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Captação de gás natural e petróleo pode causar alterações na vida dos animais do entorno

29 de julho de 2013
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Prospecção deverá ocorrer a cerca de 200km da costa, próximo ao canal da Lagoa dos Patos (Foto: Nauro Júnior / Agencia RBS)
Prospecção deverá ocorrer a cerca de 200km da costa, próximo ao canal da Lagoa dos Patos (Foto: Nauro Júnior / Agencia RBS)

Ainda não se sabe se existe ou não petróleo e gás natural no Rio Grande do Sul, mas especialistas já conseguem prever quais serão os impactos na natureza de apenas descobrir se as duas substâncias existem nas águas gaúchas.

Isso porque a única maneira de descobrir é perfurar o solo marinho. E como isso envolve grande risco — até de eventual vazamento de óleo no mar — antes de conceder licença ambiental para fazer esse “teste”, é preciso ter estudos que demonstrem os possíveis impactos durante o teste e a produção.

Na tarde deste sábado (27), o resultado dos estudos foram apresentados à sociedade em uma audiência pública no auditório do Cidec-Sul, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg).

O poço está no Bloco BM-P-02 e foi apelidado de Guarani. Fica localizado praticamente em frente a São José do Norte, próximo à entrada do canal da Lagoa dos Patos no Oceano Atlântico, a cerca de 200 quilômetros da costa.

No local, os planos da Petrobras são que uma embarcação de 335 metros por 298 metros fique na superfície enquanto uma sonda, uma espécie de sequência de tubos com 1 metro de diâmetro desça da embarcação até onde estaria o material, escavando o solo marinho por 7,2 mil metros de profundidade.

O trabalho, que pode começar em setembro, duraria cerca de seis meses. Os principais impactos ambientais seriam alterações na vida dos animais do entorno:

“Os animais podem ser atraídos ou fugir do local em função do ruído da operação e dos equipamentos”, ensina o coordenador de exploração de petróleo e gás do IBAMA, Fernando Galheigo.

Outras alterações que poderiam ocorrem seriam mudanças na qualidade da água e dos sedimentos que são retirados ao fazer a perfuração. Isso porque para fazer a perfuração, se utiliza fluídos, que em algumas etapas não são naturais. Segundo a consultora responsável por diminuição dos impactos, para minimizar os efeitos, o ideal é usar fluídos com toxicidade dentro dos padrões permitidos e dar destinação correta ao material retirado das águas. Por exemplo, os cascalhos, antes de retornarem ao mar, devem ser secos e limpos de possíveis toxidades.

Com relação ao maior risco, que é o vazamento de gás, foram feitos 2,1 mil simulações:

“Constatamos que o risco do eventual vazamento chegar à costa é de 1%. E, mesmo que chegue, será em concentrações baixas. E, dentro desse 1%, na pior situação, o óleo chegaria na costa somente 45 dias depois”, explica o oceanógrafo da Prooceano, Francisco dos Santos.

Para que a operação seja colocada em prática, é necessário que haja licenciamento ambiental. Galheigo lembra que já houve recusas desse tipo de licenciamento, mas em situações diferentes:

“Geralmente é negado quando fica em uma área muito sensível, próximo a corais, por exemplo, ou que um possível vazamento chegaria muito rápido à costa, ou ainda uma área de grande turismo, em que a operação poderia influenciar negativamente. Por isso, escutamos a sociedade antes para que avaliemos o impacto na sociedade.”

Segundo o gerente geral de exploração da Petrobras, Jeferson Dias, o impacto para o Estado não seria sentido durante esses seis meses de exploração, pois seria uma época apenas de testes e a equipe de 138 pessoas já está formada, portanto não demandaria mão de obra local.

“O maior impacto para o Estado é sentido depois, caso se encontre gás ou petróleo e seja economicamente viável”, avalia.

O poço será o décimo posto a ser perfurado na chamada Bacia de Pelotas, uma área de 210 mil km quadrados que vai de Florianópolis até o Uruguai. Nos outros nove, até hoje, não foi encontrado petróleo. Porém a Petrobras tem expectativa diferente neste poço pelos estudos sísmicos feitos.

Estudos sísmicos, grosso modo, seriam uma espécie de ultrassom da terra. As camadas são analisadas, mas a confirmação da presença ou não de petróleo só é possível com a perfuração, uma vez que inexistem formas de comprovação apenas por imagens. Os índices internacionais nas buscas ficam entre 20% e 30% de acerto. Assim, a cada 10 poços escavados, apenas dois ou três possuem petróleo. No Brasil, o ponto mais ao sul a ter petróleo prospectado é na Bacia de Santos, no sul do estado de São Paulo.

A audiência pública começou às 14h30 e reuniu mais de 45 instituições gaúchas e catarinenses.

Fonte: Diário Gaucho

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