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Estudo discute efeitos do antropomorfismo na preservação das espécies

8 de agosto de 2014
4 min. de leitura
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(da Redação)

Foto: MNN
Foto: MNN

O que Nemo, Simba, o urso Smokey e o Fuleco – o mascote da Copa do Mundo – têm em comum?
Eles são todos personagens antropomorfizados, o que significa que se atribuiu a eles aspectos humanos, como características físicas e emoções. Além disso, tenha sido intencional ou não, todos eles de alguma forma desempenham papéis em movimentos conservacionistas, graças a aparências e comportamentos que lhes foram atribuídos.
De acordo com uma reportagem da Mother Nature Network, quanto mais “humanizada” for a nossa percepção de um animal, mais fácil parece ser o nosso relacionamento com ele e o desenvolvimento da empatia para com o mesmo. Pesquisadores estão estudando como o uso da compaixão que o antropomorfismo evoca pode auxiliar na criação de campanhas de preservação nas quais as pessoas tenham um engajamento emocional.
“A antropomorfização das espécies é comumente usada pelas pessoas para se relacionarem com outras espécies mas, como ferramenta conservacionista, está sendo subutilizada ou não tem sido usada como modo de promover efetivamente as relações entre pessoas e natureza através de programas de preservação”, disse Diogo Verissimo, co-autor de um estudo sobre espécies antropomorfizadas realizado no ano passado.
A pesquisa de Verissimo confirma que o antromorfismo ajuda as pessoas a se conectarem com o mundo animal e, onde há um senso de conexão, elas têm um comprometimento mais forte com a conservação das espécies.
Em filmes com personagens como Nemo, Bambi e Simba, os narradores procuram estabelecer um elo emocional de modo que o público seja investido na história. Inspirar o desejo de proteger esses animais é tipicamente um efeito colateral não intencional.
Mas há exemplos de campanhas de preservação que visam atrair a atenção pública e a colaboração através da criação de um mascote antropomorfizado. De acordo com a reportagem, um exemplo disso é o mascote da Copa do Mundo de 2014.
O Fuleco, que representa o tatu-bola brasileiro, é retratado com aspectos humanos, aparecendo com um sorriso e um uniforme de futebol. Ele não foi idealizado somente para que as pessoas ficassem empolgadas com o esporte, mas também com o objetivo de falar sobre a preservação de uma espécie vulnerável, ameaçada pela destruição do seu habitat.
A organização internacional de preservação Rare designou Armella como mascote, um pássaro da espécie Mangrove Flycatcher, para fazer frente à campanha Ngarchelong Pride Campaign no Palau, e também caracterizou-a como uma versão antropomorfizada do famoso pássaro regional.
O Flycatcher assovia para sinalizar chuva e sua presença é um indicador de florestas saudáveis. Armella, que tem olhos grandes e usa um chapéu, mimetiza o pássaro.
A antropomorfização nem sempre é positiva
Embora as figuras de animais humanizados possam evocar empatia, o uso da antropomorfização tem as suas desvantagens.
Desenvolver um personagem ou mascote que pareça humano e que ao mesmo tempo mantenha atributos únicos de um animal é uma tarefa difícil, e pode ser um trabalho especialmente desafiador quando a criatura não é um mamífero “adorável”.
Críticos acusam o antropomorfismo de limitar programas de preservação para espécies que são socialmente tidas como bonitas.
“A biodiversidade do mundo está sendo embelezada pela conservação seletiva das espécies consideradas atrativas, enquanto a situação da grande maioria das espécies está recebendo uma atenção limitada”, escreveu o ecologista Ernie Small, no jornal Biodiversity.
E, às vezes, fazer um animal parecer muito relacionável pode ter um efeito negativo sobre a sua espécie.
Pode-se tomar como exemplo o sucesso do filme “´Procurando Nemo”, que fez com que a espécie “clownfish” entrasse em alta demanda e fosse devastada em áreas como o arquipélago de Vanuatu no Pacífico Sul.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Em 2003, ano do lançamento do filme, cerca de 200 mil peixes e outros animais marinhos foram exportados do país, e o governo até chegou a criar um comitê para analisar a ameaça aos recifes locais. A mesma preocupação ocorre atualmente com o lançamento do filme As Tartarugas Ninja, que pode resultar no aumento da demanda por tartarugas.
O Slow Ioris é outro exemplo de como atribuir comportamento humano a uma adorável criatura pode ser perigoso.
Há inúmeros vídeos no YouTube mostrando esse primata de olhos grandes, e os mais populares exibem o animal recebendo “cócegas” ou segurando um pequeno guarda-chuva. Tais vídeos fomentaram uma demanda pelo Slow Ioris como animal doméstico, desencadeando um tráfico ilegal do mesmo que tornou-se um sério problema.
Foto: MNN
Foto: MNN

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