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Direitos humanos e direitos animais: uma combinação perfeita

30 de julho de 2013
4 min. de leitura
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Caros(as) colegas:

“Há problemas humanos demais no mundo; precisamos resolvê-los primeiro e só pensar nos animais depois”.

“Primeiro vamos lutar pela paz mundial; depois podemos lutar pelos direitos animais”.

Qualquer pessoa que esteja envolvida na defesa animal frequentemente se depara com esses comentários e outros semelhantes. Muita gente me pergunta que resposta eu dou a esses comentários.

Primeiro de tudo, ninguém está dizendo que quem está engajado na defesa dos  direitos humanos deveria desistir e se engajar na defesa dos direitos animais. Em vez disso, a ideia é que, se aceitamos que os animais são membros da comunidade moral, então devemos parar de comê-los, de usar roupas e sapatos feitos a partir deles, de consumi-los em nossa vida pessoal. Tornar-se vegano não requer que você pare de defender crianças abusadas ou mulheres vítimas de espancamento, nem que você abandone sua militância contra a guerra.

Depois de uma palestra sobre direitos animais que eu dei num centro comunitário, uma mulher veio falar comigo e me informou que era voluntária do centro de atendimento a vítimas de estupro e mulheres espancadas. Disse que era muito favorável a tudo que eu tinha para dizer sobre os animais, mas que estava totalmente ocupada com seu trabalho em prol das mulheres e não sabia como achar tempo para se envolver com os direitos animais.

Eu lhe perguntei: “Você tem tempo para comer, não tem?”

Ela respondeu: “Claro que sim!”

“Você usa roupas, xampus e outros produtos?”

“Sim, claro. Mas o que isso tem a ver com o assunto?”

Tem tudo a ver. Eu lhe expliquei que, se ela realmente levasse a questão animal a sério, tudo que ela precisaria fazer seria parar de consumir animais como comida e vestuário, parar de usar produtos que contivessem animais ou fossem testados neles, e parar de frequentar qualquer tipo de entretenimento que os utilizasse. Se ela nunca fizesse mais nada quanto à questão animal, o ato de se tornar vegana e o exemplo que ela estaria dando aos amigos e à família constituiriam, eles próprios, importantes formas de ativismo que de modo algum interfeririam com seu trabalho em defesa das mulheres.Tornar-se um defensor da abolição é algo que você pode fazer na sua próxima refeição.

Segundo, é um erro achar que as questões da exploração humana e da exploração animal sejam mutuamente excludentes. Ao contrário, todas as formas de exploração estão inextricavelmente ligadas. Toda exploração é uma manifestação da violência. Toda discriminação é uma manifestação da violência. Enquanto tolerarmos qualquer tipo de violência, haverá todo tipo de violência.

Conforme observou o romancista Leon Tolstói: “Enquanto houver matadouros, haverá campos de batalha”.

É claro que Tolstói estava absolutamente certo. Enquanto nós, os humanos, considerarmos normal matar animais para comida, não tendo nenhuma justificativa para isso, a não ser o prazer frívolo que obtemos ao comer ou usar animais, nós consideraremos normal fazer uso da violência quando acharmos que algo mais importante está em jogo.

E o inverso também vale: enquanto tolerarmos o racismo, o sexismo, o heterossexismo e outras formas de discriminação, haverá especismo. Por esta e outras razões, uma coisa importante é que os defensores dos animais nunca deveriam se ver como ativistas “de um tema só”. O especismo é moralmente objetável porque, como o racismo, o sexismo e outras formas de discriminação, exclui os seres do escopo da preocupação moral, com base num critério irrelevante. Não faz a menor diferença se esse critério irrelevante é a raça, o sexo, a orientação sexual ou a espécie. Não podemos dizer, sensatamente, que nos opomos ao especismo mas apoiamos, ou não temos nenhuma posição sobre, outras formas de discriminação. Somos contra o especismo porque o especismo é como o racismo, o sexismo e outras formas de discriminação. Nossa oposição ao especismo implica, de maneira lógica, uma rejeição a essas outras formas de discriminação.

De novo: isso não significa que os defensores dos animais devem parar de trabalhar pelos animais e se tornar defensores dos direitos humanos. Significa, no entanto, que eles devem sempre deixar claro, para as outras pessoas, que eles se opõem a todas as formas de discriminação–e eles não devem jamais praticar a discriminação em sua vida pessoal.

Terceiro, muitas pessoas altruístas querem mudar o mundo, o que é admirável, mas elas não veem que a mudança mais importante ocorre a partir do indivíduo. Como dizia Mahatma Gandhi: “Você precisa ser a mudança que quer ver no mundo”. Se você quer um mundo não-violento, precisa abraçar a não-violência na sua própria vida. O veganismo é um importante componente de uma vida não-violenta, já que, sem sombra dúvida, toda comida de origem animal e todos os outros produtos feitos com a exploração animal são resultados da violência.

Outra boa frase de Tolstói: “Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si próprio”.

© Gary L. Francione

© Tradução: Regina Rheda © 2009 Ediciones Ánima
Texto pertencente ao Blog pessoal de Gary Francione

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