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Interrupção das castrações aumenta a população animal

14 de outubro de 2013
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O Programa de esterilizações gratuitas realizado pela prefeitura de Petrópolis, Região Serrana do Rio, em parceria com ONGs da cidade, foi interrompido em setembro. Iniciado em 2005, o serviço permitiu a castração de pouco mais de 10 mil cães e gatos.

Entretanto, todo o trabalho de controle da população animal desenvolvido em oito anos pode ser perdido em apenas seis meses. Isso porque aproximadamente 650 cadelas deixarão de ser esterilizadas e, conforme o ciclo de reprodução, estas poderão dar origem a 15 mil filhotes. Se as contas forem feitas com base na situação dos gatos, o número pode triplicar, já que as fêmeas têm cios com intervalos menores.

A prefeitura afirma que a intenção é retornar com o programa de castrações em um novo formato no inicio de 2014. O objetivo é fechar os convênios diretamente com as clínicas veterinárias, sem o intermédio das entidades de proteção animal. As ONGs, entretanto, têm dúvidas sobre a efetivação da medida e afirmam que, mesmo que a providência seja tomada, as perdas já terão ocorrido. Enquanto o programa estava ativo, cada ONG recebia uma verba mensal de R$ 4 mil, valor reajustado em janeiro de 2013. Antes desse período, a verba era de R$ 2.667. O dinheiro era repassado aos estabelecimentos veterinários que realizavam as cirurgias e a entidade arcava com os custos de transporte e pós-operatório.

“Não acredito que este retorno aconteça antes do meio do ano de 2014, isso se acontecer”, pontua Carlos Eduardo da Cunha Pereira, presidente do Grupo de Proteção e Assistência aos Animais e ao Meio Ambiente, o Gapa-ma, que fez parte do programa até março deste ano. O sistema permitia a castração média de 38 animais por mês para cada ONG, conforme os critérios (se a entidade operava fêmeas e machos, gatos e cachorros) e o valor pago às clínicas. O programa teve a participação de três ONGs nos últimos três anos – Gapa-ma, Sociedade Petropolitana de Proteção aos Animais (SPPA) e a Cia. dos Animais –, mas chegou a ter quatro instituições conveniadas, incluindo a AnimaVida.

Cadela e filhotes resgatados pelo Gapa-ma em Petrópolis (Foto: Carlos Eduardo Pereira/Gapa-ma)
Cadela e filhotes resgatados pelo Gapa-ma em Petrópolis (Foto: Carlos Eduardo Pereira/Gapa-ma)

A interrupção do serviço, que era gratuito e destinado à população carente, bem como aos animais abandonados, deixou as ONGs com uma fila de espera. Somente o Gapa-ma tem 250 formulários preenchidos por famílias que se cadastraram para conseguir esterilizar seus animais domésticos. “Interrompemos o trabalho, uma vez que nossos recursos mal dão para castrar os animais que disponibilizamos para adoção”, lamenta Carlos Eduardo. A voluntária da SPPA, Jaqueline Brand Viana, completa: “Essa interrupção é um retrocesso. Petrópolis está dando um péssimo exemplo. Se ajustes eram necessários, deveriam ter sido feitos antes do fim da última renovação do convênio, no dia 2 de setembro”.

Reflexos poderão ser sentidos nos próximos anos

Para a coordenadora de atividades da AnimaVida, Ana Cristina de Carvalho Ribeiro, a paralisação do serviço, mesmo que momentânea, traz prejuízos, já que o crescimento da população animal se dá muito rapidamente. A coordenadora da AnimaVida, porém, tem esperanças de que o projeto retorne mais eficiente. “Em reunião realizada com as ONGs, explicações foram dadas sobre as mudanças que ocorrerão. A AnimaVida acredita na possibilidade de aproximação de um modelo mais adequado. A meta inicial da prefeitura com a retomada do processo é de operar 250 animais por mês”, afirma Ana Cristina.

A entidade pediu o desligamento do convênio com a prefeitura em fevereiro de 2010 por não acreditar em sua eficácia. Além disso, ela destaca que “as castrações controlam somente o crescimento da população, mas não a guarda responsável. Ou seja, não impede que pessoas abandonem os animais nas ruas ou os negligenciem. Esse problema só poderá ser resolvido com a microchipagem (método que permite a identificação e punição do tutor do animal)”.

Número de cirurgias precisa ser elevado

A população estimada de cães e gatos hoje em Petrópolis é de cerca de 50 mil, sendo 10% destes, ou seja, 5 mil, em situação de abandono. O número de cirurgias realizadas mensalmente sempre foi considerado insuficiente pelas entidades para que o controle populacional oferecesse bons resultados. Em tabela estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – que considera a castração como sendo e melhor forma de evitar a reprodução indiscriminada de cães e gatos – o número de cirurgias deve corresponder a 10% da população local. Com base nesta conta, seria necessário, em Petrópolis, esterilizar 5 mil animais por ano, mas o programa permitia realizar a intervenção em apenas pouco mais de mil animais.

A prefeitura de Petrópolis afirma, por meio da coordenadoria de comunicação, que segundo o secretário de Saúde, André Pombo, o edital do processo licitatório está sendo elaborado. As propostas estão sendo apresentadas pelas ONGs para aprimorar o serviço. “A previsão é de que o edital de licitação esteja pronto até o dia 20 de outubro e o serviço deve entrar em funcionamento no início de 2014”, garante a nota. Outra proposta apresentada em reunião com as ONGs e que está sendo analisada é a implantação de um castramóvel (ônibus adaptado que circula pelos bairros realizando as cirurgias). A ação permitiria um aumento no número de castrações para 250 por mês.

Fonte: G1

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