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Maior população de borboleta azul da Europa concentra-se no Parque Natural do Alvão

8 de agosto de 2013
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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A borboleta azul tem vindo a crescer no norte de Portugal, ao contrário do que se passa no resto da Europa, onde esta espécie rara está ameaçada de extinção, revela o relatório do Programa de Preservação da Biodiversidade de Vila Real, através do Projecto “Proteger é Conhecer”, uma parceria desenvolvida nos últimos três anos entre a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e a Câmara Municipal, especialmente no Parque Natural do Alvão, no concelho de Vila Real.

Conhecida como Maculinea alcon, a borboleta azul é classificada, desde 1983, como “espécie vulnerável” e, desde 1994, considerada em “perigo de extinção”, figurando inclusive no Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas (IUCN-The World Conservation Union). Na Holanda e no Reino Unido, por exemplo, a espécie teve de ser reintroduzida.

Através de acções de monitorização e estudos de diversos aspectos da bioecologia da espécie, a equipa da UTAD, coordenada pela investigadora e entomologista Paula Arnaldo, conseguiu verificar, por exemplo, que ao contrário do que revela a bibliografia disponível, em Portugal a borboleta azul chega a viver até 12 dias, ao invés dos 8 dias conhecidos. Conseguiu ainda descobrir-se que esta borboleta prefere as flores fechadas de genciana para fazer as posturas e que cerca de 65 por cento dos ovos colocados conseguem ser bem sucedidos.

O estudo realizado mostra também que a borboleta azul vive em lameiros e turfeiras com matos húmidos de tojo e urze-pelada, pastoreados frequentemente.

“Portugal é uma região periférica e não havia nada em termos de conhecimento científico”, explica a entomologista, “por isso este projecto de investigação permitiu-nos trazer uma série de novidades sobre a espécie, indo mais além do que está registado, como por exemplo: quantas borboletas voam, quantos ovos põem, qual a formiga que a transporta…”

Através da técnica de captura e recaptura e o uso de uma rede borboleteira, sem qualquer dano para as borboletas e conforme critérios ambientais, a equipa conseguiu numerá-las e, assim, perceber, por exemplo, os hábitos, distância de voo, diferenças entre machos e fêmeas. Desta forma constataram que, em 2006, havia 294 borboletas, em 2011, no mesmo lameiro, voaram 3200 borboletas azuis e, em 2012, o número total da população ultrapassou as 5000 borboletas azuis.

Este trabalho de investigação tem servido de base a vários projectos de fim de curso e dissertações de mestrado quer de alunos da UTAD quer de vários países europeus, nomeadamente Holanda, Bélgica e França, e ainda de voluntários do Reino Unido que todos os anos dão o seu contributo entusiástico à preservação da borboleta azul.

Como a borboleta azul engana as formigas

Delicada e do tamanho de uma folha de trevo, a borboleta azul depende de formigas do género Myrmica para sobreviver. “O fato de a formiga que hospeda a borboleta azul ser única na Europa e no mundo” foi outro dado novo que a investigação permitiu conhecer, comenta Paula Seixas Arnaldo.

A relação entre estas duas espécies raras começa com uma “sedução química”, acrescenta Paula Arnaldo, quando a borboleta azul liberta um odor parecido com o das formigas, enganando-as e, por isso, levando-as a recolher as larvas de borboleta, que entretanto caíram no solo, e que pensam ser suas crias, transportando-as para o formigueiro, onde são alimentadas.

“O início do ciclo biológico da borboleta azul ocorre em Julho e Agosto, com o voo e consequente acasalamento das borboletas. Após o acasalamento, as fêmeas dirigem-se para as cápsulas florais de uma planta específica, a genciana, e aí colocam os ovos. Cada fêmea põe, em média, 60 ovos em grupos de três a quatro em cada planta. O desenvolvimento embrionário ocorre durante, aproximadamente, três semanas, período após o qual, se dá a eclosão das pequenas lagartas que começam, imediatamente, a alimentar-se. Nesta fase, as lagartas são fitófagas e alimentam-se dos tecidos vegetais que constituem o ovário das flores de genciana, onde se alojam até atingirem o terceiro estado de desenvolvimento larvar. E é a partir daqui que mudam o seu comportamento e se tornam mirmecófilas. Como? Quando atingem a fase final do terceiro estado de desenvolvimento larvar, abrem um orifício de saída na zona do cálice da flor e deixam-se cair no solo, onde esperam, até serem adoptadas por formigas do género Myrmica”, conta a investigadora.

“É importante que sejam encontradas o mais rápido possível depois de saírem da planta, uma vez que, com o passar do tempo, diminuem as hipóteses de serem adoptadas e levadas para o formigueiro”, acrescenta e conclui que “nos formigueiros, onde passam cerca de onze meses até completarem o desenvolvimento, as larvas de borboleta são tratadas e acarinhadas como larvas de formigas, em troca das substâncias doces que produzem. No início do verão, terminam o seu desenvolvimento larvar e transformam-se em pupa ainda dentro do formigueiro. O adulto surge cerca de um mês depois. Nesta fase perde as capacidades de “camuflagem” e tem de abandonar rapidamente o formigueiro para impedir que as formigas o matem, deixando assim o formigueiro ainda antes de expandir as asas.”

*Esta notícia é original de Portugal e foi mantida em seus padrões linguísticos e ortográficos, em respeito a nossos leitores portugueses

Fonte: Notícias de Vila Real

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