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Eu é que sou punk

2 de outubro de 2013
2 min. de leitura
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Foto: Marcio de Almeida Bueno
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Fui puk na minha juventude. Não, eu não usava aquelas roupas legais, por não ter dinheiro. Com amigas que também queriam revolucionar o mundo através de nossa personalidade, criavamos nossas próprias roupas. Trocávamos livros, e assim todos liam, e muitas vezes as minhas fitas K7 sumiam, enquanto livros acabavam ficando na minha casa, em uma troca sem muito apego.

Uma das principais ideias do movimento punk, resumidamente, é ‘faça você mesmo’. Essa autonomia foi o começo de uma estética visual-musical criativa e independente, em que qualquer um poderia criar o seu som e, com isso, sua identidade. Dentro desse movimento houve símbolos como Ramones e Sex Pistols, entre outros. Aqui no Brasil tivemos, por exemplo, o Aborto Elétrico, liderado pelo meu ídolo eterno Renato Russo. Com ele aprendi muitas coisas, além de ouvir sua voz. Também a banda Ratos de Porão, com vegetarianos e veganos entre os integrantes. Há ramificações, subculturas e estilos dentro de estilos.

Nem todo mundo é santo, nem todos são demônios, se é que ainda preciso explicar o óbvio. A ideia trouxe manifestações culturais como os fanzines, as atitudes e as roupas de Vivienne Westwood, o ‘som de fita’ – em que cada um levava sua fita K7 para as festas, e dançavam juntos, se jogando no chão, chocando-se de maneira agressiva, para quem via de fora, mas extremamente catártica. Em festas punks a gente podia dançar no meio de meninos e nunca houve grosserias ou falta de respeito.

Hoje, enquanto muitos de meus amigos se tornaram parte da máquina social, não por maldade, mas muitas vezes por necessidade, eu estou aqui. Punk ainda, com ideias que eu mesma crio e com meu próprio fazer, querendo transformar a realidade.

Dentro do movimento punk existe o straight edge, uma subcultura, se esta é a melhor palavra, onde o faça você mesmo passa pelo veganismo e pelo sexo somente com sentimento e respeito. Há também as feministas punks veganas, tal como me sonsidero, mas prefiro não pertencer a nada.

Quando olho para o mundo, vejo pseudos-‘qualquer coisa’, vejo pessoas grosseiras, fofoqueiras ou maldosas no falar, que jamais buscam saber mais, apenas impondo o pouco que sabem aos outros. Vejo ativistas se rendendo ao sistema que os quer consumindo seus produtos fabricados destinados a não-veganos, vejo mulheres se submetendo à hegemonia machista por medo da solidão. Percebo que sou ‘esquecida’ em determinados contextos – se fosse lembrada, não gostaria de estar lá – por ser justamente uma mulher de opinião e por saber que essa opinião incomoda.

Quando assisto a tudo isso, me lembro dessa minha máxima – pois eu crio minhas próprias expressões: eu é que sou punk!

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