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Os chimpanzés sabem perdoar?

6 de junho de 2013
3 min. de leitura
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Foto: Divulgação
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Se esta pergunta for colocada a uma variedade de pessoas, estaremos surpresos com os diversos tipos de respostas. Aqueles que não aceitam – por preconceitos – que os chimpanzés são quase humanos, vão responder “não”.

Dias atrás aconteceu um episódio no Santuário de Sorocaba que responde com clareza a pergunta colocada no título desta matéria.

O chimpanzé Felipe – mais conhecido como Pinho ou Felipinho – morou uma grande parte de sua vida no extinto Circo Garcia. Lá ele foi brutalizado como ninguém para dominarem sua personalidade rebelde. Entre outras coisas absurdas, era amarrado e golpeado com uma barra sólida até que fazia suas necessidades, devido ao terror que lhe era imposto.

Pinho tinha que odiar os humanos, nunca achou nada de bom naquela espécie que o dominou a vida toda. Ele morava numa jaula, na carreta do Circo, e o amor de sua vida, a chimpanzé Nega, morava ao lado. Eles copulavam pela grade e Nega teve vários filhos, que depois lhe foram roubados e aqueles ainda vivos estão nos Santuários, sem que eles saibam disso.

Quando o Circo Garcia fechou, 14 chimpanzés que ainda tinham foram transferidos para pequenos recintos construídos numa propriedade rural em Vargem Grande Paulista. Quando a dona do Circo adoeceu, passamos a tomar conta da manutenção da propriedade e dos chimpanzés. Naquela época, o tratador René Nascimento, que trabalha conosco há mais de 10 anos, foi enviado para lá a fim de cuidar dos chimpanzés. Durante um ano René morou lá e só voltava à Sorocaba uma vez por semana para ver sua esposa, que também é tratadora no Santuário.

Foto: Divulgação
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Pinho o conheceu naquela época. Quando compramos a propriedade e os chimpanzés, devido à morte da dona do Circo, René voltou com eles para Sorocaba. Pinho e Nega então conseguiram viver juntos, sem separação de grades, porém, nunca mais copularam nem tiveram bebês. Pinho continua adorando a Nega, mas sem intimidades.

Quando Pinho chegou era totalmente selvagem, batia nas portas, destruiu algumas, era o terror de todos, já que era sumamente agressivo. A carga de ódio que ele trazia em sua alma pela brutalização a que foi submetido, assim se manifestava. Meses após meses, anos após anos, o seu ódio foi enfraquecendo e começou a apreciar os humanos que aqui o tratavam e eram diferentes daqueles que no Circo o assediavam. René, que o acompanhou praticamente do Circo até o Santuário, era sua pessoa de maior confiança, mas sempre mantinha certa distância.

Dias atrás, Pinho teve um gesto final, mostrando que o ódio ante os humanos estava sepultado em sua alma. Pinho estava com duas pinhas (fruta que ele tem especial preferência). Quando René se aproximou para cumprimentá-lo, Pinho lhe ofereceu uma delas, como um reconhecimento por tê-lo tratado como um igual todos estes anos, diferente dos humanos que ele conhecia. René aceitou a fruta e a comeu em sua presença, agradecendo-lhe com um aperto de mãos.

Esta cena prova que apesar de toda a violência que os humanos têm exercido contra os chimpanzés, ainda existe, no coração e na alma destes extraordinários seres, uma reserva de compaixão para perdoar a espécie que praticamente a extinguiu da face da Terra.

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