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Pandas são explorados pela China para firmar laços políticos e econômicos

29 de setembro de 2013
4 min. de leitura
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Por Vinicius Siqueira (da Redação)

Panda movido à Edimburgo
Panda movido à Edimburgo

Estudiosos da Universidade de Oxford realizaram uma análise envolvendo as relações comerciais e diplomáticas da China, notando que desde 2008, acordos comerciais são homologados coincidentemente com os mesmos países em que, anteriormente, pandas haviam sido emprestados. As informações são do Terra.

Sendo considerado como uma política de confiança e compromisso, o empréstimo de pandas tem um valor simbólico: ele une ambos os países e significam a cumplicidade mútua entre o

s Estados. Também há uma questão tecnológica, pois os pandas são emprestados para procriação, o que é muito difícil para a espécie. Conseguir lidar com os animais e procriá-los é a prova, então, de um certo poderio tecnológico, seja na reprodução com intervenção humana direta ou não.

Os pandas são considerados pela comunidade internacional como um símbolo da preservação ambiental e ótimos garotos propaganda de qualquer país preocupado com a causa ambiental. São, nesta perspectiva, meros objetos de propaganda, instrumentos para a formação de laços políticos. Segundo os estudiosos de Oxford, um caso emblemático acontece na Escócia.

Pandas são utilizados como moeda de troca pela China.
Pandas são utilizados como moeda de troca pela China.

O que ocorre na Escócia?

Tian Tian, um panda gigante, foi emprestado para o zoológico de Edimburgo. Pela força que a imagem do Panda pode fornecer, o mundo inteiro vem acompanhando sua gestação. Kathleen Buckingham, líder da pesquisa, afirma que estes animais são enviados a um número seleto de países. Países esses que podem já ter certeza de que um laço foi, pelo menos, iniciado. “Além de facilitar a negociação de um acordo, o panda representa o início da construção de uma relação próspera e longa. Se um panda é dado a um país, pode não significar o fechamento de um negócio, mas o começo de uma relação, dado que se trata de um animal precioso e ameaçado de extinção”, diz Buckingham.

Também pode-se localizar uma questão estratégica no empréstimo de pandas. “De muitas maneiras, a China está testando a capacidade tecnológica global por meio de empréstimos de pandas. Os Estados Unidos provaram sua capacidade tecnológica para a China com o nascimento de um filho de panda em solo americano. Será que Edimburgo pode fazer o mesmo?”, explica a pesquisadora.

O panda emprestado em 2011 gerou acordos comerciais de 2,6 bilhões de libras (R$ 9,2 bilhões) para a China junto ao governo escocês. “fortalecer nossa relação trará benefícios substanciais aos dois países. Nós estamos comprometidos a trabalhar duro para aprofundar os laços existentes e estabelecer novas áreas de cooperação – uma abordagem que até agora está rendendo frutos”, disse o porta-voz do governo escocês, confirmando o caráter político e econômico do empréstimo dos pandas.

A Escócia passou, desde então, a vender salmão para a China, grande consumidora mundial, que importava boa parte de seu salmão da Noruega. Qual foi a causa de deixar os laços com a Noruega de lado? O Nobel da Paz (que é nomeado por uma comissão norueguesa) foi dado ao dissidente chinês Liu Xiaobo e isso irritou profundamente a liderança chinesa.

Austrália, Canadá e França também foram países que conseguiram empréstimos de panda e que, desde então, são fornecedores de urânio para China, possibilitando o aumento de seu poder nuclear.

Qual é o avanço para a causa animal?

Dean Cheng, da Heritage Foundation, tem uma opinião peculiar. Segundo o pesquisador, “não surpreende que a China use esse tipo de recurso a seu favor. Se isso levar à preservação dos pandas, é uma boa coisa”. Mas será mesmo que isso pode ser considerado uma coisa boa?

Preservar os pandas e, ao mesmo tempo, utilizá-los como moeda de troca ou símbolo de responsabilidade de compromisso é a mesma coisa que fabricar, em um linha de montagem, diversas mercadorias “úteis”. Se preserva a espécie, mas o estatuto do animal continua o mesmo. Na verdade, é possível afirmar que este tipo de transação não só mantém, como fortalece o estatuto animal inferior, já que ele reproduz as desigualdades promovidas por uma falsa noção de “superioridade humana” e ainda a cobre com uma suposta “preocupação” com a vida dos animais. Tudo se passa como se fosse bom para os dois lados.

Entretanto, o que se vê é que, enquanto um lado fortalece suas relações diplomáticas, econômicas e políticas, o outro continua na mesma posição. Talvez a palavra correta não seja “preservação da espécie”, mas sim “mercantilização da espécie”. Para mercantilizar é necessário reproduzir indefinidamente. É necessário que a mercadoria nunca se acabe.

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