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Hipopótamo explorado por circo morre sem cuidados

22 de julho de 2013
5 min. de leitura
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Por Patricia Tai (da Redação)

Raja, sendo retirado do rio por moradores. (Foto: Special Arrangemen/The Hindu)
Raja, sendo retirado do rio por moradores. (Foto: Special Arrangemen/The Hindu)

Um hipopótamo foi explorado para entreter multidões em tendas de circo ao longo de toda a sua vida. No final, ele travou uma batalha quase solitária para tentar manter-se vivo.

A batalha foi a última, pois ele não teve ajuda suficiente para que pudesse sobreviver. As informações são do Times of India e do The Hindu.

O hipopótamo Raja, de 45 anos, era explorado pelo circo Gemini desde jovem e há alguns meses, devido a uma lesão em sua perna, fora deixado pelo circo em uma fazenda de café em Ramagiri, de sua propriedade.

O destino de Raja pareceu caminhar para o fim na tarde do dia 03 de julho. O animal fez uma aparição dramática por volta das 17h desse dia em Varayal, próximo a Mananthavady. Residentes locais disseram ter visto o animal com aparência fraca, machucado e cansado, adentrando no rio Varayal.

Embora animais selvagens tenham aparecido muitas vezes na área, foi a primeira vez que os moradores afirmaram ter encontrado um hipopótamo em sua localidade. À noite, eles viram “uma enorme massa boiando no rio. Acreditaram que seria alguma vaca, bezerro ou elefante afogado. Mas não, era Raja, ele estava vivo e olhando para cima”, segundo a reportagem do Times of India.

Funcionários florestais, liderados por A. Shanavas, Diretor de Floresta Divisional de Wayanad, correram até o local após terem sido informados da descoberta. Nesse meio tempo, funcionários da fazenda do circo Gemini também se deslocaram para lá.

O animal passou a noite no rio. Depois de um calvário de sete horas, as autoridades conseguiram puxar Raja para fora do rio com a ajuda de moradores, na quinta-feira de manhã.

Apesar de ferido na perna, espectadores disseram que ele havia nadado cerca de 2 km.

Após ter sido retirado do rio, o hipopótamo conseguiu andar por aproximadamente 300 metros, puxado com uma corda pelas pessoas, mas caiu quando chegou à estrada, e não foi mais capaz de se levantar.

Ele permaneceu na beira da estrada Manathavady-Thalassery agonizando, durante todo o dia. Os moradores reclamaram que o animal não recebeu ajuda ou alimentação adequada.

Funcionários do departamento de florestas de Wayanad alegaram que não poderiam intervir para retirá-lo da estrada, pois o hipopótamo não estaria sob a alçada da Lei de Vida Selvagem da Índia. Um funcionário declarou, sob a condição de anonimato, que seu departamento estava de mãos atadas, e que não teriam equipamentos e veículos necessários ao transporte do animal.

Autoridades enviaram alguns policiais ao local para garantir a fluidez do tráfego de veículos. Um veterinário visitou o animal e saiu logo depois de inspecioná-lo, conforme relatos de moradores.

Quando perguntado sobre o hipopótamo deitado na estrada asfaltada por longas horas, o Dr. TS Rajiv, professor assistente na Faculdade de Veterinária de Thrissur mostrou-se alarmado:

“Ele deve ser levado imediatamente para um local aquático. Isto é importante porque o hipopótamo deve submergir em água para manter a sua temperatura corporal em condições normais. Deve ser dada ao animal uma dieta de batata e de folhas de couve, para saciar a sua fome. Ele deve ser transferido imediatamente do local e levado para reabilitação”, disse ele.

Na manhã de quinta-feira, o circo informou que enviaria um guindaste de Kannur para levantar o animal. Um manipulador do circo foi ao local, onde teria dito aos moradores que o animal tinha 14 anos de idade. Hipopótamos normalmente vivem 40 a 50 anos. Mas na realidade, Raja tinha 45 anos.

Às 23h30 da quinta-feira, ainda deitado na estrada, abatido pela fraqueza, pelo calor, provavelmente com sede e fome, Raja morreu.

Sem resgate, sem cuidados, sem dignidade.

Uma equipe de veterinários deu início a uma autópsia para determinar a causa da morte, mas o resultado ainda não foi divulgado.

Repercussões do caso

A morte de Raja reacendeu as discussões sobre a proibição de exploração de animais por circos na Índia.

A Federação de Organizações de Proteção Animal da Índia (FIAPO) lançou um apelo para a cúpula de bem-estar animal indiana e ao Ministério de Meio Ambiente e Florestas (MoEF), pedindo alterações na atual Lei de Prevenção à Crueldade aos Animais no sentido de estender a proteção a animais que são explorados em circos por todo o país.

Um porta voz da FIAPO disse: “Animais em circos são sujeitos a condições miseráveis, e forçados a realizar performances contra a sua natureza, além de serem mantidos acorrentados ou amarrados, em jaulas pequenas, e sem acesso a cuidados veterinários. Nós imploramos às autoridades que tomem medidas contra o Gemini por ter causado a morte do hipopótamo devido à negligência, bem como apelamos para que os animais atualmente mantidos presos pelo Gemini sejam resgatados e reabilitados”.

Nos anos 90, a Suprema Corte da Índia baniu o uso de animais selvagens por circos, assumindo o abuso desses animais pela indústria do entretenimento. Mas a proibição não foi e não é respeitada.

Wayanad Prakruthi, um ativista ambientalista indiano, apela para que as autoridades tomem providências contra os donos do circo, com base na Lei de Prevenção à Crueldade aos Animais de 1979.

O Juiz N.D. Mathes disse que medidas serão tomadas contra os tutores do animal após o resultado da autópsia, se eles forem considerados culpados.

A espécie dos hipopótamos é classificada como “vulnerável” na lista de espécies em extinção da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). A instituição estima que nos últimos dez anos tenha havido um declínio de 7 a 20% nas populações de hipopótamos na natureza.

Nota da Redação: Assim termina a história de mais um animal explorado pelos circos, que infelizmente vai se somar a tantas outras histórias de animais que foram retirados da natureza e abusados por toda a sua vida em nome de um suposto entretenimento humano e, quando mais velhos, doentes e cansados de tantos maus-tratos, são abandonados à própria sorte, morrendo sem cuidados.

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