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Indústria da clonagem eleva exploração animal no Reino Unido a novo patamar

2 de novembro de 2013
6 min. de leitura
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(da Redação)

Foto: Care2
Foto: Care2

A clonagem de animais domésticos foi uma insensata proposta de uma empresa no Reino Unido. Esta prática desumana, antiética e cruel, já é feita sem grandes restrições na Coreia do Sul e cães são criados justamente para este tipo de exploração, sendo submetidos à constantes experiências, infinitas inseminações e, caso não sejam de valia para esta nova indústria, são mortos e consumidos pelo mercado alimentício local.

A morte de um animal nunca é um momento fácil na vida de um tutor, a ciência não pode oferecer uma solução técnica para isto, mas a clonagem de animais está começando a ser anunciada como um suposto paliativo , nesses casos. A clonagem de cães deverá se tornar manchete ao redor do mundo, mas uma matéria da Care2 aborda os motivos pelos quais a indústria da clonagem de animais é um péssimo negócio a quem realmente importa neste debate: os próprios animais.

Lançamento no Reino Unido

A Sooam Foundation, empresa de biotecnologia sul-coreana, está oferecendo um serviço de clonagem de cães para pessoas no Reino Unido com uma “oferta de lançamento” na qual o tutor pode ter um desconto de 63 mil libras, no serviço que “custa” cerca de 102 mil libras, para clonar seu cão.

Insung Hwang, diretor da empresa UK Dog Cloning Competition, declarou: “Nós podemos clonar cães de qualquer raça, tamanho ou forma, e estamos vindo para o Reino Unido para oferecer este serviço para tutores de cães muito especiais. Aceitamos qualquer tutor deste país que queira se beneficiar deste novo e emocionante avanço em biotecnologia”.

A empresa diz que já havia clonado pelo menos 400 cães, incluindo “dezenas” de animais domésticos para americanos de alto poder aquisitivo e registrou a “produção” de pelo menos 12 filhotes para compradores dos Estados Unidos no ano passado.

No entanto, esta “emocionante” inovação em biotecnologia traz uma série de preocupações éticas e muitos especialistas em direitos animais e cientistas estão condenando o serviço.

O que há por trás do processo

Para clonar um cão, o material genético tem que estar fresco, e para isso uma pequena amostra de tecido tem de ser colhida enquanto o cão a ser clonado ainda está vivo, ou no prazo de cinco dias após a sua morte.

Outro cão é então introduzido, que não precisa ser da mesma raça, para oferecer um “óvulo doador”. A equipe de clonagem, em seguida, substitui o DNA no óvulo do cão pelo material da amostra armazenada. Este outro cão é então utilizado para abrigar o embrião clonado e levá-lo a termo – obviamente, um cão adulto da mesma raça é o melhor, nesta fase. Neste ponto, as questões éticas começam a surgir.

Em primeiro lugar, a taxa de sucesso de reprodução quando este processo começou, por própria admissão de Hwang, era de cerca de 2%. Agora, está em 30%. E o que eles fazem, se um cachorro não consegue produzir um filhote de cachorro “viável”, é simplesmente tentar novamente. E mais uma vez, repetidamente, até atingirem o objetivo. Essencialmente, os cães são utilizados como “fábricas” de filhotes. Se a criação convencional de cães já vem trazendo implicações sociais preocupantes, esse processo de tentativa de reprodução deliberada vem acenar imediatamente com uma bandeira vermelha.

Além do mais, a clonagem não é um processo imaculado. Conforme Hwang disse ao The Guardian no ano passado: “As coisas podem dar errado. Os cães podem não nascer saudáveis. Por exemplo, eles podem nascer com a língua ou pescoço  espessos e com dificuldades de respiração. Mas nós garantimos um filhote saudável para os nossos clientes, por isso vamos tentar novamente. Muitas vezes, o cliente terá dois filhotes nesta situação. No entanto, nós nunca vamos matar um cão”.

Segundo a reportagem, uma das principais razões pelas quais a indústria da clonagem prospera na Coréia do Sul, além de um alto e admirável grau de inovação, é que as normas éticas que envolvem o tratamento desses animais em particular são muito menos rígidas que no Reino Unido, na Europa e nos Estados Unidos. De fato, a clonagem de um cão para esses fins não é legal na União Europeia ou nos Estados Unidos.

Na Coréia do Sul, há suspeitas de que os cães envolvidos como substitutos para esses procedimentos são provenientes de fazendas onde os padrões de bem-estar animal são incrivelmente baixos, e os cães “descartados” das experiências também podem ser vendidos para serem mortos para alimentação humana ou para a indústria de peles.

Em outras palavras, a indústria da clonagem pode alimentar uma indústria de exploração dos cães de todas as formas, colocando mais animais sem destino certo e incentivando o sistema de envio de cães para estas fazendas.

Mais animais abandonados

De acordo com a reportagem, o tutor irá esperar que o cão clonado se comporte do mesmo jeito que o cão no qual o material genético foi baseado, porém isso não ocorre, pois o processo é ineficiente e não irá produzir uma “cópia em carbono”. Em segundo lugar, a reportagem comenta que traços comportamentais são formados através de uma complexa interação de fatores genéticos e ambientais, e é esperado que os tutores fiquem desapontados quando a “cópia” tenha uma personalidade diferente do que eles esperam.

Foto: Jonathan Lins/G1
Foto: Jonathan Lins/G1

Isso deve representar, portanto, uma série de potenciais problemas para o cão “fabricado” no processo. Mesmo o tutor mais bem intencionado não poderá evitar o sentimento de desapontamento quando o cão que ele espera “ressuscitar” se comporta de outra maneira. Tais expectativas depositam um encargo excessivo sobre o cão. Há uma possibilidade do tutor voltar atrás e aceitar o cão como ele é – este seria, segundo a reportagem, um “melhor cenário”.

Mas considerando a possibilidade do tutor não ser alguém tão nobre e decidir que o cão, agindo diferente de seu predecessor, não é o que ele “encomendou”, provavelmente ele irá rejeitar o animal e este terá um futuro incerto. Ele pode ser abandonado, entregue a uma dessas fazendas de animais para consumo, vendido ou talvez mantido para uso na própria indústria de clonagem.

Sem contar que, se este animal for para um abrigo, ele se somará aos milhões de cães que estão nestas condições nos Estados Unidos e na Europa, podendo não encontrar um novo lar dentro do prazo e ser morto, algo que acontece diariamente nos abrigos inundados de animais indesejados e rejeitados.

Enfim, estas são questões que devem ser consideradas com o assunto da clonagem de cães vindo à tona com estes propósitos, pois os animais mais uma vez são tratados como se fossem acessórios para realização humana ao invés de seres de direito. Esse processo coloca uma carga injusta de expectativa nos animais e os coloca sob mais risco de maus-tratos e abuso.

Além disso, é um argumento devastador contra todo o discurso de valorização da adoção de animais em situação de rua, que já estão vivos e precisando de lares. Por caprichos humanos, tentar reproduzir animais com fins específicos é totalmente contraproducente, em um cenário onde milhões de animais domésticos procuram e pedem por novos lares em todo o mundo.

A reportagem da Care2 finaliza afirmando que o Reino Unido deve rejeitar drasticamente esta “oferta” que se apresenta como nova possibilidade mas que, no fundo, tem profundas implicações éticas e carrega violações aos direitos animais, não servindo para outra função a não ser um desejo humano egoísta.

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