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Superlotado, abrigo não consegue resgatar mais cães em Varginha (MG)

4 de novembro de 2013
6 min. de leitura
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Cão abandonado aguardou quase 1 dia todo para ser resgatado (Foto: Samantha Silva/ G1)
Cão abandonado aguardou quase 1 dia todo para ser resgatado (Foto: Samantha Silva/ G1)

A superlotação no Centro de Zoonoses de Varginha (MG) impede o recolhimento de cães e gatos nas ruas. Com isso, a população que esbarra, com frequência, nos bichos soltos pelas vias fica sem saber o que fazer. Segundo a coordenação do órgão público, o local está com pelo menos 50 animais acima da capacidade máxima, o que impede novos recolhimentos.

Um dia inteiro esperando ajuda

No último dia 30 de outubro, o sargento da Polícia Militar, Aide Monteiro Lasmar estava revoltado com a demora no resgate de um animal de rua próximo ao Chacreamento Santa Rosa, em Varginha. Segundo ele, o cão agonizava com uma ferida no pescoço e a orientação foi manter o bicho amarrado a um poste até a chegada do socorro.

De acordo com Lasmar, na data, ele ligou no Centro de Zoonoses às 9h30. Edson Tavares de Jesus, que mora no local, passou o remédio indicado e amarrou o bicho no poste, esperando até debaixo de chuva para que ele fosse recolhido. O representante da prefeitura chegou ao local às 16h, argumentando que precisou atender casos emergenciais antes de buscar o animal e que ainda havia se perdido no caminho. O animal foi recolhido para o canil em um carro da prefeitura.

Mais animais e mais reclamações

Os moradores reclamam que mais de 30 cachorros estão abandonados na zona rural de Varginha e que na hora de solicitar que o Centro de Zoonoses busque os animais, não são atendidos. “Eu liguei pra ela hoje [quarta-feira] 30 vezes e nada”, contou Lasmar, enquanto mostrava no aparelho o número de ligações realizadas para provar a informação.

De acordo com o veterinário do Centro de Zoonoses de Varginha, Guilherme Pimenta de Pádua Zolini, atualmente o canil municipal abriga cerca de 300 animais, entre gatos e cachorros. O local tem capacidade para 250 animais. “Sempre lidamos com um número alto de animais”, afirmou.

Nas últimas semanas, muitos moradores reclamaram que a zoonose não estaria recolhendo os animais quando solicitado. De acordo com Zolini, a atual situação só permite que sejam recolhidos animais em casos emergenciais, como os que estão feridos ou que representam risco se soltos nas ruas. “O pessoal reclama, mas precisamos manter um número de animais no local com qualidade, aqui não é depósito de bichos. O cão é territorial. Se eles ficam sem espaço, eles começam a brigar e acabam se machucando ou até ferindo fatalmente uns aos outros. Então não podemos deixar eles nestas condições”, completou.

Questionado sobre o cachorro recolhido no último dia 30, Zolini contou que o animal teve o pescoço cortado por algum objeto e a ferida foi contaminada por larva de mosca. Segundo o veterinário, o bicho já estaria ferido daquela forma há cerca de dois dias. No canil, foi tratado e se recupera para ser encaminhado à adoção.

Adoção com responsabilidade

O principal motivo para o acúmulo de animais nas ruas, de acordo com Zolini, é o abandono. “O mais comum é as pessoas adotarem o animal por impulso. Aí, quando começam a dar trabalho, quer abandoná-los. Muitos pegam como se fosse um brinquedo, não pensam que é um ser vivo, e como tal, precisa de cuidados. Se ficar doente, precisa de remédios e para não ficar doente, precisa de vacinação. Tudo isso representa custos, e a pessoa não coloca isso na balança quando pega o bicho”, argumentou.

Microchips e castração

Uma das estratégias para o Centro de Zoonose controlar o número de animais nas ruas é a castração dos que já foram recolhidos e a chipagem. Colocando um chip no animal, a pessoa que resolver adotar o bicho passa a ser responsável pelo animal e se o bicho for encontrado nas ruas, o tutor é multado.

Em Poços de Caldas (MG), cidade da região, um projeto do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) foi implantado há cerca de três meses e coloca microchips digitais em cães. Desde que está funcionando, cerca de 160 animais já receberam o equipamento, além de vacinas contra a raiva, parvovirose, cinomose e vermífugos.

Os equipamentos são colocados no dorso dos animais e a aplicação é feita com anestesia local. A partir daí, inicia-se o monitoramento do chip. Cada um deles tem um conjunto numérico de 15 dígitos. Cada chip custa ao município R$ 5 e ainda existe, no contrato, cerca de 1,2 mil microchips disponíveis para a implantação.

Quando os animais chegam ao CCZ, eles também são castrados. De acordo com a coordenadora do órgão, Sheila Patresi, cada chip contém as informações do cachorro e pode reduzir o número de cachorros soltos nas ruas da cidade. “Todos os animais, após recolhidos pelo CCZ, serão monitorados. Se alguém adotar um cachorro e depois ele fugir, ou esta pessoa colocá-lo na rua, este cão poderá ser identificado e o tutor responsabilizá-lo pela atitude”, explicou.

Com a implantação dos microchips, as pessoas que chegam ao Centro de Zoonoses com o objetivo de adotar um animal já fica sabendo que o bichinho tem esse controle. “Com os chips, a pessoa já recebe uma responsabilidade a mais. Ou seja, ela só leva se realmente quiser cuidar bem do cachorro”, comentou.

Já em Varginha, segundo Zolini, existe o projeto, mas ainda não foi implantado por questões orçamentárias. “Nos já diminuímos muito o número de animais nas ruas com a castração, mas ainda não foi possível implantar a chipagem dos animais.” Ainda de acordo com ele, quando recolhidos, os animais recebem tratamento médico e ficam à disposição para adoção. Outro problema que o Centro de Zoonoses enfrenta é a quantidade de ração para alimentar os bichos.

Como está acima da capacidade limite, muitas vezes, é preciso doações para alimentar os cães.”É preciso mais consciência das pessoas na hora de pegar um animal. Não é um móvel, é um ser vivo que depende de cuidados”, continua Zolini.

Os interessados em adotar precisam procurar o canil do Centro de Zoonoses e escolher o animal. “Mas muitas vezes é o animal que escolhe o tutor. Foi assim com o ‘Porco’, o cachorrinho que eu adotei. Toda vez que eu chegava, ele ‘sorria’. Aí não teve jeito, tive que adotar e levei ele pra casa depois de um mês”, finaliza o veterinário.

Fonte: G1

Nota da Redação: abrigo não é solução, é preciso ter políticas públicas de controle populacional de cães e gatos, campanhas educativas para a população e adoção de medidas punitivas com base na lei.

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