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Por que experimentos em animais não são necessários

5 de novembro de 2013
12 min. de leitura
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Tradução feita por Patrícia Tai (da Redação)

A maioria dos cientistas e grande parte da sociedade alegam que as experiências em animais são necessárias para testar a segurança dos produtos e para a descoberta de novos medicamentos para doenças humanas. No entanto, elas são ineficazes para a avaliação real dos efeitos e riscos das substâncias para os seres humanos. Cientistas, políticos e cidadãos estão cada vez mais reconhecendo que as experiências com animais não cumprem o que prometem, e que os seus resultados não são diretamente aplicáveis ​​aos seres humanos.

Experiências em animais são perigosas

Alega-se frequentemente que a experimentação animal é indispensável, pois os testes em um “organismo completo” são supostamente necessários no processo de desenvolvimento de drogas farmacêuticas. Os animais podem muito bem ser “organismos completos”, mas eles são os errados. Os animais e os seres humanos diferem consideravelmente no que diz respeito à anatomia, fisiologia e metabolismo. Mesmo animais de espécies diferentes podem reagir de forma bastante diferente para os mesmos produtos químicos e medicamentos farmacêuticos. Não é possível prever como um ser humano irá reagir com base nos resultados de experiências realizadas em animais.

Um estudo realizado pela empresa farmacêutica Pfizer chegou à conclusão de que um seria melhor “jogar uma moeda para cima” do que confiar em experiências com animais para responder a perguntas sobre substâncias cancerígenas. (1)

Por outro lado, nunca se saberá quantas drogas farmacêuticas benéficas não chegam a ser liberadas e são prematuramente abandonadas a partir de resultados enganosos em ensaios com animais. Muitas drogas que são altamente benéficas nos dias de hoje, tais como a aspirina, o ibuprofeno, a insulina, a penicilina ou o fenobarbital, não estariam disponíveis se tivessem contado com a experimentação animal no passado, pois essas substâncias induzem danos graves em certas espécies de animais devido a diferentes processos metabólicos. Elas teriam falhado completamente se fossem submetidas aos procedimentos atuais aplicados no desenvolvimento de ingredientes ativos.

Dezenas de milhares de animais devem morrer para cada produto. Na maioria dos casos, os produtos testados nem sequer representam avanço para a ciência médica. Pelo contrário; na Alemanha, cerca de 2500 novos pedidos de aprovação da indústria farmacêutica são apresentados a cada ano, dos quais existe apenas uma verdadeira inovação de dois em dois anos. (3) De todo o resto, ou já existe algo muito similar, ou são simplesmente desnecessárias. Por exemplo, a empresa Bayer redefiniu a condição completamente normal de homens idosos como uma “síndrome de deficiência de testosterona”, a fim de criar um novo mercado para as drogas hormonais. Há cerca de 60 mil drogas disponíveis no mercado alemão. Muitas delas são idênticas, apenas comercializadas sob nomes diferentes. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, apenas 325 medicamentos são realmente essenciais. ( 4)

As experiências com animais em nada contribuem para o desenvolvimento de novos tratamentos. A indústria farmacêutica realiza-os apenas para “cobrir a sua responsabilidade” no caso de algo dar errado com um de seus produtos.

Experiências com animais são má ciência

Como a maioria das doenças humanas não ocorrem em animais não-humanos, os seus sintomas são simulados utilizando “organismos modelo”. Por exemplo, a fim de induzir a doença de Parkinson, é injetada em macacos, ratos ou camundongos uma neurotoxina que destrói as células cerebrais. O câncer é induzido em ratos por meio de engenharia genética ou de células cancerosas injetáveis​​. Acidentes vasculares cerebrais são causados ​​em camundongos através da inserção de uma linha em uma artéria cerebral. A diabetes em ratos é causada pela injeção de uma toxina que destrói as células produtoras de insulina no pâncreas. Os ataques cardíacos são simulados em cães pela contração de uma artéria coronária com um laço.

Os sintomas artificialmente induzidos não têm nada em comum com as doenças humanas que deveriam simular. Aspectos importantes das origens dos distúrbios, tais como dieta, hábitos de vida, o consumo de drogas, as influências ambientais prejudiciais, estresse e fatores psicológicos e sociais, não são levados em consideração. Os resultados dos estudos que utilizam animais são, portanto, enganosos e irrelevantes.

Na verdade, a pesquisa com base em experimentação animal falha repetidamente. 92% das potenciais drogas farmacêuticas que são consideradas efetivas por testes em animais, sendo tidas como eficazes e seguras, não passam em ensaios clínicos (5), quer por causa da eficácia insuficiente ou de efeitos secundários indesejáveis​​. Dos 8% das substâncias que são aprovadas, metade são posteriormente retiradas do mercado porque os efeitos colaterais mesmo letais nos seres humanos tornam-se evidentes. (6)

Por exemplo, acreditou-se que a “invenção” do camundongo com câncer seria a chave há muito procurada para combater tumores malignos. Em meados dos anos 80, os investigadores da Universidade de Harvard conseguiram inserir um gene de câncer humano no genoma de ratos, de modo que os roedores prematuramente desenvolveram tumores. Este rato geneticamente modificado foi o primeiro mamífero a ser patenteado, nos EUA em 1988 e na Europa em 1992. Desde então, dezenas de milhares de camundongos com câncer têm sido “curados”, mas todos os tratamentos que tiveram “êxito” em roedores falharam em seres humanos.

A partir da pesquisa experimental em animais, cientistas anunciam regularmente descobertas para todos os tipos de transtornos. Testes em animais mostraram supostamente um ou outro método de tratamento de sucesso no combate à doença de Alzheimer, ou à doença de Parkinson, esclerose múltipla, câncer, ateriosclerose, etc. No entanto, as expectativas dos pacientes acometidos são quase sempre frustradas, e nunca se ouviu falar de curas milagrosas célebres. Isso ocorre simplesmente porque os seres humanos não são ratos.

Os estudos científicos estão cada vez mais lançando dúvidas sobre os benefícios de experiências com animais. Eles provam que os resultados dos testes em animais muitas vezes não se correlacionam com os conhecimentos obtidos a partir de seres humanos, e que esses ensaios são, muitas vezes irrelevantes para a aplicação clínica em humanos.

Em uma meta-estudo inglês, foram comparados os resultados de diferentes métodos de tratamento em animais e humanos com base em publicações científicas relevantes. Apenas três dos seis distúrbios investigados mostraram correlações. (7)

Um outro estudo comparativo de uma equipe de pesquisadores britânicos determinou que os resultados dos estudos realizados em animais e seres humanos diferem muito consideravelmente e com frequência. De acordo com o estudo, os resultados inexatos de experiências com animais podem colocar em risco os pacientes e também são um desperdício de recursos de financiamento das pesquisas. (8)

Em um estudo na Alemanha, 51 aplicações para experiências com animais que foram aprovadas na Bavaria foram analisados ​​no que diz respeito à sua aplicação clínica. A equipe de pesquisa descobriu que, mesmo dez anos depois, não houve um único projeto que havia sido comprovadamente implementado em medicina humana. (9)

A experimentação animal não é apenas inútil, é até mesmo prejudicial. Ela resulta em conclusões de uma segurança que não existe, e os falsos resultados que ela oferece apenas impedem o progresso da medicina.

Experiências com animais são imorais

Independentemente das inúmeras razões científicas, também existem razões éticas para rejeitar experimentos com animais. A cada ano, pelo menos 115 milhões de animais morrem nos laboratórios da indústria química e farmacêutica, em universidades e outros institutos de pesquisa. (10) A experimentação animal degrada os animais como “organismos modelo” para instrumentos de medição descartáveis. No entanto, os animais são criaturas sencientes, capazes de sofrer. A experimentação animal não é compatível com uma medicina eticamente justificável e com a Ciência.
Métodos que não testam em animais são boa CiênciaColocar um fim às experiências em animais não significa o fim da investigação médica. Pelo contrário – a mudança para estudos em seres humanos, por exemplo, nas áreas de epidemiologia, pesquisa clínica, segurança, saúde ocupacional e medicina social levaria a progresso médico real. Testar métodos sem a utilização de animais, utilizando células e tecidos humanos combinados com programas especiais de computador, produziria resultados exatos e concludentes, em oposição às experiências com animais.Modelos de computador sofisticados são capazes de fornecer informações sobre a estrutura, o efeito e a toxicidade de substâncias, tais como novos medicamentos ou produtos químicos. Microchips combinam métodos de computador e in vitro: em um sistema de dutos e câmaras, microchips são colonizados com células humanas de diferentes órgãos. Assim, é possível testar o efeito de uma substância experimental sobre os órgãos individuais, bem como a forma como é metabolizada e se quaisquer resíduos de produtos tóxicos são formados. (11)Experimentos que não precisam ser substituídos

Aqueles que acreditam que as experiências com animais são realizadas a fim de desenvolver novas tratamentos para as pessoas doentes estão profundamente enganados. Muitos experimentos com animais realizados como pesquisa pura nem sequer simulam o benefício da medicina.

Exemplos de experiências com animais aprovadas e realizadas na Alemanha:

  • Na Universidade de Leipzig, foi descoberto que a hibernação protege o tecido neural de hamsters e pode, assim, prevenir a doença de Alzheimer. (12)
  • No Instituto Federal de Pesquisa em Nutrição e Alimentação de Karlsruhe, carotenóides foram misturados em um leite substituto para bezerros, a fim de descobrir por que tomates e melões são tão benéficos para a saúde dos seres humanos. (13)
  • A fim de investigar os efeitos de choque acústico agudo na parte interna do ouvido de porquinhos-da-índia, os animais foram submetidos ao som de tiros de espingarda de altíssimos decibéis, e em seguida foram mortos (14)
  • No Instituto de Pesquisa Aviária em Wilhelmshaven, 22 gaivotas capturadas em uma ilha alemã do Mar do Norte foram totalmente privadas de alimentação durante seis dias. O objetivo era descobrir em quanto tempo as gaivotas podem morrer de fome. (15)
  • Em Ulm, uma equipe de pesquisadores foi investigar os efeitos da gravidade sobre o desenvolvimento e o bioritmo de diferentes espécies animais durante anos. Por exemplo, uma aparelhagem foi montada, com a qual as medições podiam ser realizadas em escorpiões vivos ao longo de um período de vários meses. Os animais eram afixados e imobilizados sobre uma placa. Eletrodos eram inseridos nos olhos, nos músculos das pernas, no cérebro e no corpo para medir continuamente as correntes nervosas. (16)

Não há necessidade de se procurar métodos que não testam em animais para substituir tais projetos de pesquisa. Estes experimentos com animais podem ser eliminados sem substituição, ou porque os dados humanos já estão há muito tempo disponíveis, ou porque seus resultados são completamente irrelevantes para a saúde humana.

Por que experiências em animais ainda são realizadas?

O apego às experiências com animais não tem razões científicas, mas é baseado principalmente na tradição. Há mais de 150 anos atrás, o fisiologista francês Claude Bernard (1813-1878) defendia experimentos com animais como sendo a pedra angular de toda a visão médica e científica. A doutrina de Bernard sobrevive em um paradigma científico contemporâneo que apenas aceita os resultados que são analiticamente explicáveis, bem como mensuráveis e passíveis de reprodução. Dentro do âmbito do presente sistema científico, as doenças se tornam defeitos técnicos, e os animais, instrumentos de medição.

Assim, a qualidade de um pesquisador não é medida pelo número de pessoas que ele tem ajudado, mas sim pela quantidade de publicação científica. Fiel ao lema “Publicar ou perecer”, só é possível alcançar um perfil no mundo da ciência por meio de uma longa lista de publicações em revistas científicas de renome, e o montante do financiamento para pesquisa depende da lista de publicações. Este financiamento é investido em novos experimentos com animais, o que resultará novamente em uma nova publicação. Este sistema absurdo se retroalimenta e devora quantidades incríveis de fomento à pesquisa, recursos de terceiros ou bolsas de estudo, sem qualquer benefício para as pessoas doentes.

Uma outra razão para que a experimentação animal seja mantida em algumas áreas é a falta de apoio financeiro para a investigação livre de uso de animais, bem como os procedimentos demorados para aprovação da aplicação de métodos in vitro.Finalmente, experimentos com animais servem à indústria farmacêutica como um meio de protegê-la da responsabilidade. Se algo der errado com uma droga, o fabricante pode apontar para os ensaios em animais realizados sem os efeitos colaterais decorrentes. As experiências com animais são também muito populares na indústria farmacêutica uma vez que podem ser usadas para provar qualquer coisa que se queira. Só precisa necessariamente haver uma espécie e uma configuração de testes que irá entregar os resultados desejados.
 

Conclusão

A experimentação animal não só significa métodos cruéis e, portanto, anti-éticos, mas também métodos que não podem ser considerados científicos e que não têm direito a um lugar na medicina e na ciência do século XXI.

(O artig0 acima foi escrito e publicado pela Dra em Medicina Veterinária Corina Gericke em 2009, no site Doctors Against Animals Experiment Germany).

Referências
(1) Münchner Medizinische Wochenschrift 1983: 125 (27), 8
(2) J.U. Schnurrer, J.C. Frölich: Zur Häufigkeit und Vermeidbarkeit von tödlichen unerwünschten Arzneimittelwirkungen. Der Internist 2003; 44, 889-895
(3) Peter Schönhöfer in the TV programme »Fakt«, 20.8.2001
(4) World Health Organisation, press release 4.9.2002 (WHO releases first global reference guide on safe and effective use of essential medicines)
(5) U.S. Food and Drug Administration Report: Innovation or Stagnation – Challenge and Opportunity on the Critical Path to New Medical Products, March 2004, p.8
(6) U.S. General Accounting Office. FDA Drug Review: Postapproval Risks 1976-1985. Publication GAO/PEMD-90-15, Washington, D.C., 1990, p.4
(7) Perel P, Roberts I, Sena E, Wheble P, Briscoe C, Sandercock P: Comparison of treatment effects between animal experiments and clinical trials: systematic review. BMJ 2007; 334 (7586); 197
(8) Pound P, Ebrahim S, Sandercock P, Bracken MB, Roberts I: Where is the evidence that animal research benefits humans? BMJ 2004; 328; 514-517
(9) Lindl T, Völkl M, Kolar R: Tierversuche in der biomedizinischen Forschung. Altex 2005; 22 (3); 143-151
(10) Taylor K., Gordon N., Langley G., Higgins W. (2008) Estimates for Worldwide Laboratory Animal Use in 2005. Alternatives to Laboratory Animals (ATLA), 36(3):327-342
(11) Technology Review July 2004, p. 45-48
(12) Wolfgang Härtig at al: Hibernation model of tau phosphorylation in hamsters: selective vulnerability of cholinergic basal forebrain neurons – implications for Alzheimer’s disease. European Journal of Neuroscience 2007: 25, 69-80
(13) Tina Sicilia et al.: Novel Lycopene metabolites are detectable in plasma of preruminant calves after Lycopene supplementation. Journal of Nutrition 2005: 135, 2616-2621
(14) Ulf-Rüdiger Heinrich et al.: Endothelial nitric ocide synthase upregulation in the guinea pig organ of Corti after acute noise trauma. Brain Research 2005: 1074, 85-96
(15) U.Trotzke et al.: The influence of fasting on blood and plasma composition of herring gulls (Larus argentatus). Physiological and Biochemical Zoology 1999: 72(4), 426-437
(16) Michael Schmäh, Eberhard Horn: Neurophysiological long-term recordings in space: experiments Scorpi and Scorpi-T. Gravitational and space biology bulletin: Publication of the American Society for Gravitational and Space Biology 2005: 18 (2), 95-96

 


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