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Vídeo mostra os primeiros momentos do resgate no Instituto Royal

21 de outubro de 2013
6 min. de leitura
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Era pouco depois de 1h de sexta-feira (18) quando um grupo de defensores dos direitos dos animais pulou os muros de um centro de pesquisas em São Roque, no interior de São Paulo.

Imagens mostram os primeiros momentos da invasão ao Instituto Royal.

“Pode entrar, pode entrar, tá cheio de filhote ali”, diz um dos integrantes do grupo.

“Olha só, olha a cara desse animal. Como a gente permite que isso continue existindo nesse país”, mostra outra pessoa do grupo defensor dos direitos dos animais.

Uma mulher entra na jaula para conseguir pegar os cãezinhos. O chão está cheio de sujeira.

Um cão é encontrado morto, congelado em um saco plástico.

“Ah, acharam cachorro morto, é? Sabia. Óbvio”, alerta um integrante.

Os Beagles são passados de mão em mão e distribuídos entre as pessoas. A adoção é feita na hora.

O protesto começou no dia 12 de outubro, quando um pequeno grupo se acorrentou aos portões do centro de pesquisas.

O número de pessoas foi aumentando e o clima ficou cada vez mais tenso, contou uma das ativistas, Adriana Greco. “Eu comecei a pedir para o pessoal vir para invadir mesmo, porque a gente tinha que fazer alguma coisa porque estava muito revoltante”, explicou.

No sábado (19), Adriana negou ter pedido a invasão.

“A gente não tinha intenção nenhuma de invasão. Quando eu subi, eu já não vi mais nada. Não sei quem levou. Eu não fiquei com nenhum, porque eu não fui lá pra isso”, conta Adriana.

Neste domingo, o advogado de Adriana mandou um email tentando impedir a exibição de imagens e de entrevistas de sua cliente.

De acordo com os princípios editoriais das Organizações Globo, o Fantástico avaliou que as declarações dela são de interesse público e essenciais para a reportagem.

Neste sábado (19), o grupo fez um novo protesto na porta do centro de pesquisas, que terminou em confronto com a polícia e carros incendiados.

As ativistas dizem que a manifestação era pacífica. “A gente sabe que alguns veículos foram incendiados, mas a gente não sabe como que isso aconteceu”, conta a ativista Jane Santos.

Os 178 cães retirados do instituto foram levados para as casas de diversas pessoas.

Em São Roque, um casal, que não quer se identificar, abrigou um filhote. “Você não está ali porque você quer escolher um cachorro, como se você fosse comprar ou adotar. Você tá ali por amor, entendeu? O que eu não quero para mim eu não quero para o meu próximo, seja ele uma pessoa, seja um animal”, explica o casal.

Na capital, São Paulo, um jovem está com seis cachorros. “Claramente eles sofreram muitos maus-tratos”, afirma o jovem.

A invasão foi no Instituto Royal, um dos mais importantes centros de pesquisas do país. Os estudos em animais eram feitos para testar produtos da indústria farmacêutica antes de eles serem usados por seres humanos.

A pedido do Fantástico, a gerente do Instituto analisou as imagens feitas após a entrada dos ativistas.

Fantástico: Doutora Silvia, conta pra gente. A gente tá vendo uma imagem ali, que parte do prédio que era?
Silvia: Essa é a recepção do prédio. Foram destruídos os computadores, a porta principal foi destruída. Eles levaram arquivos, eles levaram inclusive medicamentos.

Fantástico: Aí é o canil, porque está nessas condições, com essa sujeira?
Silvia: As baias estão sujas porque primeiro: nossos funcionários foram impedidos de trabalhar no dia anterior. Conforme 150 pessoas entram dentro de um lugar como esse, os animais se assustaram. Então essa quantidade de fezes e urina é justamente pelo estresse provocado por aquele ato. Eles estão acostumados desde que nascem a três, quatro pessoas, as mesmas. Nessa sala estão os futuros medicamentos que nós teríamos. Remédios para câncer, remédios para gastrite, remédios para dor de cabeça, antibióticos. Ali não tem cão, ali não tem animal nenhum. Ali é um laboratório de pesquisa e eles entraram e destruíram praticamente tudo”, explica a gerente do Instituto.

O diretor científico do Instituto Royal afirma que apenas remédios eram testados no local. “A indústria de cosméticos não usa animais. As indústrias sérias que trabalham com cosméticos não usam mais animais”, explica João Antônio Henriques.

Ele nega maus-tratos aos animais. “Absolutamente. Eram tratados com muito conforto, com muito cuidado”, afirma João Antônio.

Um dos Beagles com o jovem de São Paulo estava com a língua machucada. “A gente suspeita que seja em recorrência de algum trauma com muita dor, então ele acaba mordendo a língua”, diz um jovem.

“Houve uma briga dentro do canil num momento de recreação. Isso é uma coisa normal que acontece em qualquer canil”, afirma o diretor científico do Instituto.

Sobre o cão encontrado congelado, o pesquisador diz que a morte foi natural. “Estava congelado porque foi no final do dia e nós tínhamos que esperar que a veterinária, patologista, viesse para analisar o animal e verificar o motivo da sua morte”, explica o João Antônio.

A fiscalização das atividades do Instituto Royal era feita pelo Conselho Nacional de Controle da Experimentação Animal – o Concea – do Ministério da Ciência e Tecnologia.

O coordenador do órgão afirma que não havia irregularidades no local. “O Instituto Royal tinha todo o credenciamento para realizar as pesquisas com animais”, diz o coordenador do Concea, Marcelo Morales.

Segundo ele, o Brasil tem regras rígidas para proteger animais usados como cobaias.

“Nós temos que ter veterinários presentes. Esses animais quando passam por procedimentos têm que estar anestesiados”, esclarece o coordenador do Concea.

Após denúncias dos ativistas, um promotor público começou uma investigação para saber se os animais eram ou não vítimas de abusos. O trabalho foi interrompido após a invasão.

“Com essa invasão, grande parte de provas que poderiam ser angariadas para a nossa investigação foram destruídas”, revela o promotor Wilson Velasco Júnior.

Os testes em animais geram polêmica no mundo todo. Na internet, celebridades brasileiras apoiaram os ativistas que invadiram o instituto.

Para o representante do Ministério da Ciência, esse tipo de estudo é necessário.

“Todos os medicamentos que nós temos nas prateleiras das farmácias foram testados em animais. O Beagle é utilizado como padrão internacional. Ele tem uma similaridade muito grande com o organismo humano. Substituir o cão? Quem sabe no futuro. Mas a gente ainda está muito longe disso”, diz o coordenador do Concea, Marcelo Morales.

“A população tem que entender que o que nós fazemos ali é para benefício da própria população. Quando a pessoa tem uma dor de cabeça, ela vai na farmácia e toma um remédio. Agora como esse remédio chegou até a prateleira? Nós não somos matadores de cães, matadores de animais. Nós não somos esses monstros”, afirma a gerente do Instituto Royal.

“A gente se preocupa com eles. Eu sou a favor sim da ciência, do avanço da ciência, algumas coisas, mas eu sou totalmente contra. Eu posso ser leiga, mas eu não vejo similaridade em testar um produto em um animal e um ser humano”, diz uma das ativistas.

A polícia registrou dois boletins de ocorrência: um para investigar a denúncia de maus-tratos no Instituto e outro contra os ativistas, por furto.

“Eu não cometi crime, eu salvei uma vida”, disse uma das pessoas do grupo de defensores dos animais.

Segundo o delegado responsável pelo caso, quem estiver com um dos cães do Instituto Royal pode ser indiciado por crime de receptação.

Neste domingo, o deputado federal Protógenes Queiroz visitou o Instituto Royal e afirmou que a Câmara vai investigar as denúncias de violência contra os animais.

Neste sábado (19), os dois primeiros cachorros foram recuperados pela polícia, abandonados na rua.

Fonte: G1 

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