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Sítio vira santuário de animais vítimas de maus-tratos e abandono

20 de outubro de 2013
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Foto: Mariane Rossi/G1
Foto: Mariane Rossi/G1

Uma família de empresários resolveu transformar um sítio em um santuário para animais em Peruíbe, no litoral de São Paulo. Uma área verde de 480 mil metros é o lar de mais de 600 cachorros, gatos, cavalos, porcos e aves, que foram vítimas de maus-tratos e recebem tratamento, alimentação e carinho. Além disso, eles atendem a comunidade que pode levar seus animais no local sem custo nenhum.

Chalana Machado e o tio sempre gostaram de animais e, por isso, costumavam fazer doações para instituições. Certo dia, ela resolveu investigar e ver se o dinheiro estava sendo bem utilizado. O resultado deixou Chalana decepcionada e a instigou a montar um lugar em que os animais fossem atendidos com dignidade e tratados de forma gratuita.

Em 2006, o Sítio Nossa Senhora Aparecida, em Peruíbe, foi comprado pela família de Chalana e passou a ser a sede do Projeto ‘Anjinhos da Rua’. “Meu tio falava que um dia ia comprar um sítio e ter um tigre dentro. Ele mal sabia que o tigre iria ser esse projeto”, conta ela.

O local começou a receber animais vítimas de maus-tratos, abandono e enchentes e dar a eles tratamento veterinário. Após o restabelecimento do animal, ele pode viver no sítio, onde conta com alimentação, atendimento médico e carinho de todos os cuidadores. O projeto também atende a comunidade que pode levar seus animais para receber tratamento gratuito.

O morador de Peruíbe, Sidnei Ribeiro, levou o seu cachorro para a instituição. ”É a primeira vez que eu adoto um cachorrinho recém-nascido. Quando eu peguei, ele estava feio, com barrigão, cheio de verme. Quando eu comecei a tratar aqui ele estava feio, agora está bonito”, conta ele, que apelidou o cão de Pitoco.

Com o passar dos anos, o projeto cresceu de uma forma inimaginável. Agora, são quase 600 bichos entre animais de pequeno porte como cachorros, gatos, aves, e de grande porte, como porcos, bois e cavalos. No local, foram construídos consultórios veterinários, laboratório para exames, alas para internação de animais, espaço para tosa e banho. Para abrigar todos eles foi preciso construir canis, gatis, chiqueiros para os porcos e estábulos para os cavalos. Além disso, fazem parte da equipe 32 funcionários, mas indiretamente, são mais de 100. “Tem quatro veterinários que trabalham aqui, plantão 24 horas, sete dias por semana. Temos unidade móvel e atendimento médico gratuito para a população das comunidades. Qualquer um que queira trazer o bichinho e confie no nosso trabalho não paga absolutamente nada. Ele é totalmente filantrópico. Nós somos uma instituição sem fins lucrativos de proteção, ação e abrigo de animais”, explica Chalana, diretora do projeto.

As despesas também aumentaram. Segundo Chalana, o projeto gasta cerca de R$ 300 por mês com cada animal. São 180 quilos de ração para cachorro e 20 quilos de ração para gatos por dia. Já os animais de grande porte recebem misturas ou alimentos específicos. Em relação à saúde animal, o projeto compra vacinas anualmente para que os bichos evitem pegar doenças. Mesmo assim, é preciso gastar entre R$ 6 e R$ 7 mil de medicamentos e cerca de R$ 500 por mês para fazer exames específicos em clínicas laboratoriais, que são conveniadas com o projeto.

Chalana conta que os animais chegam no ‘Anjinhos da Rua’ de diversas formas, mas, sempre em más condições de saúde. “O pessoal começa a trazer, às vezes vem de enchente, às vezes é denúncia, porque tem o site e o telefone. Eles chegam caoticamente. Ou é por doença do carrapato, ou é por cinomose, paravirose, verminose, judiado mesmo, tipo atropelado, animal que foi dilacerado, animal agredido, eles chegam em pior estado. A gente faz de tudo para recuperar eles, depois eles ficam estabilizados e nem querem mais ir embora”, fala Chalana.

Quando os animais chegam ao sítio eles passam por uma triagem dos veterinários. Se não desenvolverem nenhuma doença, são feito todos os exames, são castrados, vacinados, vermifugados e estão prontos para ficarem livres em alguma baia do sítio.

O médico veterinário Cesar Gomes de Jesus Isaac é quem analisa os cachorros.“Tem todos os tipos de doenças, parasitárias, infecciosas, todos os tipos de parasitas que se conhece e alguns até a gente teve que estudar um pouco mais sobre o problema para conhecer e tentar tratar os animais”, explica. O veterinário também comenta que a comunidade é bem carente e sempre é preciso dar orientações aos tutores dos animais. “Infelizmente tem uma cultura muito pobre de como lidar com os animais. As pessoas não tem muita noção. Isso vem melhorando”, diz ele.

Já Ilda Xavier de Camargo é a médica veterinária responsável pelos gatos. Segundo ela, os animais chegam debilitados e é preciso levá-los para a clínica e medicá-los. Ela separa os gatos de acordo com a doença. “A maioria é a traqueite, que é a gripe dos gatos. Aids também tem bastante. É uma doença viral que não tem cura. Ela tem controle, mas não tem cura e muita gente acaba não fazendo o exame e nós fazemos os exames para os animais”, explica. No projeto, cerca de 60 gatos dos 120 existentes no local tem Aids. Por isso, há um gatil especial para eles.

Glédson Santana Vieira, auxiliar de veterinário, é quem faz o resgate dos animais, entre tantas outras coisas. Ele já trabalha no projeto há quase seis anos. “Geralmente a gente recebe denúncia. O pessoal liga, fala que tem um animal em um certo local, está debilitado ou está em situação de maus-tratos. Se for verdade, a gente vai lá, recolhe, faz a triagem”, explica ele, que comanda a unidade móvel do “Anjinhos da Rua” e que tem o prazer de ver a melhora de vida de cada animal. “É maravilhoso. Só de você pegar um animal debilitado, você vê ele reagindo conforme o tratamento, você vê ele bem melhor depois e observa uma doação dele, não tem como explicar”, diz.

Alguns animais acabam ficando no sítio porque não há interesse em adoção. Na maioria das vezes eles estão velhos, são deficientes físicos, amputados, cegos ou tem problemas psicológicos. “Os filhotes, nós conseguimos doar bem fácil, já vai castrado e vacinado para a pessoa. Não cobramos taxa de adoção e nem de vacina”, explica Chalana. Ela ressalta que o tutor tem que dar a mesma qualidade de vida que o animal recebe no projeto. Além disso, precisa saber cuidar dele. “Seja qual for o animal, ele não é um brinquedo de pelúcia a pilha, ele precisa de alimento, precisa de médico, precisa de abrigo, carinho, atenção”, afirma.

Para continuar e ampliar o “Anjinhos da Rua”, Chalana pretende atrair parceiros e amigos que queiram fazer parte do projeto, que atualmente é mantido pelas empresas da família. A ideia é montar um espaço para idosos e depois para crianças.

Atualmente, eles não recebem verba do governo e só aceitam doações em suprimentos ou material. “Já foi citado que nós somos hoje a maior área do mundo em abrigo de animais privada”, disse Chalana. A instituição sem fins lucrativos está pronta para se tornar uma fundação e continuar com a missão de ajudar os animais, sem medir esforços para que eles tenham uma boa qualidade de vida assim como muitos humanos.

Fonte: G1

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