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A Fidelidade

17 de julho de 2014
4 min. de leitura
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A fidelidade é a virtude de memória, é uma lembrança virtuosa. A fidelidade a defesa ética dos animais não-humanos nos pede para não fazermos tábua rasa do passado.

Alguns pensadores afirmam que toda a dignidade do ser humano está no pensamento e, que toda a dignidade do pensamento se encontra na memória. Daí que pensamento esquecidiço ainda é pensamento, mas lhe falta espirito. Do mesmo modo, desejo esquecidiço é desejo, disso não duvidamos, mas sem vontade, sem coração, sem alma.

Fidelidade é aquilo que nos dá os motivos dos valores. Como definir a paz sem o exemplo de fidelidade dos pacíficos? A justiça sem a fidelidade dos justos? A liberdade sem a fidelidade dos espíritos livres? A defesa ética dos animais não-humanos sem a fidelidade dos ativistas veganos abolicionistas?

Sabemos que o educador vegano dispensa líder ou lideres, é fiel apenas às ideias e os princípios (que norteiam o modo de vida vegano) que foram desenvolvidos por eticistas animalistas no intuito de ajudar fazer justiça às outras espécies. Existe uma fidelidade do pensamento. O educador vegano não pensa qualquer coisa, pois para ele, pensar é um exercício, e não se exercita de qualquer jeito, se assim o fizesse estaria sendo imprudente com teu corpo e com tua mente. A dialética, por exemplo, só se configura como um pensamento pela fidelidade às suas leis, às suas exigências, à própria contradição que ela aceita de imediato e depois busca superar. Segundo Sartre: “não se deve confundir dialética com borboletear das ideias”.

Fidelidade é essa virtude que não nos deixa esquecer. Todo pensamento corre o risco de perder-se e, na luta contra o esquecimento, o pensamento se agarra à memória. E na causa animal, é imprescindível termos uma boa memória. É preciso não deixar perder todo o passado de sofrimento e escravidão ao qual passaram humanos e não-humanos. É preciso lembrar, e pensar criticamente sobre como evitar que o mesmo se repita. Para pensar não é preciso somente recordar, mas querer lembrar. Existe uma vontade embutida nessa fidelidade.

Fidelidade à verdade, antes de mais nada! É aqui que a fidelidade se diferencia da fé e, a fortiori, do fanatismo. Ser fiel, para o pensamento, não é repelir o mudar de ideia (como no dogmatismo), nem submeter suas ideias a outra coisa que não a elas mesmas (como na fé), nem concebe-las e aprecia-las como absolutas (caso do fanatismo); é não aceitar o mudar de ideia sem uma boa razão, sem um argumento bem fundamentado, e é dar por verdadeiro, até novo exame, o que até o momento esta claro e solidamente julgado pelo crivo da razão.

Na introdução dos direitos animais e do modo de vida vegano em sala de aula, o educador vegano sabe que não se deve valer tanto do dogmatismo quanto da inconstância e, sabe também que temos o direito de mudar de ideia, mas somente quando essa é superada por um argumento melhor, fundado na experiência concreta.

Fidelidade à verdade, antes de mais nada! A busca pela verdade é uma constante na ciência e na filosofia; campos sem os quais não teríamos os direitos animais. No entanto, quando pensamos nos seus resultados, vemos que a ciência vive demasiado no presente e está sempre esquecendo seus primórdios. A filosofia, ao contrario, está sempre dando continuidade aos seus primeiros passos. Que físico relê Newton ou Galileu? Que filosofo não relê Aristóteles? A ciência avança e esquece; a filosofia reflete e rememora-se. Daí por que não indagar, o que é a filosofia, senão uma fidelidade extrema ao pensamento?

Quão poucos são os que hoje falam em nome da verdade, sabedores dos riscos que sempre estiveram inerentes a esse oficio. Ser fiel a um ideal nobre e ter coragem de torná-lo público, aberto a todos; são excelências que o educador vegano não pode abrir mão. Pelo contrário, deve cultivar.

É preciso lembrar e relembrar sempre todos os séculos de opressão e reificação dos mais vulneráveis. É preciso ser fiel ao antigo princípio da não-violência, espinha dorsal do modo de vida vegano. É preciso ser fiel aos ideais éticos e lógicos dos pioneiros na defesa ética dos animais (recordemos que Epicuro em sua Carta sobre a Felicidade, exortava seus amigos a se lembrarem sempre de seus ensinamentos no Jardim). É preciso aprender com a historia e a ela sempre recorrer, para que nem o mal nem o bem, historicamente produzidos, caia no esquecimento.

Fidelidade à verdade, antes de mais nada!

Referencia:
A vida de David Gale (The life of David Gale, EUA, 2003, 130 min.) Direção: Alan Parker.
O Homem de Aço (Man of Steel, EUA, 2013, 143 min.) Direção: Zack Snyder

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