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Gorilas: objetos em mãos de traficantes

17 de outubro de 2013
3 min. de leitura
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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Um observador da natureza, como o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, falou curto e grosso no programa Roda Viva, da TV Cultura, recentemente: “Para você ter um gorila no zoológico, você destrói uma família”. E continua:

As pessoas que forem ao zoológico e virem um gorila deveriam fazer um protesto.

A família dos gorilas é como a família dos humanos. Quando eu fui fotografar os gorilas, fui recebido por uma família – você tem um avô, você tem um pai e você tem os filhos, e você tem um respeito vertical, como a nossa família humana. E para você conseguir um gorila para colocar num zoológico, você tem que matar um pai, você tem que matar uma mãe, porque um gorila de 300 kg você não consegue levar, porque é uma massa muscular total. Então eles vêm e matam o pai, matam a mãe, roubam o filhote e levam o filhote. O filhote que vai para o zoológico é o filhote que vira o grande gorila, que depois a gente vai visitar no zoológico, mas você destruiu uma família –como a família humana. E os gorilas também têm problema psicológico. Um gorila que está no grupo está numa família em que o pai é assassinado, a mãe é assassinada, os outros se desintegram, ele nunca mais se adapta em outro grupo de gorila e eles acabam morrendo também. Então eu acho que é uma falta de respeito profundo – os jardins zoológicos em geral do mundo.
99% do que nós temos, o gorila tem.
Os gorilas, na verdade, somos nós em evolução.”

Sebastião Salgado

Fonte: http://www.projetogap.org.br/noticia/programa-roda-viva/

O Prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, os donos do Loro Parque, nas Ilhas Canárias, na Espanha e John Aspinal, dono da Fundação que leva seu nome, terão que responder algum dia ante a justiça humana por destruir famílias de grandes primatas e por se importarem apenas com o marketing eleitoral que acham que essa atividade produz, assim como os benefícios que esse tráfico sórdido de hominídeos primitivos lhes rende.

O gorila macho León, que chegou ao Zoológico de Belo Horizonte no dia 11 de outubro, nasceu em um zoológico israelense e junto com seu irmão, Aladin, foi transferido para o Loro Parque, na Espanha, para serem incorporados a um grupo de gorilas que lá existia. O Loro Parque se converteu em receptor de machos solteiros, arrancados de suas famílias, e foi juntando-os para obter uma reserva estratégica de gorilas jovens a fim de “doá-los” a zoológicos europeus e de outros países, que precisem preencher as “vagas” dos que morrem prematuramente.

Ao mesmo tempo, uma fêmea jovem, de nome Lou-Lou, que estava em um zoológico inglês da Fundação John Aspinal, também foi enviada ao Zoológico de Belo Horizonte, separando-a de sua família original.

Qual é o objetivo de tudo isto? Proteger a espécie? Sem dúvida, que é isso que eles vão responder. Os burocratas que manipulam as vidas de dezenas de gorilas em cativeiro vão se esconder por detrás dessa argumentação.

Porém, atrás de toda essa movimentação de vidas valiosas de gorilas à beira da extinção, estão os interesses econômicos de um grupo de pessoas e organizações que usufruem dos lucros, popularidade, reconhecimento social e político, em países que não têm o mínimo compromisso com a preservação da biodiversidade.

A CITES – Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção, organismo criado anos atrás para controlar o tráfico e o comércio das mesmas, coloca o seu visto e o seu selo de aprovação em todas estas transações de grandes primatas, através das fronteiras dos países, sem emitir um juízo de valor.

É triste e trágico reconhecer que a proteção da Biodiversidade no Mundo está nas mãos daqueles que pouco se importam com ela e, mais ainda, acharam uma forma, disfarçados de protetores, de lucrarem com ela.

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