EnglishEspañolPortuguês

Aposentada busca cão desaparecido há mais de um ano

7 de outubro de 2013
3 min. de leitura
A-
A+

Era para ser uma reportagem sobre mais uma homenagem a São Francisco de Assis, o santo da natureza, em manhã de bênçãos, desfile e feira de adoção de animais. Não fosse uma mulher de olhos sem graça, solitária, a percorrer canteiro por canteiro da Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste de Belo Horizonte, em busca desesperada por Valério, o cão SRD, surdo, desaparecido desde as 8h30 de 22 de abril de 2012. “Para muitos, apenas um cão. Para mim, um filho”, emociona-se Maria de Lourdes Goulart, de 57 anos, ao repetir a frase espalhada pelos quatro cantos da cidade, na busca incessante desde a manhã acinzentada daquele outono.

São 532 dias sem perder a esperança. De feira em feira, de protetor em protetor de todas as organizações não governamentais atentas aos bichos em apuros da cidade, Maria de Lourdes sonha reaver Valério. “Com todas as maldades contra os animais que a gente fica sabendo, não passo um só dia, uma só noite sem pensar que ele pode estar em dificuldades”. O desaparecimento de Valério foi “descuido de minuto”, numa fresta no portão de aço estragado da Rua Machado de Assis, no Bairro Lagoinha, na Região Noroeste.

(Foto: Divulgação)
(Foto: Divulgação)

“Foi domingo. Sei até a hora. No sábado, ele passou o dia ainda mais carinhoso, grudado em mim, como se quisesse se despedir”, suspira. Maria diz ter passado os dias seguintes percorrendo canto por canto da região, batendo de casa em casa. “Disseram-me que ele tinha sido visto na Pedreira Prado Lopes. Passei dias andando de beco em beco. Fiz cartazes e faixas e coloquei na região. Nada”, lamenta.

A aposentada também iniciou uma campanha pela internet, nas redes sociais e blogs de proteção. O e-mail para notícias – [email protected] – foi replicado no Facebook por amigos e amigos dos amigos que se solidarizaram com a causa de Maria. No rastro de Valério, três novos companheiros resgatados, que passavam por situação de risco: Preto, Tilza e Suzana. Todos sem raça definida (SRD).

A dona de casa diz ser só amor por Valério. “Tem gente que pode não entender. Mas é amor. Como o que temos por nossos filhos. Valério é um filho muito querido, que veio ao mundo numa condição muito especial”, considera. O pequeno vira-lata, branco e peludo, um “falso bordee collie”, com pequenas manchinhas pretas, nasceu em 2008. Filho da velha cadela SRD Teia e do border Collie Pitt. Os olhos tristes, esvaziados de Maria de Lourdes se reacendem para falar do dia em que Valério veio ao mundo.

Begônias

“Teia era muito velha. Um dia, ela, sempre muito esfomeada, não apareceu na hora da comida. Fui vê-la e ela estava deitada com um bichinho branco debaixo dela. Pensei: ‘Engraçado… um ratinho e a Teia não reage. Não faz nada…’. Aí, fui ver e era o Valério, miudinho, lindo que só vendo”, sorri. A aposentada diz que nem podia imaginar que a cadela querida, companheira de perder a conta em anos, ainda podia ser mãe. Daí, de acordo com Maria, a deficiência auditiva de Valério.

Em casa, no muro de chapisco, a cor mais clara do cimento indica o lugar do portão por onde fugiu Valério. A dona de casa decidiu acabar com o portão menor, de entrada, para ficar apenas com a garagem, tamanho dissabor com a passagem. “Não vou nem chamar vocês para entrar. Por causa da depressão, não estou dando conta de arrumar a casa”, desculpa-se. Na varandinha em obras, alegres são as begônias coloridas em vida. Do lado de dentro, muito bem guardados, os outros “filhos” de Maria.

Fonte: Em

Você viu?

Ir para o topo