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Empresa cria aparelho absurdo que controla movimentos de baratas vivas

16 de outubro de 2013
5 min. de leitura
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(da Redação)

Foto: Backyard Brain
Foto: Backyard Brain

“Controle os movimentos de uma barata viva de seu próprio celular!  Este é o primeiro cyborg disponível para comercialização no mundo!”, esse é o slogan sádico que está causando curiosidade no mundo da tecnologia: baratas cibernéticas que podem ser controladas através de um smartphone, projetadas para ensinar a jovens neurocientistas as complexidades do campo científico. No entanto, críticos dizem que o dispositivo representa algo que vai além da crueldade animal. As informações são da Care2.

Apelidado de “RoboRoach”, o então chamado cyborg foi a principal atração de um recente evento TEDx apresentado por Greg Gage e Tim Marzullo, os co-fundadores da RoboRoach HQ, com a empresa Backyard Brains. A equipe da Brains diz ter por objetivo fazer de qualquer pessoa um neurocientista, fornecendo “kits” de neurociência acessíveis a estudantes de todas as idades. A empresa recebeu financiamento para este projeto em particular através de uma campanha bem sucedida da plataforma de financiamento chamada Kickstarter.

Veja o vídeo a respeito do RoboRoach:

O sistema funciona com o uso de eletrodos que alimentam diretamente as antenas da barata, proporcionando estimulação controlada para fazer a barata achar que encontrou um obstáculo. No entanto, o novo aplicativo explora a tecnologia Bluetooth de smartphones para controlar o estímulo, permitindo que o operador dirija a barata para a esquerda ou para a direita, como assim o usuário desejar. Segundo a reportagem, essa configuração requer algum trabalho, e é aí que entra o aspecto “pedagógico”.

De modo a criar as suas próprias “barata cyborg”, os alunos recebem uma série de instruções em seu kit RoboRoach. Eles são instruídos a mergulhar a barata em água com gelo para anestesiá-la. Eles, então, lixam uma área sobre a cabeça da barata, para que possam colar os eletrodos necessários no local. Um fio terra deve ser inserido no corpo da barata. As antenas da barata são então cortadas, e eletrodos de prata são inseridos para receber os impulsos da unidade de circuito (uma “mochila”) presa ao redor do corpo da barata.

Esse kit insensato e “educacional” estará disponível para venda no mercado por 99,99 dólares, e será lançado nos Estados Unidos no próximo mês.

Os críticos estão apontando para a questão ética: o dispositivo envolve uma manipulação praticamente cirúrgica na barata e o uso de estímulo elétrico. Os idealizadores argumentam que os microamperes usados para controlar a barata são baixos e apresentam pouco desconforto a ela, que se adaptaria rapidamente a esse grau de amperagem.

Marzullo chamou essas preocupações dos críticos de equivocadas, e comparou o sistema a um freio: “Às vezes recebemos e-mails nos chamando de psicopatas e nos acusando de estar incentivando danos a animais”, diz ele. “Se tivéssemos inventado a rédea para guiar o cavalo, algumas pessoas diriam que esse seria um controle prejudicial aos animais. Isso tudo mostra o quão pouco a maioria das pessoas sabe sobre o funcionamento dos neurônios porque nunca experimentou isso na escola. É um medo do desconhecido”.

O fundador do aparelho ignora que a questão ética também vai além da dor infligida ao animal, que se refere ao próprio controle exercido pelo aparelho na barata, afinal, com esta tecnologia, pode-se controlar a vida completa do pequeno inseto. Então, além de causar sofrimento ao animal, este kit também retira qualquer possibilidade de vida livre que ele possa ter.

A analogia da embocadura no cavalo parece não ser válida, uma vez que o cavalo não tem de ser intencionalmente cortado a fim de ajustar o freio.

Independentemente disso, a Backyard Brains aparentemente se sente justificada quanto aos méritos científicos deste empreendimento. Na verdade, outras experiências descritas no site incluem o corte de duas pernas da barata para a finalidade de demonstrar os princípios básicos da prótese neural. Como a seção “Ética” do site mostra, a empresa absolutamente não se intimida diante da prática de testes em animais e acredita estar dentro dos limites da prática educativa aceitável ao realizá-los. Eles fazem notar, porém, que anestesiam as baratas, e que todas as baratas que foram utilizadas para testar este produto não foram mortas e sim tiveram a possibilidade de viver seus dias restantes em uma fazenda de baratas.

Contudo, os críticos não ficaram satisfeitos com estas respostas. Eles afirmam que, não importa o valor educacional, há questões éticas mais amplas envolvidas. Uma delas é que ele encoraja crianças a realizar procedimentos cirúrgicos danosos em seres vivos e reforçar a ideia de que seres humanos podem controlar e subjugar outros animais.

Enquanto os idealizadores do RoboRoach insistem que todos os kits distribuídos foram usados com responsabilidade, eles apresentam uma alta chance de serem utilizados de forma abusiva.

Jonathan Balcombe, da Humane Society University em Washington, D.C., fez um comentário pertinente: “Se fosse descoberto que um professor está orientando alunos a usar lentes de aumento para queimar formigas para depois olhar para seus tecidos, como as pessoas iriam reagir?”.

Essencialmente, no entanto, a principal crítica é que isso não é necessário, e não importa o quão bem intencionado, o RoboRoach realmente pode ser utilizado para nada mais do que entretenimento.

O PETA também criticou o RoboRoach, dizendo: “Ser desrespeitoso com formas de vida porque elas são pequenas e porque nós não sabemos entender ou apreciar completamente o seu lugar no esquema maior das coisas está errado. É retrógrado e moralmente duvidoso”. Os fabricantes do RoboRoach são capazes de se esconder atrás de um escudo usado frequentemente que consiste na justificativa da experimentação animal como ajuda para o conhecimento médico avançado. Como esta é uma prática tida como não letal pelos criadores, que também o defendem como algo voltado a seduzir os jovens a entrar no campo científico, eles parecem ignorar as implicações. Os criadores ainda afirmam que são contra a antropomorfização das baratas, ou seja, contra considerar que baratas tenham algum direito humano.

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