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Animais selvagens resgatados pelo Ibama sofrem para se readaptar

11 de dezembro de 2013
4 min. de leitura
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As histórias do filhote de macaco-parauacu que está há cerca de duas semanas no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em Manaus, e de uma preguiça-real que está há pelo menos um ano no local, quase se confundem. Ambos foram resgatados de situações de risco longe do habitat natural deles. Mas apenas um conseguirá voltar à natureza.

Gavião chegou ao Cetas com penas queimadas pelo fogo de uma chaminé (J. Renato Queiroz/ Divulgação )
Gavião chegou ao Cetas com penas queimadas pelo fogo de uma chaminé (J. Renato Queiroz/ Divulgação )

Com sinais de fragilidade, o filhote de macaco-parauacu mal consegue se agarrar na camisa do veterinário e analista ambiental do Ibama Diogo Lagroteria, que cuida do animal com mais uma bióloga, um ornitólogo e dois tratadores.

O filhote foi encontrado na beira de uma estrada e levado ao Cetas. Longe do cuidado parental, ou seja, sem a proteção da mãe, a probabilidade de sobrevivência do animal na natureza acaba sendo minimizada.

De acordo com Diogo Lagroteria, o Ibama recebeu em torno de 600 animais que foram resgatados, apreendidos ou entregues espontaneamente. Mas 30% acabam ficando em cativeiro, isto é, levados para locais aptos a recebê-los como zoológicos, mantenedores de fauna ou mesmo criadores científicos.

Um dos principais motivos para que esses animais não sejam soltos é a dificuldade de reabilitá-los e que está relacionada com o ambiente de onde o animal saiu e até mesmo com a falta de uma estrutura física ampliada para realizar esse trabalho. Além disso, a equipe de especialistas ainda é pequena.

Diogo é o único veterinário do Ibama no Amazonas. “A gente percebe que as prioridades no Amazonas são outras, que é a fiscalização e o desmatamento, por exemplo. Mas não podemos fechar os olhos para outros problemas”, disse. Na opinião do especialista é necessário mais investimentos. Os recursos, neste caso, dependem do Ministério do Meio Ambiente.

A preguiça-real que está há pelo menos um ano no Cetas, chegou ao local pesando apenas 200 gramas. Hoje o animal pesa quase 1,5 kg. E segundo Diogo, é um animal que terá condições de voltar à natureza pois o trabalho consegue ser realizado pela pequena equipe do Centro de Triagem. “A gente solta ela na árvore, ela come folha das árvores. É um bicho que não vive em grupo, é um bicho solitário. Então, a gente sabe que tem potencial de soltura”, explicou.

A expectativa é de que o centro possa receber investimentos num curto prazo. “A gente espera que nos próximos dois anos possamos ter um Cetas melhor”, disse Diogo. O local chega a receber 1 mil animais por ano e em alguns casos conta com o apoio de outras instituições.

Gavião-Real deve voltar à natureza

Esta semana o Cetas deverá soltar de volta à natureza um gavião-real que foi resgatado ainda filhote e ficou sendo reabilitado durante dois anos para poder se adaptar novamente ao seu habitat natural. “Ele ainda não tinha nem pena. Nós passamos dois anos reabilitando-o ensinando ele a caçar, a voar”, explicou Diogo Lagroteria.

O animal foi resgatado de uma área que estava sendo desmatada no município de Itacoatiara. Para reabilitá-lo, Diogo disse que foi preciso levar o gavião-real para um ambiente grande e o encaminharam para um centro de reabilitação que conta com a parceria do hotel de selva Ariaú Amazon Towers. “ Ele passou os últimos 15 meses lá, sempre sendo monitorado por nós”, ressaltou o veterinário.

Mas foi preciso contar também com o apoio de mais especialistas. “No Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) tem um grupo de trabalho com o gavião real”, completou.

Pontos – Readaptação pode ser demorada

Um gavião-carijó resgatado pelo Cetas numa termelétrica no bairro Aparecida, Zona Sul, precisará esperar pelo menos mais dez meses para ser solto de volta à natureza. O animal pousou numa chaminé e foi resgatado com as penas queimadas.

De acordo com o veterinário, o tempo de reabilitação depende do estado de como o animal chega ao Cetas. A readaptação à natureza dos animais que chegam ao local depois do convívio com humanos pode ser mais demorada. Às vezes podem nem conseguir se readaptarem não por falta de especialistas, mas pelos hábitos adquiridos pelo animal no ambiente anterior. No caso de papagaios, a readaptação deles é feita isolando-os de ambiente com a presença de muitos humanos e ensinando-os a se alimentarem daquilo que vão encontrar na florestas, como ingá, açaí e banana. Alguns animais podem se readaptar em dias.

Fonte: A Crítica

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