EnglishEspañolPortuguês

Maus-tratos a animais é a quarta causa que mais leva os paulistas a usarem o disque-denúncia

28 de outubro de 2013
3 min. de leitura
A-
A+
(Foto: Reprodução Internet)
(Foto: Reprodução Internet)

O número de queixas de maus-tratos a animais no Disque-Denúncia (pelo telefone 181) dá uma mostra de quanto a sociedade de São Paulo vem aderindo à proteção dos animais. De janeiro a outubro deste ano, o serviço registrou 4.123 denúncias, elevando a causa animal ao quarto lugar no ranking das 15 maiores queixas.

As denúncias de maus-tratos aos animais só perdem para as de tráfico de entorpecentes (responsável por quase metade dos apontamentos feitos ao Disque-Denúncia), jogo de azar e maus-tratos à criança. Para o gerente de projetos do Instituto São Paulo Contra a Violência e coordenador do Disque-Denúncia, Mário Ven drell, os casos de repercussão, que ganham a mídia, impulsionam e estimulam a população a denunciar.

“Em novembro de 2011, um vídeo mostrando uma enfermeira espancando um yorkshire até a morte causou comoção nacional. A partir dali, as denúncias de maus-tratos aos animais cresceram muito no nosso serviço e se mantiveram em alta”, disse.

Em outubro daquele ano, os maus-tratos contra animais ocupavam o 9 lugar no ranking, com 187 denúncias. Em novembro, o item saltou para o 4 lugar, com 265 queixas. Em dezembro, já eram 397 denúncias. O ano de 2012 entrou e as reclamações sobre maus-tratos aos animais se consolidaram na quarta posição do ranking, com 407 denúncias.

Os números de outubro não estão consolidados, mas Vendrell acredita que a polêmica que envolveu os testes em beagles no laboratório Royal, em São Roque, no interior paulista, possa gerar ainda mais denúncias. Ativistas invadiram o prédio e libertaram os animais.

“Toda grande exposição na mídia se reflete no número de denúncias. As pessoas percebem que é possível participar, se sentem mais encorajadas a denunciar”, confirma.

O número de denúncias de agressão aos bichos é cinco vezes maior do que o de maus-tratos à mulher. “Quando se trata de violência doméstica, normalmente o denunciante é a própria vítima ou alguém da família. Como pode gerar prisão, há mais temor em prosseguir com a queixa”, disse.

Fragilidade pode atrair proteção

O animal doméstico, especialmente o cão, é fiel, carinhoso, tem o desejo limitado e condicionado pelo tutor. Há o estabelecimento de uma relação assimétrica, que traz, cada vez mais, a sensação de dependência e fragilidade. Essa condição atrai protetores. Entretanto, em relações humanas existem a vaidade, o medo da represália, relações doentes, em que a vítima até admite merecer a violência como forma punitiva e a desconsideração do idoso na sociedade industrial – por deixar de ser produtivo. A incapacidade de um animal ou uma criança de se defenderem pode ser parte de um maior protecionismo.

Em pouco mais de dois anos, denúncias à ONG triplicaram

O presidente da ONG Cão Leal, Rafael Leal, de 27 anos, disse que, há pouco mais de dois anos, o número de denúncias recebidas pela entidade triplicou. “Há muito mais pessoas adotando, ajudando financeiramente, fazendo doações e se preocupando com a causa animal”, afirmou.

Para Rafael, de uma certa maneira, as leis para os humanos ainda garantem penas mais rígidas. “Mas a legislação para animais ainda é muito frágil e é fundamental que haja avanços na área política para que os animais tenham seus direitos básicos garantidos”, afirma.

A protetora Ana Catarina Flacker, de 29 anos, está à frente do projeto Ajuda Animal e hoje cuida do destino de 70 cães. “A mídia, ao divulgar isso, faz com que as pessoas acordem para essa realidade. Acho que deveria haver até mais denúncias. É incrível que queixas de jogos de azar superem crimes que envolvam violência contra a vida, independentemente de ser contra animais ou seres humanos”, diz, indignada.

“As penalidades para quem é cruel com os animais têm de ser mais rígidas. O ser humano raciocina e pode direcionar seu destino. Exemplo é a Lei Maria da Penha, que prevê prisão. Quando entrou em vigor, as mulheres passaram a denunciar menos, com medo de mandar maridos violentos para a cadeia.”

Fonte: Rede Bom Dia

Você viu?

Ir para o topo