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Ativistas contra matança de texugos são reprimidos por autoridades

27 de agosto de 2013
5 min. de leitura
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Por Patricia Tai (da Redação)

Brian May lidera ativistas contra matança de texugos no Reino Unido. Foto: Daily Mail
Brian May lidera ativistas contra matança de texugos no Reino Unido. Foto: Daily Mail

O cantor de rock e guitarrista do Queen Brian May, vice-presidente da RSPCA (Royal Society for The Prevention of Cruelty to Animals) acusou o Governo do Reino Unido de estar envolvido em uma campanha para desacreditar organizações ativistas de direitos animais, referindo-se a uma crescente guerra rancorosa de palavras divulgada na imprensa nos últimos dias com relação ao extermínio de texugos. As informações são do Daily Mail e do The Guardian.

O desenrolar do caso tem sido publicado na ANDA. Tudo começou em abril deste ano, quando o Governo do Reino Unido aprovou uma matança de texugos em massa no verão, alegando que esses animais estavam causando um surto de tuberculose bovina por contágio.

Foi quando um grupo chamado Badger Night Walkers, criado pela ONG Badger Protection League (BPL), iniciou uma campanha em defesa desses animais para tentar impedir o extermínio que já havia sido agendado. O grupo cresceu muito e teve a adesão de pessoas públicas, como o próprio Brian May, seguido pelos também músicos Slash, Shara Nelson e David Attenborough.

Desde então, o Governo do Reino Unido tem manifestado preocupação com as manifestações a favor dos texugos, e recentemente passou a sondar até o Twitter  para interceptar protestos.

Essa indisposição do Governo contra os ativistas chegou ao ápice na última semana, antecedendo o massacre dos texugos que, segundo consta, estava marcado para começar nesta segunda-feira.

Poucos dias antes do início da campanha de extermínio, os manifestantes foram acusados de assediar os fazendeiros criadores de bovinos, aos quais foi concedida uma liminar após terem reclamado de “campanha sustentada por intimidação”, alegando que vinham recebendo “chamadas inoportunas, uso de alarmes próximos a propriedades, cartas abusivas e um ataque incendiário”.

Um fazendeiro chegou a afirmar que seu filho de cinco anos de idade ficou “profundamente traumatizado” ao ter se deparado com um grupo de aproximadamente cinquenta ativistas.

Vários ataques foram lançados contra os manifestantes, e houve sugestões em redes sociais de que eles usariam lanternas de alta potência para interromper a matança dos texugos.

Como resultado, um juiz concedeu uma liminar restringindo ações de ativistas dentro das áreas onde ocorrerá o extermínio. A ordem proíbe entrada de manifestantes em propriedades sem consentimento e restringe as ações dos manifestantes de todas as formas, sob ameaça de sérias punições.

Uma vez que a matança abrange áreas de Gloucestershire e Somerset, levantou-se a dúvida se será possível efetivamente cumprir a liminar. Peter Kendall, presidente da União Nacional dos Fazendeiros, acolheu a liminar e disse que ela não representa “uma tentativa de parar com os protestos legítimos”.

Jay Tiernan, que foi nomeado como representante do grupo ativista, disse ao Daily Mail na sexta-feira que ele não aceita assédio ilegal por parte dos manifestantes, mas também afirmou que a liminar não irá interromper os protestos.

“Nós certamente queremos reduzir o número de fazendeiros envolvidos. Por outro lado, nós somos realmente ‘chatos’. Nós usaremos toda letra possível da legislação para fazer da vida deles um inferno”, disse ele.

Mark Jones, veterinário e diretor executivo da Humane Society Internacional do Reino Unido declarou: “Nosso protesto pode ser mal visto e desconfortável para os fazendeiros, mas nosso direito fundamental de fazê-lo deve ser salvaguardado”.

No entanto, a promessa de repressão do Governo já começou a se fazer cumprir:  Jay Tiernan foi preso próximo ao Departamento de Meio Ambiente na tarde de segunda-feira, acusado de invasão de área proibida e de “atitude suspeita”.

Mesmo assim, centenas de ativistas estão preparando vários tipos de ação direta em locais estratégicos e planejam fazer tudo o que estiver ao seu alcance para impedir a matança dos animais.

“Tudo por dinheiro e poder”

Brian May, em entrevista ao The Guardian, afirmou que as autoridades estão usando a mídia para difundir uma propaganda contra os ativistas, no sentido de dar suporte ao controverso esquema da matança dos animais.

Ele disse que a maior organização de bem-estar animal britânica tem estado sob pressão crescente de críticos que não perdoam a ONG pelo seu sucesso em uma recente campanha contra caça a raposas. “A atual campanha contra a RSPCA é escandalosa”, disse ele. “É tudo por dinheiro e poder, interesses enrustidos, acordos e votos secretos”, complementou o músico.

Milhares de texugos serão mortos sob pretexto de conter tuberculose bovina. Foto: Reprodução
Milhares de texugos serão mortos sob pretexto de transmitirem tuberculose a bovinos. Foto: Reprodução

O massacre dos texugos deveria ter começado na tarde do dia 26 de Agosto em áreas piloto do oeste de Somerset e Gloucestershire, porém o clima tenso devido aos protestos está adiando o início.  A fase “piloto” de matança deverá ocorrer em seis semanas, quando mais de 5 mil texugos serão mortos a tiros como parte do programa controverso que promete reduzir a disseminação de tuberculose em bovinos, pois as autoridades e os fazendeiros argumentam erroneamente que a culpa pela contaminação seja dos texugos. A petição online disparada por Brian May contra a matança dos animais atingiu cerca de 263 mil assinaturas.

“Nós vamos lutar pacífica e decentemente, mesmo que o outro lado se comporte de modo vil”, disse Brian, que fundou o grupo Save Me em 2010, com o qual fez inúmeras campanhas contra crueldade a animais e várias outras causas sociais.

Nota da redação:

Este é mais um caso a ilustrar a morte em cadeia que resulta da criação de bovinos para consumo humano. A equação é simples: bois e vacas confinados por tempo breve antes de serem mortos para alimentação humana adquirem doenças; texugos são responsabilizados por transmitir a doença e disseminá-la. A solução levantada pelas autoridades é matá-los a tiros e a céu aberto, aos milhares. Ativistas se mobilizam para defendê-los, e são sumariamente reprimidos.

Dados os interesses econômicos envolvidos, chega-se à triste conclusão de que o massacre realmente ocorrerá.

Enquanto houver consumo de carne pela humanidade, cenas como estas e inúmeros outros absurdos continuarão ocorrendo.

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