sinto pai deles, penso no bem estar, me pego chamando eles de filhos, falo: vem com o papai, entre outras coisas”, disse.

Questionado sobre o fato de tratar os cães como filhos, Sarges explica que é budista e daí a filosofia de não fazer distinção entre cães e pessoas. “Eu gosto deles como eu gosto de um ser humano. Não existe diferença, sem falar que para mim, são meus filhos. A minha responsabilidade com eles é igual seria com um bebê ou criança. Para mim eles são humanos que deram certo”.

Embora pretenda ter filhos no futuro, para Guga os animais são puros e distantes dos sentimentos ruins que corrompem os seres humanos. “A diferença é que eles não crescem e o máximo de trabalho que vão me dar vai ser destruir a minha casa, comer meus móveis e roupas no varal, mas nunca vão agir de formas que omitam o caráter, magoar as pessoas, se envolver com drogas, ou coisas do tipo. Pra mim, os animais são uma expressão pura dessa vida. A gente se corrompe com um monte de coisas, um monte de sentimentos ruins, mágoas, raivas, inveja e os animais não, eles são puros. Então eu me sinto bem com eles. Eu gosto de ter a ligação que eu tenho com eles, porque pra mim é uma maneira de experimentar a vida quase livre de todas as babaquices que o homem cria”, destacou.

Pela manhã, assim que se levanta, Guga dá atenção aos três. Além de alimentá-los, ele gasta algumas horas para brincar com os bichinhos. Só depois é que vai para o trabalho, mas confessa que volta cedo para casa, para estar com os animais. Entretanto, o designer revela que não gasta muito com os bichos. “Em torno de R$ 70 a cada 20 dias com as rações. O banho sou eu mesmo que dou e às vezes tem alguma consulta com veterinário, mas nada que onere as contas”.

De acordo com Sarges, tudo mudou depois da adoção dos cães. A primeira, Elis Regina, que recebeu este nome por conta da admiração da cantora brasileira e também por ter sido adotada no mesmo dia do aniversário da artista, veio em um momento em que ele se recuperava de uma crise de ansiedade. “Eu parei com os remédios tipo rivotril, indicados por profissionais e passei a me dedicar a cuidar da cachorra. É o melhor antidepressivo que existe”, revelou.

O segundo a ser adotado foi Chico Buarque, que foi pego pela mãe de Sarges em uma feira de adoção e recebeu este nome por causa dos olhos claros. “Ele é muito medroso. Muito mesmo. Tem uma cicatriz de golpe no peito e a minha mãe se encantou com ele e adotou. Ela diz que aprendeu a amar os animais com o Chico, não com a Elis. Ele já era adulto e com essa cicatriz, ficava ainda mais difícil de adotar”, disse.

Depois da chegada do cão, foi necessário mudar de casa. “Saímos do APARTAMENTO que vivíamos no Centro da cidade e nos mudamos para uma casa maior e com quintal, a fim de garantir mais espaço e comodidade para eles”.

Apoio a grupos de defesa de cães

Foi também nesta época que o designer passou a apoiar grupos da cidade que atuam na defesa animal e abriu as portas da casa para lar temporário dos bichos. Em pouco mais de um ano, pelo menos cinco cachorros moraram por alguns meses na residência.

“É um prazer ter os cães aqui por um tempo e ajudá-los a conseguir um lar definitivo. Depois que se aposentou, minha mãe também se dedica a isso. Ela se tornou artista plástica e faz pequenos cachorros com cabacinha para leiloar nos grupos e angariar fundos para cuidar dos animais de rua”, contou.

Foi pensando em servir de lar temporário que o terceiro ‘filho’ de Sarges, Vinícius de Moraes – ‘batizado’ assim por ter sido encontrado no dia do centenário do poeta brasileiro – foi adotado. “Eu sai de um curso que fazia e fui tomar uma cerveja em um bar. Lá, encontrei um cachorro que não saia do meu redor. Brinquei com amigos que se ele ficasse por lá até eu ir embora, eu o levaria e foi o que aconteceu”, lembrou.

Apesar de ter tentado doar o cão, as tentativas de adoção por outras famílias foi frustrada. Vinícius não chegou a ir para outro lar. “Muita gente queria fazer dele cão de guarda ou eu percebia que não seria bem tratado como é aqui e resolvi não doar”, disse.

Especialistas alertam para cuidar de cães como gente

Para a psicóloga Ana Maria Pedroso, não há problemas na relação ‘familiar’ com os bichos, embora ela ressalte que esta não deve substituir as relações interpessoais. O problema, segundo Ana Maria não é chamá-los de filhos ou mimá-los, mas esquecer que são animais.

“Muita gente trata os cães como humanos ou como filhos. Esse comportamento é muito comum, até porque eles são uma fonte verdadeira e inesgotável de afeto. O único alerta que fazemos é para que a pessoa não troque a relação com pessoas por causa dos bichos e nem as substitua. É possível ter as duas de forma saudável”, disse.

Ainda de acordo com ela, no início do casamento ou mesmo pessoas solteiras, tem por hábito adotar animais e tratá-los como herdeiros, mas isso costuma ser temporário. “As pessoas primeiro adotam cães, em seguida, desejam ter filhos e podem ter ambos de forma saudável. Muitas também não podem ter crianças e realmente aconselhamos a adotar um animalzinho. Mas o que ficamos alerta é que muita gente idealiza a relação e projeta no animal um comportamento que não natural dele. Quer transformá-lo em gente porque acreditam ser mais fácil de controlar, mas isso é prejudicial para ambos, já que não existe relação perfeita e todos precisam de vínculos sociais”, pontuou.

Já para o veterinário Caio Augusto Moreira Dias, cães e gatos não devem ser tratados como crianças. Eles podem receber o mesmo afeto, mas não substituir os filhos ou serem tratados como tal. “O que ocorre é que muita gente acaba esquecendo das necessidades básicas dos bichos e isso é prejudicial. Outra coisa é que muitos podem mudar o comportamento por conviver apenas com humanos”, explicou.

Por isso, Guga segue cuidando do trio de cães e para o futuro pensa em ter um espaço maior. “Eu já tenho um quintal, mas quero um maior, para poder construir também um canil para abrigar os cães de rua, enquanto não arrumam um lar”, disse.

Fonte: G1
 

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