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Memória e planejamento na mente chimpanzé

12 de março de 2014
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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

No último fim de semana, o apresentador Otávio Mesquita nos visitou para uma reportagem junto com uma equipe de filmagem da SBT. Otávio nos conheceu há mais de 10 anos. Segundo ele conta, passando de helicóptero por cima do Santuário, indo para a Fazenda Boa Vista, nos descobriu. Falaram-lhe que lá “tinha um maluco criando macacos”. Através de sua produção, conseguiu agendar uma visita. O Santuário de Grandes Primatas estava começando, tinha menos de cinco anos.

Otávio, que gosta muito de animais e em especial de primatas, ficou fascinado com o contato direto com o grupo de bebês que tínhamos na época e entrou no recinto com Guga e Emílio. Tão empolgado estava com o que viu que esqueceu do seu filho caçula, que tinha vindo com ele e do qual tivemos que tomar conta, por conta do perigo de eventuais mordidas de macacos.

Otávio nos visitou novamente outras duas vezes: menos de três anos atrás, quando a chimpanzé Suzi tinha nascido, e agora, que seu irmão César está com três meses de idade. Conto tudo isso para mostrar como os chimpanzés têm uma memória fotográfica.

Quando Suzi o viu, se jogou em seus braços. E olha que Suzi esteve com ele, com alguns meses de vida, por menos de meia hora. Porém, o mais interessante aconteceu com o chimpanzé Emílio. Enquanto fomos procurar Suzi em seu recinto para filmar com ela, César e Otávio, que é extraordinariamente atrevido, se aproximou de Emílio, que o observava, pelas janelas externas do recinto e deu um abraço nele. Neste momento, Emílio abriu um largo sorriso e retribuiu. Otávio só não terminou machucado porque Emílio se lembrou dele, quando esteve em seu recinto 10 anos antes, filmando e brincando com os chimpanzés. Qualquer outra pessoa teria sido machucada. Emílio hoje tem uma força similar à de vários homens.

Agora vejamos outra característica dos chimpanzés, que é praticamente humana: o planejamento. Enquanto filmávamos com Otávio, Suzi e César na cerca elétrica contígua ao recinto murado de Emílio e Guga, eles e todo seu grupo nos observavam pelas janelas. Toda a equipe (mais de sete pessoas) teve que entrar para fazer o trabalho. Ao sair, quando tivemos que devolver Suzi e César aos seus respectivos recintos, deixamos os portões abertos. Nunca aconteceu isso. Das janelas eles perceberam. E começaram a matutar que no dia seguinte, quando Guga e Emílio foram para aquela cerca, como fazem de manhã quando estou lá, eles simplesmente iam desfrutar de um dia singular, andando livremente pelo Santuário.

No dia seguinte, quando a tratadora Meire foi abrir as passarelas para eles passarem para a cerca, se surpreendeu que Emílio e Guga estavam com um sorriso malicioso evidente. Ela foi babá de ambos e os conhece bem. Começou a pensar e ver o que estava motivando toda aquela alegria incomum e se lembrou que nós estivemos trabalhando com Otávio e a equipe do SBT na área de cerca e algo poderia ter ficado lá. Quando foi até lá, viu os dois portões abertos. E assim acabou a farra de Guga e Emílio, que durante toda a noite tinham planejado a fuga que ia acontecer no dia seguinte e a diversão que iam desfrutar, visitando os recintos de seus amigos e a casa, onde praticamente cresceram.

Memória e Planejamento, características profundamente humanas, inseridas em nosso DNA, que compartilhamos com os chimpanzés, nossos irmãos primitivos.

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