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Empresária que resgatou 60 cães abandonados no Paraná fala sobre solidariedade

10 de junho de 2013
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Atualmente o casal concentra cerca de 60 cães recolhidos das ruas de Curitiba e Região (Foto: Adriana Justi / G1)
Atualmente o casal concentra cerca de 60 cães recolhidos das ruas de Curitiba e Região (Foto: Adriana Justi / G1)

“Eles não falam, mas a gente vê pelo olhar que estão pedindo ajuda”, afirma a empresária Maria Luíza Irigon Saltini, que resgata e cuida de animais de Curitiba e Região há cinco anos. Atualmente, ela concentra cerca de 60 cães na chácara onde mora, em Piraquara, na Região Metropolitana. Com a ajuda do marido aposentado Ricardo Saltini, os animais recolhidos recebem alimentação, cuidados veterinários e depois são levados para adoção em uma feira comunitária de Curitiba.

“Nós fazemos a nossa parte. Eu não consigo ver os animais em situações de implorar por um alimento ou de até em estado terminal e não ajudar. E acho que se todos fizessem um pouco, a gente não teria tantos animais abandonados nas ruas”, conta a empresária. Os animais acolhidos são de pequeno à grande porte e a maior parte deles é SRD.

Foto mostra uma das cadelas quando recolhida e depois de tratada pelo casal (Foto: Arquivo pessoal )
Foto mostra uma das cadelas quando recolhida e depois de tratada pelo casal (Foto: Arquivo pessoal )

“Não é fácil. Nós deixamos de fazer muita coisa para cuidar deles, mas eu tenho a consciência que estamos fazendo a diferença. Sinto compaixão pelo sofrimento deles. E não tenho medo porque sei que eles são indefesos e que precisam realmente de ajuda. Sem contar que o amor que eles nos dão em troca, não tem dinheiro que pague”, enfatiza Maria Luiza. Ao ser questionada sobre até quando ela pretende continuar com a ação solidária, ela não hesita em responder. “Até quando Deus me permitir ter saúde para continuar”.

O casal começou a se dedicar aos cuidados com os cães após a mudança de um apartamento no bairro Centro Cívico, em Curitiba, para a chácara. “Antes eu não recolhia os bichinhos porque realmente não tinha espaço para mantê-los. Mas depois que nos mudamos, eu percebi que o problema já não era mais o espaço e comecei a ter uma noção da quantidade que era abandonada todos os dias. Tudo começou com um cão que tinha acabado de ser atropelado por uma motocicleta”, lembra a empresária.

“Eu vi que as pessoas olhavam o sofrimento dele, mas não faziam nada e a situação me tocou muito. Aí eu peguei, levei para o veterinário e deixei por uma semana. Quando o veterinário me disse que ele ia receber alta eu fiquei perdida e não sabia o que fazer”, brinca Maria Luiza. Ela disse que a única opção foi acolhê-lo em casa. Com o tempo, outras situações começaram a aparecer e a quantidade de animais foi aumentando.

“Aí eu comecei a me interessar mais pelo assunto, a trocar ideias com pessoas que faziam a mesma coisa e quando eu me dei conta, já estava com os 60 aqui”, argumenta.

A empresária destacou que foram várias situações que a levaram a recolher os bichos. “Eu via eles sendo abandonados pelas pessoas, sei lá, que talvez achassem que eles não teriam mais serventia. Também encontrava muitos deles mutilados, com fome, com frio, enfim, qualquer pessoa poderia perceber que precisava de ajuda”.

Todos os custos para manter os animais, como os 750 quilos de ração mensais e os tratamentos veterinários, são mantidos pelo casal. “Nós buscamos parceiros para tentar um preço melhor ou até mesmo ajuda com remédios e tratamentos, mas o valor final sai mesmo do nosso orçamento. Nosso retorno final é ver a alegria de quem adota e o olhar de felicidade de cada um dos animais ao ganhar uma nova família. Além disso, nós gostamos mesmo dos animais, eles realmente são os melhores amigos que qualquer humano poderia ter”, avalia o marido Ricardo, que é responsável pela limpeza e cuidado diários dos animais. Ele conta que todos os dias acorda cedo e que praticamente o dia todo se dedica aos cães.

Todos os cães tem nome e vivem soltos em três espaços diferentes na chácara (Foto: Adriana Justi / G1)
Todos os cães tem nome e vivem soltos em três espaços diferentes na chácara (Foto: Adriana Justi / G1)


Adoção

Os animais cuidados pelo casal são levados para adoção todos os fins de semana na feira comunitária do Centro Cívico. O local reúne várias pessoas com o mesmo objetivo – conseguir um tutor para os animais abandonados. “Nós levamos normalmente três animais para adoção por vez. E graças a Deus sempre tem muitas pessoas interessadas. O problema é que a maioria deles prefere filhotes e eu tenho mais cães adultos. Normalmente eu volto com dois ou apenas um pra casa. Mas tem dias que volto com quatro ou mais”, brinca. Ela justifica e diz que sempre encontra mais um pelo caminho ou até mesmo na própria feira.

Animais são levados para doação todos os fins se semana no Centro Cívico (Foto: Adriana Justi / G1)
Animais são levados para doação todos os fins se semana no Centro Cívico (Foto: Adriana Justi / G1)

Os critérios para adoção são rigorosos, explica Maria Luiza. “Nós avaliamos tanto os animais, já que convivemos com eles e sabemos como eles são, quanto os tutores. Temos que ter certeza que eles tem condições para cuidar dos bichinhos e se realmente querem tê-los com amor e carinho”.

Acolhimento

A assessora pedagógica Juliana Wolff, de 34 anos, tem uma cadela adotada de uma feira comunitária e conta que a adaptação foi imediata. “Como ela já convivia em um espaço com outros cães, se deu muito bem com o meu cachorro. Ela é muito ativa, brincalhona, uma moleca”, conta Juliana. A cadela, batizada de “Dorinha”, foi adotada castrada e com a vacinação em dia.

Rodolfo Amaral preferiu adotar uma gata. O animal foi resgatado recentemente das ruas por uma amiga e oferecido a ele. “Adotei porque amo animais e porque me sinto constantemente em débito com a mãe natureza. Respeitar os animais e ajudar os bichinhos que mais precisam é o mínimo que posso fazer”, declara. O animal foi batizado de “vírgula”.

Ações da Prefeitura Municipal de Curitiba

Procurada pela redação, a gerente do Departamento de Pesquisa e Conservação da fauna da secretaria de Meio Ambiente, Vivien Morikawa, disse que existem alguns projetos para ajudar a retirar os cães abandonados da rua, mas que a maior parcela de responsabilidade é da população.

“Esses cães geralmente estão na rua por falta de educação da população. São animais semi-domiciliares, que têm tutor, mas as pessoas permitem ficar na rua”, afirma a secretária. Sobre os projetos, ela explica sobre o recolhimento seletivo, que é realizado pela Secretaria de Saúde. “Esse serviço é realizado em caso de animais que provocam risco por ser agressivos ou em casos de doenças”.

“Existem também algumas ações que estão sendo realizadas, como o projeto Veterinário Mirim, onde os professores serão capacitados para orientar os alunos sobre os cuidados com os animais, principalmente em ter uma guarda responsável, e uma campanha de cirurgia de castração de cães, destinado inicialmente para famílias de baixa-renda. O objetivo é castrar 6 mil cães em um ano”, acrescenta.

Um levantamento mostra que atualmente em Curitiba vivem mais de 450 mil cães. Denúncias sobre maus-tratos devem ser feitas através do 156.

Fonte: G1

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