EnglishEspañolPortuguês

Conheça as histórias de três protetoras que se dedicam a ajudar animais abandonados

6 de março de 2014
6 min. de leitura
A-
A+
"O que me motiva a ajudar é aquilo que move o mundo: o amor", diz Dira Pascoal. Foto: Júlio Jacobina/DP/D.A Press
“O que me motiva a ajudar é aquilo que move o mundo: o amor”, diz Dira Pascoal. Foto: Júlio Jacobina/DP/D.A Press

A população de cães e gatos abandonados nas ruas do Recife já chega a 100 mil, segundo estimativa feita pela Secretaria dos Direitos Animais. Mas nem todos que percebem um animal maltratado ou ferido consegue ignorar e seguir em frente. Algumas pessoas modificam sua rotina por algo que nem mesmo elas conseguem definir, pois deixam qualquer coisa em segundo plano para acolher, cuidar e, na maioria das vezes, adotar.

Mas, apesar das alegrias que os animais proporcionam, uma grande quantidade deles pode dificultar o controle sobre questões como limpeza e manutenção das casa ou abrigos que os acolhem. E para que essa convivência não se torne um transtorno, é necessário estabelecer um limite e manter equilíbrio para não afetar as relações sociais.

De acordo com a psicóloga Patrícia Amazonas, a organização é uma das ferramentas para manter uma grande quantidade de animais em casa. “Quando aquilo passa a impedir de viver e desfrutar de coisas habituais com muitas privações, o que era para ser diversão se torna um transtorno que pode causar impacto do ponto de vista social. Mas como somos seres de possibilidades, acredito que, ao se organizar, uma pessoa pode cuidar de vários animais sem se descuidar”, observa.

Patrícia ainda ressalta que cada um deve estabelecer seu limite para garantir uma relação proveitosa. “Não é fácil cuidar de 10, 20 ou 30 animais e para isso deve ser estabelecido um limite. Mas essa é uma relação de lealdade que traz recompensas e permite que o cuidador exprima afetos estando disposto a receber também”, afirma.

Verônica Wegoley com Dentinho e três dos seus outros cães. Foto: Arquivo pessoal
Verônica Wegoley com Dentinho e três dos seus outros cães. Foto: Arquivo pessoal

Há 40 anos que a aposentada Doroti Linck, 70, acolhe animais que vivem nas ruas do Recife. Gaúcha, ela chegou à cidade nos anos 60 e se impressionou com as condições que gatos e cães vivem na capital pernambucana em comparação a colônia alemã de São Leopoldo (RS), de onde veio. Buscando mudar essa realidade, Doroti passou a desenvolver um trabalho paralelo através da Associação de Proteção aos Animais (APA), da qual é presidente. Mesmo existindo desde 1955, a APA está inativa, mas nem isso desmotiva o serviço da aposentada que mantém 16 cães e 34 gatos em casa e 91 felinos e 62 cachorros no abrigo.

Todos os animais que já passaram por ela – ou ainda estão abrigados – foram encontrados em situação precária de saúde. Cada um tem uma história e um caso diferente e precisa de um tratamento específico. E para guardar os detalhes das mais diversas situações que viveu resgatando animais, ela escreve uma por uma nos diários que coleciona há mais de vinte anos. Quando questionada sobre qual seria a história que mais a marcou, não soube dizer. “Não tenho como escolher qual foi o mais marcante. Cada um é especial. Cada um tem sua história”, justifica.

Para assistir a cada um deles Doroti não conta com ajuda, doações, nem mão de obra. Para ela, essa é a principal dificuldade que enfrenta. Um exemplo é o gasto com a alimentação. Por semana são necessários 10 sacos de 25 quilos de ração para os cães e 22 sacos de 10 quilos por mês para os gatos. Os custos são altos, mas não apenas financeiros. Doroti abre mão de muita coisa para se dedicar aos animais. “Eu não tenho um fim de semana. Também não viajo porque não tenho com quem deixá-los. Eles precisam de mim. Eu poderia ter o carro do ano, sair, mas não faço.

Prefiro atender, dar de comer do que ir passear em um shopping. Fui educada assim. Não consigo ver um animal todo quebrado na rua, continuar a andar e esquecer na próxima esquina”, argumenta.

Quanto a situação do Recife em relação aos animais, ela indica falhas, mas também reconhece melhoras. “Quando cheguei percebi o quanto os animais não eram respeitados por aqui, diferentemente de Porto Alegre, onde as pessoas acolhem mais. De lá para cá muita coisa melhorou. As pessoas param os carros, recolhem, pedem ajuda, as clínicas estão com preços mais baixos e leis neste sentido estão saindo. Mas tenho a ideia fixa que a castração gratuita é a melhor alternativa”, finaliza.

O controle da população dos animais abandonados também é a posição defendida pela cuidadora Dira Pascoal, 52. Para ela, que acolhe 54 gatos e cinco cadelas na própria casa, um dos problemas é a falta de envolvimento. “O que me motiva a ajudar é aquilo que move o mundo: o amor. É um ser humano que você procura ajudar, assim como cuidar de uma planta que precisa de água. E o trabalho em relação a isso aqui no Recife é mais de palavras do que de ação. É preciso se envolver e seguir o ‘dai de comer a quem tem fome’”, sugere.

Há mais de vinte anos que Dira acolhe os animais e os encaminha para adoção. “Só acolho em estado deplorável. Então encaminho para tratamento, castro, vermifugo e vou a feiras de adoção. Mas a dificuldade em adotar é que as pessoas determinam o animal que quer. Acredito que essas pessoas precisam de um psicólogo porque têm necessidade de suprir algo em suas vidas e não de cuidar de um ser”, afirma.

Para permitir a adoção, Dira procura garantir que a pessoa interessada tenha as condições necessárias para manter o animal. “Muita gente acaba devolvendo simplesmente porque desiste e por motivos absurdos. Como uma gata que voltou para mim porque miava demais. Preciso ter certeza que a pessoa vai cuidar para liberar a adoção”, conta. A cuidadora acredita que uma alternativa para diminuir a população dos animais abandonados é a parceria com clínicas, que ofereçam castração por um valor mais baixo.

“Hoje eu só posso contar com alguns amigos e pessoas que se compadecem. Consigo encontrar em algumas clínicas a cirurgia por R$100. Acredito que se houver compensação, tanto do lado do cuidador como do profissional, pode haver uma solução”, aposta.

Já para a professora Verônica Wogeley, 52, a responsabilidade por uma vida é a principal motivação. Apenas com cinco animais, ela já perdeu as contas de quantos já abrigou antes dos seus problemas de saúde aparecerem. “É preciso resistência para cuidar e dar toda a assistência necessária. Meus problemas na coluna e alergias impedem que eu adote mais”, conta. “Além disso, meu marido ameaçou vender nosso carro e me deixar se adotasse mais algum”, brinca.

“Desde que me entendo por gente gosto de animais, mas foi depois que conheci a fundação Dentinho que passei a perceber a importância da adoção. Temos tantos animais nas ruas precisando de cuidado e de um lar. Já me conscientizei que não devemos comprar e hoje não faço mais isso”, afirma.

Dos animais que estão com Verônica, três vieram da rua. Eles foram abrigados temporariamente, mas ela preferiu deixá-los em casa. Apenas Dentinho foi adotado através da história comovente que conheceu pelas redes sociais. “Quando vi toda a história através do Facebook me comovi muito. E acredito que além da adoção, a castração também é uma alternativa para diminuir a quantidade de animais nas ruas. É preciso ter um programa e um trabalho de conscientização com as pessoas porque quando acolhemos, estamos assumindo responsabilidade com uma vida”, conclui.

Fonte: Diário de Pernambuco

Você viu?

Ir para o topo