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A troca

19 de março de 2014
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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Não sabemos o que se esconde nessa preferência e porque alguns indivíduos a desenvolvem, mas o amor por calçados do tipo tênis é algo que alguns chimpanzés manifestam a todo momento. Guga, Noel, Carlos, Tião, Cláudio, Emílio e Luke, todos eles desejam ter um tênis com eles, mas acho que Guga é o mais fanático.

Agora anda com três tênis para cima e para baixo, às vezes os leva na boca, para que não atrapalhem o seu andar, outras vezes vai jogando adiante e vai recolhendo cada um na medida em que avança.

Porém, nos últimos anos a situação chegou ao extremo. Eles até pedem para aqueles que por razões de trabalho nos visitam que doem os tênis que estão calçando.

Minha filha Carolina, quando vai ao Santuário, duas ou três vezes por ano, leva tênis velhos (em bom estado) e os calça frente ao Guga, já que ele imediatamente vai pedi-los e ela vai tirá-los dos pés para dar a ele, que demonstra sua felicidade com os gritos típicos dos chimpanzés.

Dias atrás aconteceu uma cena que vale a pena relatar. O dia em que Carolina nos visitou e doou seus tênis, o Prof. Dr. Antônio Carlos da Costa, médico especialista em Cirurgia de Mão e Microcirurgia da Santa Casa de São Paulo e do Hospital Sírio Libanês, nos visitava para uma cirurgia que foi realizada num tumor num dedo de uma das mãos do chimpanzé Pinho (Felipinho).

O Dr. Antônio Carlos já tinha nos visitado outras vezes, sabia da mania do Guga e trouxe um par de tênis velhos (em bom estado), mas como Guga já tinha ganhado um par de minha filha, o levamos ao recinto contíguo, onde outros fanáticos por tênis esperavam. Carlos recebeu um tênis e Tião recebeu outro, e Guga viu a operação.

Dois dias mais tarde, Guga andava com seus dois tênis e se encontrou com Tião, que andava com o dele. Eu dei uma garrafinha de refrigerante gelado sabor Cola para ele, que me pediu que o desse para Tião, a fim de conseguir o tênis. Antes ele já tinha me pedido o tênis que Tião tinha, porém lhe expliquei que não poderia tirá-lo dele pela força. Então como ele sabe que Tião adora refrigerante, percebeu que com essa troca ele poderia conseguir o tênis desejado. Eu ofereci este refrigerante para Tião e lhe falei que era em troca do tênis, ele concordou e me deu o mesmo, que entreguei ao Guga.

Não sei se Tião entendeu que o refrigerante era de Guga e ele abriu mão do mesmo em troca do tênis, mas, guloso como é, aceitou. Após consumir a bebida, olhando Guga com seu tênis e rindo em sua cara, percebeu que fez um mal negócio, aí encheu a boca de água e deu um banho em Guga à distância.

Os chimpanzés do Santuário – especialmente aqueles que nós criamos – estão acostumados a troca ou permuta. Já estivemos em situações complicadas quando eles estavam com chaves, cadeados, celulares e outros objetos, em que a única forma de consegui-los de volta foi oferecendo objetos que eles gostam e desejam. Uma vez, para conseguir meu molho de chaves – com o qual poderiam abrir todas as portas dos recintos –, tive que oferecer três refrigerantes. Eles sabem medir a importância da troca que têm em mãos e como calcular o valor a ser permutado.

Estas pequenas histórias que acontecem com frequência no Santuário nos permitem apreciar as similaridades na conduta que eles têm conosco e seu grau de esperteza e inteligência.

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